Aposta na diversificação | Além de abrir espaços para os FIPs em ...

Pioneira na criação de planos de previdência fechada voltados a parentes de participantes, a Fundação Copel fechou 2018 com retornos na casa de dois dígitos para os seus principais planos de complementação de aposentadorias, cujos ativos totais somam cerca de R$ 10,5 bilhões. O Plano Unificado, de Benefício Definido (BD), atingiu 11,16%, e o Plano III, de Contribuição Variável (CV), conseguiu 12,30%. O Plano Família, de Contribuição Definida (CD), obteve retorno de 11,62%, fechando o ano com investimentos de cerca de R$ 16,5 milhões.

“Nossos indicadores superam com folga os do sistema. O Plano III, por exemplo, apresentou, nos últimos 36 meses, rentabilidades acumuladas de 162% e 141% acima da variação do CDI nas fases de capitalização e pagamento de benefícios”, afirma o diretor de investimentos José Carlos Lakoski, que se vê às voltas com “problemas” decorrentes do bom desempenho. “Os superávits crescem sem parar: o do Plano III saltou de R$ 90 milhões para 140 milhões e o do Unificado, também em alta, já soma R$ 620 milhões.”

Segundo Lakoski, parcelas expressivas dos ganhos são obtidas com as chamadas aplicações alternativas, casos de fundos de investimentos em participações (FIPs) e de private equity. Evitados por muitas entidades fechadas de previdência complementar (EFPCs), em razão de fraudes e sérios problemas ocorridos há poucos anos, esses produtos começaram a ser abraçados pela fundação na primeira metade da década e vêm proporcionando rentabilidades elevadas, que chegaram a superar a marca de 30% ao ano. Não por acaso, o volume de recursos alocados em FIPs cresceu mais de vinte vezes entre 2013 e 2018, para R$ 221 milhões, e o total de fundos saltou de três para 11. “Nossa carteira inclui projetos em diferentes estágios de maturação, o que garante bons retornos de forma constante”, observa Lakoski. “Agora, vamos agregar o 12º FIP e o nono gestor na área ao nosso portfólio, com um investimento de R$ 50 milhões.”
As apostas no segmento tendem a crescer de forma exponencial. A meta traçada até 2021 é elevar a fatia dos FIPs no portfólio de 1,2% para algo em torno de 4% a 5%. Para isso, estão previstas aquisições de cotas de fundos dessa categoria no valor aproximado de R$ 355 milhões nos dois próximos anos, além de R$ 90 milhões a cada ano em novas alocações. “O projeto de diversificação foi traçado em 2013, quando concluímos que a tendência da taxa Selic, a médio e longo prazo, era de queda, o que tornava obrigatória a busca por novas aplicações, de maior risco”, observa o diretor de investimentos. “Uma dificuldade a ser enfrentada diz respeito à oferta de produtos na área, pois é reduzido o número de gestores locais com expertise em FIPs e private equity. O ideal, a nosso ver, seria contar com cerca de 20 fundos de 15 gestores em 2021.”
Bem-sucedida, a estratégia em fundos de participações será mantida e reforçada em suas linhas gerais. Hoje voltada a empreendimentos de infraestrutura, saúde, varejo, tecnologia e florestais, entre outros setores, a carteira ganhará diversidade, assim como as teses e os ciclos de investimento e desinvestimento, conhecidos como “safras”. Todos esses conceitos, diga-se, já são amplamente dominados por toda a equipe da Fundação Copel.
Há três anos, como forma de convencer os membros dos conselhos deliberativo e fiscal sobre a necessidade de diversificar o cardápio de ativos, a direção da EFPC tratou de criar um curso intensivo sobre quatro modalidades de aplicações – renda fixa, renda variável, participações e multimercados. Novos dirigentes, conselheiros e membros dos comitês internos têm o dever de cumprir o programa, que consiste em 32 horas de aula. “No caso específico dos FIPs, o curso trata dos erros cometidos por alguns gestores nacionais em um passado recente, que contribuíram para uma certa aversão à modalidade. E destaca, em contrapartida, a força e a importância dos investimentos em participações e private equity no mercado externo”, comenta Lakoski.
O trabalho de conscientização facilitou, da mesma forma, os projetos em duas outras classes de investimento. A Fundação Copel está selecionando um time de gestores especializados em fundos multimercados, tarefa que deve ser concluída até junho, com a escolha de cinco ou seis nomes. “No segundo semestre, vamos nos dedicar à definição da estratégia para o segmento, o que inclui a definição do número e das características dos fundos – long & short, macro, quantitativo etc.”, informa o executivo. “A intenção é destinar aos multimercados de 10% a 15% dos recursos dos planos III e Família.”

Exterior – No mesmo período, a entidade pretende dar os primeiros passos para fazer a sua estreia em investimentos no exterior, idéia acalentada desde o início da década. O roteiro prevê a provável opção por um fundo lastreado em cotas de outros veículos de investimento, que responderia por até 10% dos portfólios dos planos Família e da fase de capitalização do III. “Fundos de pensão que contam com aplicações do gênero sofreram em menor escala os efeitos negativos causados pela greve dos caminhoneiros, em 2018. Essa constatação reforçou os nossos argumentos junto ao conselho deliberativo, que acatou a proposta”, conta Lakoski.
Atualmente com uma participação em torno de 85% dos ativos totais, as aplicações em renda fixa devem perder espaço no portfólio da fundação. Continuarão, no entanto, a ser preponderante no Unificado, um plano maduro que, com algumas poucas dezenas de participantes ativos e mais de 4.400 aposentados e pensionistas, tem um fluxo de pagamento de benefícios muito superior ao de contribuições. No momento, a carteira desse plano apresenta 88% de aplicações em papéis de renda fixa marcados na curva.
A renda fixa também continuará marcando forte presença na carteira da segunda fase do Plano III, semelhante a um plano BD, que recebeu a injeção de R$ 280 milhões em títulos públicos no último ano. Com cerca de 9 mil participantes ativos e 3.750 aposentados e pensionistas, o produto terá a sua meta atuarial reduzida, em abril, de 5,8% para 5,5%. “O estoque de ativos do Plano III é muito bom, mas, como o volume de benefícios pagos vem subindo de forma consistente, havia a necessidade de um ajuste atuarial. Teremos de buscar outras classes de ativos para fazer frente ao crescimento do grupo de inativos”, assinala o executivo.

Ações – Além dos FIPs e, a médio prazo, dos fundos multimercados e de investimento externo, a ampliação da renda variável também está em análise. A política de investimentos válida até 2022 estabelece alocações estratégicas em ações para os planos III e Família de 11% e 15%, com picos de 16% e 20%, respectivamente. Mas desde meados de 2015, o modus operandi da EFPC no segmento sofreu mudanças. Os ativos de renda variável foram concentrados em um Fundo de Investimento em Cotas (FIC) que recebe alocações de seis gestores, dois dos quais dedicados a estratégias centradas em small caps e dividendos.
“Pensamos, inclusive, em adotar o mesmo procedimento em relação a outras carteiras de investimentos, criando mais ‘fundões’. Um dos primeiros da próxima ‘safra’ será voltado a títulos de crédito”, comenta Lakoski.