Aposta em gestão especializada | Neste ano, o desafio foi disting...

Edição 351

Uma das classes de ativos que mais tem crescido no portfólio dos investidores institucionais é a de fundos de fundos, mais conhecida pela sigla em inglês FoFs (Funds of Funds). Levantamento feito pela empresa de análises de investimentos ComDinheiro, à pedido de Investidor Institucional, encontrou 141 FoFs direcionados à clientes institucionais distribuídos nas classes de renda fixa, multimercados e ações. A disposição dos FoFs na tabela das páginas 31 a 34 não segue qualquer indicador de performance, uma vez que os alocadores, entre os quais estão várias entidades de previdência, buscam o resultado mais adequado ao atendimento de uma necessidade atuarial específica e não, necessariamente, a melhor performance. Dessa maneira, não faria sentido usar nesse trabalho o índice de sharpe para avaliar os fundos. Mas optamos, como informação adicional ao leitor, por apresentar a rentabilidade de cada FoF relativamente aos seus pares da classe Anbima analisada (ver critérios no quadro à página 14).
Com 52 FoFs neste ranking, a Bram (Bradesco Asset Management) mantém há quinze anos uma área específica para cuidar dessa estratégia. A área, chamada de soluções de investimentos, combina a utilização de produtos próprios e de terceiros, explica o seu superintendente, Adilson Ferrarezi. “O processo de escolha é robusto e o nosso “empório” de fundos segue processos qualitativos e quantitativos antes de aprovar o que irá para a prateleira, catalogando gestores por especialização e skills”, diz. Ele comanda um time de 23 profissionais, que fazem a gestão de R$ 80 bilhões investidos em 800 fundos, de 180 gestores, além dos produtos do Bradesco. De acordo com Ferrarezi, o universo de investidores institucionais responde por 10% desses R$ 80 bilhões, com 35 mandatos de EFPCs.
Na Bradesco Asset Management (Bram), os investimentos dos últimos cinco anos na expansão dessa área permitiram passar de R$ 12 bilhões em 2017, praticamente só de investidores do private, para R$ 79 bilhões atualmente, dos quais um terço é de investidores institucionais. A asset também multiplicou por quatro o número de profissionais na equipe e mais do que dobrou o número de fundos no período, informa o diretor Ricardo Eleutério.”Atualmente, mantemos relacionamento com as principais casas do mercado e a gestão, que era mais generalista, foi se especializando e customizando os fundos à medida que o cliente ficou mais especializado”, diz.
A evolução seguiu o caminho da prestação de serviços customizados, o que garantiu crescimento exponencial e deu um passo adiante na expansão da área por meio de FoFs alternativos. “Os processos são muito criteriosos em análise e due diligence, além de hoje termos relacionamento com 150 gestores de fundos no mercado local e com outras 40 casas fora do país”, afirma Eleutério. Ele lembra que o pilar da performance é importante, mas o de serviços passou a ser essencial para o avanço da área de FoFs. “O cliente aqui tem informação diária sobre os seus portfólios exclusivos”, diz “Estamos investindo de maneira expressiva no aumento do time e da capacidade de gestão”.
Com R$ 27 bilhões em FoFs exclusivos para institucionais, a asset reposicionou completamente essa área junto ao mercado, passando a atuar de modo mais amplo sob o chapéu de soluções de investimento. “O time de especialistas passou a atuar com foco em três pilares. O primeiro deles é a revisão de processos de asset alocation, referenciados na metodologia do endowment de Yale, para construir os portfólios”, diz Adilson Ferrarezi, head de soluções de investimento e superintendente da área de Fofs.
Além disso, como segundo pilar, a estrutura busca a customização de modo a explorar a maior flexibilidade da legislação para os produtos estruturados, e no terceiro pilar está a internacionalização.
Foram criadas cinco verticais de negócios, uma delas dedicada à gestão de mandatos exclusivos e que tem em seu DNA o processo de alocação estratégica. Essas verticais exploram ainda a internacionalização, com FoFs offshore desde 2019; a atuação da área de analytics, com modelos quantitativos para evitar sobrealocação em determinados fundos; a alocação em alternativos e a seleção de fundos de terceiros. “De cinco anos para cá, aceleramos o acesso do cliente a um número maior de fundos e a vertical da seleção de fundos de terceiros é, na verdade, uma curadoria que conta com desenvolvedores de sistemas e usa robôs na construção dos portfólios ou na seleção de gestores quantitativos”, explica Ferrarezi.
O diferencial que foi criado pretende assegurar que o investidor tenha exposição à estrutura de um grande banco mas com acesso às melhores opções de fundos, daqui e lá de fora, seguindo o modelo dos endowments. A customização e a proximidade do investidor com a gestão são trunfos essenciais. Para isso, o time de 32 profissionais incluiu a contratação de seis profissionais que vieram de fundações, como Fapes e Elos, e de consultorias especializadas nesse público como Aditus e Mercer. “A governança do Bradesco é o outro aspecto importante para agregar valor e evitar ruídos de curto prazo no mercado para focar no longo prazo, de novo conforme a visão dos endowments”, afirma Ferrarezi.
Em 2022, os desafios do segmento foi distinguir ruídos do mercado das verdadeiras tendências do mercado, assim como enxergar as oportunidades, em especial no mercado internacional. “Por meio dos multimercados, offshore ou carteiras balanceadas, já tínhamos uma boa visão do mercado global logo no início da pandemia e foi importante ter essa parcela na época porque os institucionais estavam avançando em alocação internacional. Este ano, porém, o movimento é o oposto e atuamos mais atentos aos fatores de risco globais, em especial na bolsa dos EUA”, diz.
A construção que vinha sendo feita no segmento de fundos globais de bonds, high yield ou high grade, e de uma cesta de fundos com esses dois perfis de risco foi uma estratégia que deu certo e permitiu capturar ganhos com os movimentos dos juros lá fora em 2022. O principal fundo macro multimercado da casa rendeu quase duas vezes o CDI no ano. No mercado local, a gestão ativa buscou capturar discrepâncias de preços das empresas que estavam pouco alavancadas.
“Os alternativos são um investimento importante nesses momentos e foi muito oportuno ter fundos de private equity e venture capital”, explica. O único FoF da casa nessa classe, um fundo local de private equity, é apenas o primeiro de uma série de programas de alternativos que estão no pipeline da área para mitigar o risco dos movimentos de curto prazo. Em 2023, a intenção é criar em primeiro lugar um FoF de alternativos globais, além de um FoF de timber (fundos florestais), assim como outros, nas áreas de infraestrutura e mercado imobiliário. “O que os endowments fazem lá fora, fazemos aqui. Até porque as possibilidades dessa indústria são infinitas”, pondera.

