Embora os fundos de pensão e demais investidores institucionais calibrem suas estratégias no sentido de diversificação das carteiras de investimentos, dispostos a tomar mais risco para obter retornos mais robustos, poucas decisões estão sendo tomadas nesse sentido. “Há grande expectativa em relação à agenda de reformas do governo e o investidor de longo prazo dá sinais de querer diversificar para assumir mais risco, alongar prazos e obter retornos mais apropriados, mas o aumento de exposição ainda é pequeno”, explica o CEO da gestora BlackRock no Brasil, Carlos Takahashi. Segundo ele, a concentração em renda fixa prevalece e a maioria das EFPC ainda fazem movimentos acanhados para mudar seu mix de ativos. A indicação de que o Banco Central possa voltar a reduzir a taxa Selic para reanimar a economia abre espaço para acelerar a diversificação, especialmente no longo prazo, acredita Takahashi. Nesse contexto, há opções domésticas interessantes na bolsa mas a concentração dos negócios em número limitado de ações e a forte volatilidade recente produzida por essa concentração – particularmente em Petrobras, Vale e Banco do Brasil – reforça a importância de buscar descorrelação nas bolsas internacionais. Diversificar geograficamente, por empresas, setores e também em moedas é o caminho recomendável”, diz o CEO da BlackRock.
Frente à expectativa de juros baixos, calmaria política e avanço das reformas, predominante no final do ano passado, era alta a procura das EFPC por informações sobre investimentos em fundos de ações, diz o vice-presidente operacional da BTG Pactual Asset, Allan Hadid. No cenário atual, de acirramento político e indefinição quanto às reformas, a procura diminuiu mas não desapareceu completamente. O destaque tem sido os fundos fundamentalistas e de retorno absoluto, que incluem ações que não estão no Ibovespa e buscam bater a rentabilidade desse índice no médio e longo prazo. Além disso, também os multimercados tem crescido diante da perspectiva atual de juros baixos e inflação sob controle, comenta Hadid.
Otimismo e ETFs – A bolsa brasileira segue atrativa, mas neste momento o uso de estratégias de índices (ETFs) é mais eficiente, avalia Carlos Takahashi. Ele, que comanda a segunda maior casa de ETFs do Brasil, sugere o ETF de Ibovespa como o mais adequado para o momento. “É mais eficiente em termos táticos e estratégicos frente ao risco que representa olhar ativo por ativo neste momento”. O desafio, diz o gestor, será estruturar posições a partir de uma asset alocation que faça sentido no longo prazo, em lugar de buscar apenas estratégias de produtos.O PIB menor do que o esperado e a situação macroeconômica desaquecida mostram que há espaço para melhorar os lucros das companhias. Na BTG, a estratégia é olhar os deslocamentos de risco no mercado e direcionar a alocação de acordo com posições mais ou menos otimistas. A gestora destaca empresas ligadas ao consumo e à infraestrutura, como resultado das privatizações e concessões. “Nossa visão é fundamentalmente otimista em relação ao Brasil e procuramos contrapor isso aos preços dos ativos”, diz Hadid.
Carteira agnóstica – A Bradesco Asset Management (Bram) decidiu, há cerca de dois meses, ter uma carteira de renda variável “agnóstica” em relação à reforma da Previdência, explica o seu superintentende de Renda Variável, Marcelo Nantes. “Acreditamos que a reforma será aprovada mas não se sabe qual será o tamanho da economia feita e haverá muito volatilidade. Além disso, não temos vantagem competitiva nesse tipo de análise, mas somos bons em analisar empresas e seus fluxos, então é isso o que estamos fazendo, com stock picking para gerar alfa”, conta Nantes.
A estratégia da Bram ficou mais conservadora para as próximas semanas. “Vamos esperar até que esse processo na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara se consolide”, afirma o superintendente. Até porque monitorar o placar do Legislativo acaba forçando a tomada de decisões no dia a dia com base em fatores sobre os quais os gestores não tem controle.Entre os setores atrativos, a Bram destaca o de proteína animal. “Estávamos monitorando, já há algum tempo, a falta de carne suína na China e esse déficit lá beneficia os exportadores aqui”. Outro setor que pode garantir bons retornos é o do varejo, que tem surpreendido positivamente apesar da atividade econômica fraca. “De modo geral, as empresas e a bolsa no Brasil estão melhores do que estavam há dois anos; No que diz respeito ao grau de endividamento, à exceção de casos muito específicos, o setor de varejo está bem equacionado”, avalia Nantes. Ele aposta ainda na resiliência do varejo de alimentos às pressões da inflação. “Eles são mais resilientes do que os têxteis, por exemplo, se bem que Hering e Renner tenham sido boas surpresas”.
