Edição 240
Para enfrentar a queda da taxa de juros reais e seus efeitos sobre a meta atuarial, a Fundação Petrobras de Seguridade Social (Petros) decidiu ampliar a diversificação de seus investimentos. A segunda maior entidade fechada de previdência complementar privada do País tem buscado reduzir as posições em renda fixa e abrir espaço para investimentos em ações, imóveis e participações de capital – diretas ou através de fundos. Embora as aplicações nestes últimos representem uma parte pequena dos ativos, elas registraram forte crescimento nos últimos três anos.
Dos R$ 60,9 bilhões do patrimônio total Petros (na posição de maio de 2012), 50,75% estão aplicados em papéis de renda fixa, sendo a maior parte (30,86%) em títulos públicos. Comparado com a posição de 2010, o porcentual alocado em renda fixa caiu 2,46%. De acordo com a fundação, a diminuição ocorreu pela maior diversificação dos investimentos.
O esforço de diversificação também levou a Petros à redução substancial de suas posições em títulos de renda fixa de crédito – como debêntures, Letras Hipotecárias, Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI), Certificado de Depósito Bancário (CDB) e Certificado de Crédito Bancário (CCB), dentre outros. A posição na carteira da fundação desse tipo de ativo caiu de 7% para 6,06%. O mesmo ocorreu com fundos de investimentos – na grande maioria lastreados em títulos públicos – que deixaram de representar 17,57% em 2010 para 13,83% em 2012 (veja tabela).
A segunda maior posição é a da carteira de ações, que concentra 35,73% dos recursos. Utilizando o mesmo período de comparação (2010-2012) houve diminuição de 0,58% do porcentual de participação no total da carteira. A instabilidade da bolsa de valores refletindo as incertezas geradas pela crise financeira internacional explica a maior parte dessa queda.
Já os investimentos estruturados, imóveis e empréstimos a participantes seguiram outro rumo. Os estruturados passaram de 5,55% para 6,45%, enquanto a posição em imóveis saltou de 2,74% para 4,24% e os empréstimos saíram de 2,19 para 2,83%.
“Com a expectativa da manutenção da taxa básica de juros no longo prazo em patamares abaixo das necessidades de retorno dos planos, a ampliação e diversificação dos investimentos são necessárias”, afirma o diretor de investimentos da Petros, Carlos Fernando Costa.
Segundo a fundação, a gestão da carteira de renda variável é baseada na divisão dos papéis em suas projeções de curto e longo prazo. O curto prazo tem sua decisão de alocação pautada nos cenários macroeconômicos de curtíssimo prazo e em análises de ações com perspectiva de doze meses à frente. Esta carteira, explicam os técnicos da Petros, pode ser usada como instrumento para estratégia de redução ou aumento do risco total dos investimentos, no caso de alteração do cenário e perspectivas de bolsa no curto prazo. Para o longo prazo, os investimentos são pautados nas expectativas dos setores das empresas e nos aspectos relacionados com a governança corporativa destas.
Na hora de escolher que ações comprar, a Petros utiliza três critérios distintos dentro das categorias de risco/retorno. O primeiro é o da carteira de giro, que tem foco no curto prazo e como objetivo a compra e venda de ações sem restrições. A carteira de giro permite aos gestores aumentar ou diminuir a exposição em renda variável, respondendo com maior agilidade a um mercado altista ou baixista.
O segundo critério é através de fundos terceirizados, administrados por gestores especializados em nichos de mercado que agregam na diversificação dos papéis e setores investidos com vistas ao médio prazo. Por fim a fundação mantém a carteira de participações estratégicas com investimento de longo prazo, ou seja, não existe intenção de venda no curto e médio prazo em decorrência, principalmente, da participação no controle das empresas.
