Edição 131
Apesar das manchetes negativas sobre as gigantes Enron e WorldCom, os participantes de fundos de pensão americanos do tipo contribuição definida ainda se mostram fãs dos investimentos em ações das empresas patrocinadoras que, por sua vez, não pararam de oferecer esse tipo de alocação aos funcionários. “Notamos uma tendência definida de participantes querendo diversificar as ações contidas em seu portfólio de renda variável durante o ano passado, mas esse movimento não incidiu sobre os papéis das empresas nas quais trabalham”, analisa o vice-presidente senior da CitiStreet, Greg Sexton. “As pessoas
estão, em sua maioria, mantendo aplica-
ções nas ações das empresas. Elas acreditam nisso”.
Cerca de 29% dos ativos dos fundos de pensão atendidos pela CitiStreet estavam investidos no mercado de ações durante o ano de 2001. Em 2002, esse percentual caiu para 27%, o que não se deveu a uma diminuição da procura mas, segundo Sexton, à uma desvalorização dos papéis. Uma análise feita com os dez fundos de pensão que possuem o maior percentual concentrados em ações da empresa patrocinadora, mostrou que essas entidades tinham, no mínimo, metade de seu patrimônio investido nesse tipo de alocação.
Excesso de confiança – Segundo relatório produzido pela The Vanguard Group, a partir de uma pesquisa feita com sua base de clientes, somente 15% dos fundos de pensão ofereceram aos participantes a possibilidade de investirem em ações em 2001. Entretanto, desde que os grandes planos apresentaram essa nova modalidade de alocação, o número de participantes que tiveram acesso a esse tipo de papel subiu para 53%, sendo que 31% passaram a operar diretamente com ações.
Existem, no entanto, três fatores que tendem a fazer os participantes reter maiores concentrações de ações da empresa que patrocina seu fundo de pensão, segundo o responsável pela consultoria Vanguard Center for Retirement Research, Stephen Utkus. Em primeiro lugar, afirma ele, os participantes não visualizam os riscos. “Como resultado de uma pesquisa realizada nos fundos de pensão em 2001, a maioria dos participantes disse que as ações da companhia são mais seguras que fundos de ações regulares”, comentou. “Os participantes têm miopia de risco. Por conta do efeito ‘lealdade’ à empresa, eles pensam que as ações de sua companhia são mais seguras que as do mercado”.
O segundo fator é a performance. Se as ações tiveram boa valorização no passado, os participantes tendem a mantê-las na carteira. Caso tenham registrado sucessivas baixas, a tendência é evitá-las. Utkus aponta a inércia como fator principal para os participantes não estarem vendendo suas ações.
E, por último, perto de 55% dos participantes acionistas têm algum tipo de restrição para investir em renda variável. Um terço dos segurados devem seguir uma política mais conservadora, por conta da restrição causada pela idade, o que acaba jogando-os para os braços das patrocinadoras.
Embora algumas companhias possam forçar seus funcionários a isso – há diferentes programas mas, ao final, acabam limitando as vendas dos papéis – não são as restrições nos investimentos dos fundos de pensão as principais culpadas pelo aumento verificado na alocação de ações das empresas patrocinadoras dos planos, acredita o professor da Universidade da Califórnia, Shlomo Benartzi. “Depois de todo o escândalo, os executivos da Enron argumentavam que 89% das ações da empresa estavam no plano 401(k) por escolha dos empregados”, disse ele.
No fundo de pensão da Coca-Cola, um 401(k) de US$ 1,4 bilhão em ativos e 76% dos ativos investidos em ações da empresa, os dirigentes estudaram aumentar as restrições para compra dos papéis aos empregados. A iniciativa foi tomada quando descobriram que metade dos recursos da opção de investimento em ações da companhia estava na mão de empregados, comentou o professor.
Existe um grande número de fatores comportamentais que levam participantes a abusar nas ações da companhia, diz Benartzi. Em primeiro lugar, o professor cita a confiança exagerada. Nove entre dez participantes acreditam que as ações da empresa onde trabalham são mais seguras que um fundo diversificado. A partir daí, a inércia se instala pelo fato de que os empregados não querem vender um papel que consideram a salvo das turbulências do mercado. “Eles não entendem que manter um grande volume de uma única ação é muito mais arriscado que um portfólio diferenciado”.
Diminuindo as regras – Estudos produzidos pela consultoria Hewitt Associates mostram que os participantes pensam as ações da empresa com um dos componentes essenciais em um investimento. “Os participantes podem estar vendo as ações não como uma classe de ativos, mas sim como um ‘bonus’”, diz a consultora da Hewitt, Lori Lucas.
Apesar da Vaguard não ter dados formais do ano de 2002 sobre os patrocinadores de planos que oferecem ações aos participantes, Utkus comenta uma evidência que mostra que 20% das patrocinadoras já tomaram atitudes a respeito das ações que oferecem. A maioria reduziu o número de regras que impediam a diversificação.
Um exemplo é um dos maiores clientes da Vanguard, a ChevronTexaco Corp., que se livrou das
regras que regiam o investimento em ações da empresa. Apesar do esforço, o investimento ainda corresponde a 60% dos US$ 7 bilhões em ativos da ChevronTexaco.
Outras prioridades – E, ao que parece, depois de algumas tentativas por reduzir a quantidade de ações da empresa em poder dos empregados, os fundos de pensão têm, para 2003, outras prioridades. Uma pesquisa da Hewitt com 200 fundos indicou que encabeçavam a lista dessas prioridades a tentativa de aumentar a percepção do empregado sobre o plano, reduzir o risco de passivos e ações judiciárias e encontrar investimentos que casem com as futuras aposentadorias de seus funcionários.
Para completar, a pesquisa da Hewitt indicou que poucos patrocinadores já removeram as restrições para diversificação das ações em 2002. Comparando com dados de fevereiro de 2002, o número de patrocinadoras que restringem a diversificação na compra de ações de outras empresas caiu de 86% para 62%. Isso mostra que muitos patrocinadores estão reconsiderando se é aconselhável que seus funcionários invistam um grande montante dos dólares de suas reservas em ações, concluiu Benartzi.