Edição 68
Após um primeiro semestre afastado da renda variável, os fundos de pensão retomaram os investimentos em bolsas nos últimos meses. De acordo com especialistas, desde agosto os institucionais têm feito mais compras do que vendas de ações. Os dados da Bovespa do mês de outubro mostram que esses investidores participaram com 8% do movimento total de compras, contra 7,5% das vendas, enquanto os estrangeiros responderam por 7% das compras e por 9,8% das vendas.
“A entrada dos institucionais nas bolsas foi consistente e crescente. Desde agosto, eles têm liderado as compras, porque os estrangeiros começaram a rever posições, devido ao Bug do milênio e atraso nas reformas, entre outras coisas”, observa o analista da consultoria Lopes Filho, Carlos Manoel de Souza.
Por enquanto, os percentuais de aumento da exposição à renda variável têm sido de apenas um dígito, devendo elevar-se no próximo ano. Além da tendência declinante dos juros, um outro fator que está tendo forte influência na decisão dessas entidades de comprar ações, no curto prazo, é a elevação dos índices de inflação. A partir de meados desse ano, ficou mais difícil bater mensalmente a meta atuarial, pelo menos para as entidades que utilizam o IGP-M (ver tabela). Como essa meta significa dar um retorno equivalente ao índice mais 0,5% ao mês, ou 6% ao ano, a pressão pelas rentabilidades maiores se fortalece se a inflação continuar subindo.
“Sem dúvida, o aumento dos índices de inflação foi fundamental para que as fundações se posicionassem nas bolsas já esse ano, uma tendência que deve se expandir no ano que vem, quando realmente ficará mais difícil bater a meta com investimentos em renda fixa”, opina o diretor de mar-keting da Schroder Investment Management, Adriano Koelle.
Para o diretor de renda variável da UAM, Jorge Simino, outro elemento para entender a retomada dos investimentos em renda variável no curto prazo são os gordos ganhos que as entidades tiveram no primeiro semestre na renda fixa. “As fundações vinham com fortes posições em renda fixa, e isso gerou uma rentabilidade tal que fez com que elas se sentissem mais confortáveis em dar esse passo agora rumo à renda variável, porque não estão arriscando a meta atuarial”, acrescenta.
A própria UAM fez um aumento no percentual de ações das carteiras que administra que Simino considera expressivo. “Digamos que, numa escala de zero a dez pontos percentuais, nós ficamos entre 5 e 6. Houve gente no mercado que chegou a entre 7 e 8 pontos percentuais, e também os que foram mais tímidos, ficando entre 2 e 3. No geral, podemos dizer que o mercado fez um movimento consistente rumo às ações”, observa.
A fundação São Rafael, da Xerox do Brasil, aumentou de 12% para quase 17% a sua exposição nos últimos três meses. Segundo o gerente financeiro da entidade, Carlos Paiva, no início do semestre o comitê de investimentos definiu para os administradores um teto de até 20% do patrimônio em ações, porém prevendo uma variação livre das alocações até esse limite. Segundo ele, daqui até o final do ano a tendência é manter o percentual de alocação atual. “Embora as perspectivas para 2.000 sejam boas, o cenário até o fim do ano ainda está muito nebuloso”, diz.
Outra entidade que apresentou comportamento semelhante é a fundação Cesp, patrocinada pelas empresas elétricas paulistas. “Fizemos um pequeno reposicionamento de nossa carteira em ações, de 22% para 27%. Achamos que as perspectivas para as bolsas, a médio prazo, são boas”, diz o diretor financeiro Martin Glogowsky.
Os gestores de recursos já estão se preparando para esse momento de retomada mais forte das bolsas no ano que vem, lançando novos produtos voltados para renda variável. Alguns, inclusive, acham que haverá espaço para ações de baixa liquidez, como as de segunda e terceira linha, nos portfólios institucionais, hoje pouco demandadas.
A Schroder Investment Management, por exemplo, acaba de lançar um fundo de small caps voltado para investidores qualificados. “Apostamos nesse produto porque, entre 1993 e 1997, quando tivemos crescimento do PIB, esses papéis se valorizaram mais do que o Ibovespa. Agora devemos ter um cenário parecido”, explica Adriano Koelle.