Sobre investimento em imóveis, Costa afirma que adota a estratégia de aquisição de ativos imobiliários com o objetivo de diversificar sua carteira e que também avalia a venda de imóveis cujo custo de gestão e expectativa de retorno são inadequados. Não quis divulgar, no entanto, quais imóveis estão nessa categoria para não afetar o preço de mercado. “Pela sua característica de baixa liquidez, as regras de decisão de investimentos e desinvestimentos são observadas em um horizonte de tempo diferenciado, sendo as decisões feitas prioritariamente por plano”.
Nas empresas em que a Petros faz parte do bloco de controle e também nos casos de participação acionária relevante, a política da fundação é buscar parcerias e sociedades que levem em conta o incentivo pelo aprimoramento das práticas da boa governança e dos princípios socialmente responsáveis. Aliado, claro, aos fundamentos econômico-financeiros das empresas investidas. “Há, no longo prazo, a expectativa de retornos superiores à meta atuarial”, explica Carlos Fernando Costa.
Algumas das empresas nas quais a Petros detém participação acionária relevante são Invepar (construção e transporte), Telemar Participações (telecomunicações), Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), SPE Norte Energia, as duas últimas do ramo de geração e distribuição de energia elétrica.
Estrela ascendente no portfólio da Petros, a Investimentos e Participações em Infra-Estrutura S.A. (Invepar) é uma holding com cerca de R$ 4 bilhões em ativos, na qual a fundação detem 25% do capital social. Criada no ano 2000, é o veículo através do qual a Petros faz suas aplicações em projetos de infraestrutura. A Invepar atua na exploração, operação e administração, no País ou no exterior, de concessões rodoviárias, transportes urbanos (operações metroviárias), portos e aeroportos. Entre os principais projetos da empresa destacam-se a Linha Amarela (Lamsa) no Rio de Janeiro; as concessionárias de rodovias Litoral Norte, Auto Raposo Tavares, Bahia Norte e Rio-Teresópolis; o Metrô do Rio de Janeiro e a Línea Amarilla em Lima, no Peru.
No início de 2012 a Invepar, em consórcio com a sul-africana ACSA, ganhou a concorrência para operar o aeroporto internacional de Guarulhos, em São Paulo, por 20 anos. O consórcio ofereceu R$ 16,213 bilhões pelo direito de operar o maior aeroporto do País, um valor 26% superior à proposta do segundo colocado, o consórcio Aeroportos do Brasil.
As operações estruturadas também são uma forte aposta dos gestores da Petros para enfrentar a queda da taxa de juros com em ativos de maior risco e retorno. Até março deste ano, a Petros tinha R$ 3,892 bilhões aplicados nesta carteira, representando 6,46% da carteira global. Deste total, 57% (aproximadamente R$ 2,3 bilhões) correspondiam a participações acionárias diretas e fundos de Private Equity e Venture Capital. Setores relacionados à prestação de serviços de utilidade pública (como água e saneamento, energia elétrica), saúde, construção, transporte e logística, consumo não-básico, petróleo, gás e biocombustíveis são predominantes no perfil de investimentos estruturados da Petros.
A evolução do portfólio da Petros reflete uma postura mais proativa no sentido de reduzir a dependência da taxa de juros se comparado com o setor. Segundo um levantamento da Gama Consultores Associados sobre dados oficiais da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Privada (Abrapp), em dezembro de 2011 o sistema de fundos de pensão tinha 42% dos investimentos em títulos públicos, 31% em ações e 11% em títulos privados.
Por este estudo, do total em títulos públicos, a maior parte (65%) são as Notas do Tesouro Nacional tipo “B” (NTN-B) dos quais grande parte vence entre 2035 e 2045, adquiridos no passado recente por taxas até 6% ao ano. Hoje os juros destes papéis não passam de 4,5%, lembra Antonio Fernando Gazzoni, diretor presidente da Gama.
“As grandes fundações (Previ, Petros e Funcef) já diversificaram suas carteiras e estão menos suscetíveis aos problemas causados pela queda da taxa de juros”, comentou Carlos Garcia da Itajubá Consultoria de Investimentos.