Dos 28 FoFs da Icatu Vanguarda, 22 são exclusivos e destes 90% são de fundos de pensão, conta Bruno Horovitz, sócio e RI. “Entre os anos de 2015 e 2016 percebemos que haveria uma terceirização expressiva da gestão de investimentos das EFPC, até por pressão do órgão supervisor, a Previc, devido a problemas ocorridos em determinadas fundações. A partir daí, decidimos investir na área porque muitas delas não tinham expertise para os processos de seleção, delegação, relatórios, monitoramento, etc”, diz. Dado que a gestora tem foco específico em investimentos para fundos de pensão e tem uma estrutura multi mesas, todos os ingredientes estavam disponíveis. “Tínhamos tudo para entrar de cabeça em FoFs exclusivos para esse público”, observa. O alvo inicial foram as pequenas e médias entidades, mas hoje a asset tem clientes também entre as top 10 e top 20 fundações. Houve crescimento em tamanho do patrimônio, expertise, equipes e sistemas.
Este ano foram conquistados dois clientes novos mas, por outro lado, um cliente resolveu dividir o portfólio em dois, para ter mais de um gestor. “Sofremos uma perda de patrimônio por conta dessa divisão, mas foi por um motivo positivo: o cliente gostou da experiência e quis ampliá-la. Ao todo hoje temos R$ 5,5 bilhões sob gestão na casa”, informa Horovitz. Os FoFs investem no total de 115 fundos, sendo 31 da própria Icatu Vanguarda e 84 fundos de terceiros.
Renomeada como investment solutions, a área cria soluções específicas para cada cliente e tem como base a estrutura multi mesas, com sete pessoas que trabalham diretamente na área, além dos demais 30 profissionais da casa que estão disponíveis. “Temos R$ 13 bilhões sob gestão só em crédito na gestora, o que gera uma externalidade importante em relação à concorrência”, afirma.
A área tem crescido mas a própria alta da Selic retarda um pouco esse processo e em 2022 o processo de expansão teve ritmo mais contido que nos últimos dois anos, explica Fernando Henrique Palermo, head de investment solutions. “O que mais complica é a concorrência do CDI, que reduz a demanda por diversificação mas, apesar disso, conseguimos clientes novos este ano porque trazemos soluções variadas, de acordo com a demanda de cada investidor. A seleção dos fundos que entram no portfólio, porém, é 100% nossa”, afirma Palermo. Ele ressalta que o “ecossistema” da casa é o principal diferencial, há especialistas nas mais diversas áreas e o time todo tem participação nos comitês. Cada especialista de multi mesas é convidado a participar do comitê de aprovação de um gestor, o que vale para todos os fundos aprovados.
Com FoFs de renda fixa/crédito, multimercados e exterior, o destaque do ano em geração de alfa até outubro ficou para os multimercados. “Seguimos alguns modelos de produtos para atender a demanda dos clientes porque alguns deles vêm com políticas e targets prontos, outros vêm com objetivos menos específicos, com demandas mais básicas como a de bater o CDI”, diz Palermo.

Para entender o ranking
Este ranking analisa apenas fundos de fundos (FoF, na sigla em ingês), com aplicações de investidores institucionais, sejam fundos de pensão ou RPPS, a partir de pesquisa realizado pela empresa ComDinheiro. A análise e classificação é feita de acordo com os seguintes critérios:
1 – Foram analisados apenas fundos de Renda Fixa, Ações e Multimercados com 12 meses na base Anbima na data de 30/09/2022.
2 – Foram analisados apenas fundos com um máximo de cinco cotistas, dos quais pelo menos um deve ser institucional, seja fundos de pensão ou RPPS
3 – Foram analisados apenas fundos com um máximo 25% do seu Patrimônio Líquido (PL) aplicados em produtos da própria gestora
4 – O ranking não segue um critério de desempenho, como Sharpe por exemplo, apenas apresenta a posição que a rentabilidade do fundo ocupa entre seus pares da mesma classe, ou seja, 1º de 10 quer dizer que ele é o primeiro entre os 10 de sua classe.

Gestoras e nº de fundos (em pdf)

FOFs Ranking (em pdf)