ALM para todos | Mais baratos que os ALMs tradicionais, surgem os...

Edição 139

Conscientização, portabilidade ou queda na taxa de juros. Qualquer que seja o motivo, o fato é que as empresas de consultoria de risco estão percebendo um forte crescimento na demanda por estudos de Asset Liability Management (ALM). O crescimento, em alguns casos, chega a ser de até 100% em relação ao ano passado, por parte de fundos de pensão interessados em compatibilizar a evolução entre seus ativos e passivos. Participam desse mercado as empresas Risk Office, Risk Control, Mercer Investment Consulting, Towers Perrin e PPS, entre outras.
Responsável por boa parte desse percentual de crescimento estão os modelos de ALMs mais simplificados, que detêm maior atenção no crescimento dos ativos e na rentabilidade necessária para não gerar déficits futuros do que nos passivos da fundação. Conhecidos no mercado pelo nome ‘casamento de fluxos de caixa’ ou ainda ‘gap atuarial’, esses estudos já representam 80% da procura de ALMs pela consultoria PPS, que decidiu há pouco mais de um mês produzir esse tipo de modelo para não perder espaço no mercado. Segundo o coordenador de ALM da PPS, Fábio Dias, enquanto o ALM mais sofisticado é procurado basicamente por fundos de pensão mais maduros, o estudo mais simples encontra clientes entre os fundos de instituição mais recente ou entre os que fizeram o estudo completo no ano anterior e querem revisar no seguinte.
Como não mostra de qual forma a alocação de recursos pode evoluir em diferentes cenários, além de não considerar as entradas e saídas de participantes e não dizer que atitude tomar se os juros subirem ou descerem, o estudo de gap atuarial acaba tendo um preço até ¼ abaixo do cobrado por um ALM sofisticado. “Fizemos um primeiro trabalho em setembro, e pretendemos não parar”, avisa Dias.
O modelo recém-adotado pela PPS é seguido há mais tempo pela consultoria Risk Office que, produzindo ALMs há pouco mais de quatro anos no mercado, espera fechar o ano de 2003 com cerca de 50 contratos desses estudos mais simplificados em carteira – um crescimento de 25% em relação ao ano passado. Segundo o diretor da empresa, Fernando Lovisotto, o crescimento da Risk Office se baseou no fato de que conseguiram enxergar que muitos fundos, além de não disporem de vários milhares de reais para gastar num estudo mais completo, também não têm tanta necessidade disso por serem fundos de menor porte ou mais recentes. Com essa avaliação, a Risk Office começou a oferecer, ainda em 1999, modelos que priorizavam o lado do ativo para só então em 2002 apresentarem um modelo mais complexo. “No início, não calculávamos o passivo, mas o recebíamos pronto do atuário do fundo de pensão”, diz. Agora eles próprios produzem os cálculos, simulando diferentes cenários que vão gerar diferentes tipos de aplicação e investimento. “A tendência, no entanto, é que à medida que vão ficando mais maduras, as fundações procurem fazer o ALM mais sofisticado, que lhes dêem todas as hipóteses e as ajudem na tomada de decisões”, diz Lovisotto.

Avaliação – O aumento na procura por ALMs é vista com bons olhos pelo diretor de investimentos da Mercer Investment Consulting, Lauro Araújo, que, no entanto, adverte que os fundos tenham cuidado ao escolher o modelo a ser seguido – as características da entidade têm de ser consideradas, ou corre-se o risco de o ALM tornar-se incapaz de avaliar riscos futuros. Este ano, a consultoria fechou contratos para realização de ALM com cinco fundos de pensão, entre os quais os patrocinados pela Rhodia, Sadia e Telemar. No ano passado, foram seis os estudos produzidos. A queda na participação, explica o diretor, teve como causa o aumento da concorrência no mercado, o que acabou permitindo a disseminação do ALM mesmo entre entidades de pequeno porte.
Para o consultor da Risk Control, Mathias Fulda, os estudos mais simplificados não deixam de ser interessantes. “São como uma fotografia tirada em um determinado momento, mas tendem a não ajudar muito na tomada de decisão”, disse. A consultoria, que em 2002 participou de 5 processos de seleção, deve participar de outros oito até o final deste ano.
A opinião de Fulda é compartilhada pelo consultor da Towers, Luiz Felipe Motta, para quem o estudo de ALM deveria ser feito tanto com um formato mais simplificado quanto mais complexo, para refletir as perspectivas de equilíbrio entre ativos e passivos no futuro. Acontece que a maior parte dos planos atuais são do tipo Contribuição Definida, onde o risco é transferido ao participante e, portanto, não existe um passivo por parte da patrocinadora. “O fato de ter transferido o risco final para o participante não significa que ele não exista. Os fundos deveriam estar preocupados em calcular esse risco ”, diz.