A Bram vê um aumento do interesse por IPOs no segundo semestre, ainda que essa perspectiva fosse maior quando o Ibovespa estava acima de 95 mil pontos. Marcelo Nantes ressalta as operações secundárias das empresas, com ofertas interessantes nos primeiros meses do ano. “Tivemos uma oferta de Burger King e há outras companhias fazendo, mas o apetite caiu um pouco agora”.
Águas desconhecidas – A mudança de patamar na renda variável da Funcesp ocorreu entre o final de 2016 e o início de 2017, com a compra de R$ 2,2 bilhões nessa classe de ativos. A entidade reduziu um pouco essa posição quando o Ibovespa chegou perto dos 100 mil pontos. “Fizemos isso porque achamos que o mercado estava um pouco otimista demais, todos apostavam na aprovação da reforma da previdência antes mesmo que houvesse uma proposta divulgada”, diz o diretor de Investimentos da Funcesp, Jorge Simino.
Como havia mais entusiasmo do que informação no mercado, a decisão foi por vender perto de R$ 500 milhões ou quase 12% de uma carteira próxima a R$ 3,5 bilhões. Com isso, houve um ajuste de dois pontos percentuais para baixo na fatia de renda variável, que hoje responde por aproximadamente 15% dos ativos totais da entidade. Também foi encurtado o duration dos fundos, já que toda a carteira da Funcesp é marcada a mercado.
“Os movimentos tem sido pontuais, de sintonia fina, e deverão continuar assim”, observa Simino. O foco é no cenário local sem subestimar o impacto do mercado internacional, que exige atenção redobrada. “Já no ano passado esperávamos que o Fed reduzisse a liquidez com uma alta dos juros, mas o banco central americano recuou”. Não fosse por isso, diz o diretor da Funcesp, os preços dos ativos brasileiros hoje não estariam onde estão. Ele sublinha que não podemos olhar apenas para o nosso umbigo, porque o Fed já confessou que precisa reavaliar seu mandato e deu a entender, sutilmente, que está manobrando em mares nunca dantes navegados”.
À medida que o PIB despencou, com algumas projeções baixando para algo entre 1,2% e 1,5% em 2019, fica ainda mais importante garantir uma sintonia fina nos investimentos. O panorama da atual safra de balanços, numa amostragem que acompanhou os resultados de cerca de 20 companhias, já não é tão homogêneo como foi em 2018. O cenário microeconômico do primeiro trimestre é mais um motivo para ser cauteloso, porque o lado real da economia dá sinais de nocaute. Nesse ambiente, a Funcesp mantém inalterada sua estratégia e a estrutura interna do portfólio, o Ibovespa como benchmark e uma carteira fundamentalista. A carteira de dividendos também segue inalterada, com 15,3% desde setembro até agora.
Posição triplicada – Comprar mais bolsa e mais títulos públicos prefixados é a orientação do ALM da Fundação Real Grandeza, que tem seguido essa orientação e ampliado a carteira de renda variável de seu plano BD de 5,5% para 15,3% dos ativos totais, desde setembro até agora. No plano CD, a fatia de renda variável subiu de 5,5% para 16,7% no mesmo período. “Triplicamos a posição e pretendemos chegar a uma exposição de 18,6% no plano CD até o final do ano, com o BD chegando a 16,%”, conta o diretor presidente da Real Grandeza, Sérgio Wilson Ferraz Fontes.
Além da bússola do ALM, a Real Grandeza faz análise diária de mercado e de conjuntura. “Batemos as nossas metas em patamares superiores às médias do mercado em termos de rentabilidade, num mercado que fica cada vez mais complicado”, diz Fontes.”Não há muitas outras alternativas além da renda variável, porque não investimos em FIPs e ainda não começamos a alocar no exterior”.
Ajuste cauteloso – A Fibra, fundo de pensão da Itaipu, também elevou sua parcela de renda variável e acrescentou três novos fundos de gestão ativa, aumentando em um ponto percentual a alocação da entidade nessa classe, que passou a representar 6,5% do total de seus ativos. “Foi um ajuste pequeno, feito em janeiro, seguindo a indicação do ALM e a melhora de expectativas econômicas”, explica o gerente de Investimentos da fundação, Marcos Aurélio Litz.
Segundo ele, o movimento adequou melhor a estrutura da carteira, que era mais passiva/defensiva nos últimos três anos e precisava fazer frente ao ambiente de juros mais baixos. Como o plano da Fibra é um BD aberto maduro, o ajuste foi feito para todo o ano de 2019 e não há previsão de novos aportes em renda variável. Durante três dos últimos cinco anos, bastante difíceis e voláteis, a Fibra manteve retornos acima da meta graças à sua estratégia de ajustes, afirma Litz.