O objetivo do fundo da Schroder é montar um portfólio de entre 20 e 30 ações, selecionadas num universo de 100 empresas com o melhor nível de transparência de informações e tratamento aos minoritários. “Essas empresas já fazem parte do portfólio que administramos para institucionais estrangeiros no Brasil, e foram selecionadas entre 507 empresas listadas em bolsa”, acrescenta.
IBX – Outros gestores estão apostando suas fichas em fundos com benchmark IBX para captar recursos institucionais. O Bradesco Templeton é um deles. A empresa lançou, no final de setembro, um fundo de gestão ativa que pretende superar o IBX, que é o primeiro produto da categoria de renda variável da instituição, além de ser o seu primeiro fundo mútuo. Em 10 de novembro, com apenas 10 dias de captação, já tinha recebido R$ 5 milhões em aplicações. “Consideramos o IBX o índice mais adequado para investidores institucionais, uma vez que agora a SPC exige, para efeito de enquadramento das fundações, que elas somem a carteira própria com a carteira dos fundos. O Ibovespa, por ser muito concentrado, estoura os limites”, justifica o diretor comercial da Bradesco Templeton, José Roberto de Castro Santos.
O banco Matrix também partilha dessa opinião. “As fundações querem rentabilidades acima do CDI agora, e a renda variável tem sido muito procurada. Dentro dela, o IBX é o índice mais adequado às fundações, porque é menos concentrado”, diz o administrador de renda variável do banco, Rodrigo Bresser.
Lançado no início de novembro, o seu fundo Matrix Institucional, um IBX ativo, que é o primeiro da empresa para esse público na renda variável, já captou R$ 5 milhões de quatro fundações. Sua carteira mescla ações de primeira e segunda linha, que tenham um bom nível de liquidez.
A demanda das entidades por esse perfil de fundo também permitiu à Liberal Asset Management lançar, há cerca de três meses, um fundo ativo IBX que já contabiliza R$ 40 milhões. Segundo o diretor comercial Guilherme Cavalcanti, a oportunidade de abrir o fundo surgiu com a migração de uma carteira institucional de renda fixa para variável, e em seguida vieram novas captações. “As fundações estão percebendo que investir em renda variável é uma ótima opção para quem se baseia em mecanismos sólidos de controle de risco e parâmetros fundamentalistas”, acrescenta.
Mercer disponibiliza seu índice de ações
A William M. Mercer já está disponibilizando ao mercado o seu índice para avaliar o desempenho das carteiras dos fundos de pensão, que está sendo elaborado desde o início do ano, conforme divulgou a edição nº 61 da Investidor Institucional. O IMercer é uma ponderação das principais ações que fazem parte da carteira de investimentos de 69 entidades que são clientes da consultoria, com um porte médio de R$ 100 milhões.
De acordo com o responsável pela área de investimentos da empresa, Luís Lima, a divulgação do índice será pública, mas terão acesso à carteira apenas os clientes do serviço de investimentos da consultoria. A carteira do índice é atualizada a cada três meses, com base nos balanços das fundações no final de cada trimestre do ano.
O cálculo do índice é retroativo a 1997, ou seja, ele já nasce com um histórico de três anos. “O IMercer reflete carteiras de fundações, e por isso é um bom benchmark para elas”, acrescenta Lima.
Em 1999, até setembro, o índice acumulava valorização de 42,28%, contra 57,79% do Ibovespa e 38,05% do IBX. Veja, no quadro, as principais participações da carteira do Imercer.
PRINCIPAIS AÇÕES DO IMERCER
Petrobrás PN 13,31%
Recibos de Telebrás RPN 12,87
Eletrobrás ON 5,77%
Vale do Rio Doce PNA 5,26%
Telemar PN 5,25%
Telesp PN 4,54%
Itaubanco PN 3,78%
Telesp Part. PN 3,72%
Telesp CI PNB 3,54%
Banespa PN 3,51%
Fonte: William M. Mercer