Planos CD são os mais novos clientes – Os estudos de ALM começaram a desembarcar no Brasil no final de 1999, impulsionados pela obrigatoriedade de os fundos de pensão definirem previamente uma política de investimentos para a Secretaria de Previdência Complementar (SPC). Cerca de dois anos mais tarde, as consultorias decidiram inovar e oferecer novos modelos, como um estudo de ALM focado em planos tipo CD. O palpite deu certo. Com a exigência da Secretaria mantida e renovada pela mais nova Resolução 3.121 do Conselho Monetário Nacional (CMN), os ALMs já fazem parte do dia-a-dia dos planos de Contribuição Definida.
Nessa linha, a Towers promete para o final do ano o lançamento de um ALM voltado para planos tipo CD. Denominado Asset Life-Time Management, ou ALTM, o produto, além de mapear os principais grupos de participantes pela idade, deve incluir o conceito salarial para só então definir a melhor composição de carteira. “Quanto maior o nível salarial dos funcionários, maior a dependência no fundo de pensão”, lembra Motta.
Entretanto, a Mercer acha que essa tendência é equivocada. “O ALM nasceu para ser um estudo para plano tipo Benefício Definido”, avisa o diretor da Mercer. E sua justificativa baseia-se no próprio conceito do plano tipo CD, no qual o passivo é segregado e os recursos, carimbados. Nesse tipo de plano, continua Araújo, como não há solidariedade do passivo entre os participantes, um ALM só teria sentido se partisse de um estudo minucioso das diferenças entre os segurados. “Só depois que estudei os perfis da população e a dividi em diferentes grupos – jovens, intermediários e maduros – é que vou poder escolher o melhor mix de ativos para cada um”, diz o diretor. O risco dessa não segregação entre perfis, completa o diretor, é ter carteiras inadequadas.

Tendências – Para o diretor da RiskOffice, Fernando Lovisotto, os estudos de ALM que experimentaram um boom em 2002 – ano que colecionou turbulências, como a gerada pela guerra no Iraque, e no qual a maior parte dos fundos de pensão não atingiu a meta atuarial – devem ser ainda mais aprimorados. Principalmente, diz Lovisotto, em relação à parte de avaliação do passivo que, no mercado, ainda não conta com o mesmo grau de análise que o ativo. A Risk Office fechou contratos de ALM com 40 fundos de pensão no ano passado e, este ano, o número deve ser superado, chegando a 50 fundações, comemora Lovisotto.
A idéia de aperfeiçoamento da análise das obrigações do fundo é também citada pelo gerente da divisão de gestão de risco da Fundação Cesp, Édner Bitencourt Castilho. O fundo é o mais novo cliente de ALM da Risk Office para os três planos da entidade – dois tipo BD e um plano CD. Para Castilho, o maior desenvolvimento da parte dos ativos tem uma razão de mercado, já que muitas das consultorias que hoje oferecem esse tipo de produto foram criadas por executivos advindos de bancos de investimento. “Há muitos desses casos no mercado”, diz o gerente. O grande perigo do não entrosamento entre as áreas, lembra Castilho, é chegar a um déficit atuarial pela falta de uma simulação ao mesmo tempo de ativos e passivos. “O ALM não pode ser encarado como um projeto da área de investimentos”, conclui.