Edição 86
Avaliar o desempenho das diretorias da Previ do Banco do Brasil e contribuir para que a atuação de suas diversas áreas esteja em sintonia com o planejamento estratégico da entidade. Este é o principal desafio da recém-criada gerência de controladoria do maior fundo de pensão latino-americano, que conta atualmente com uma carteira de investimentos de mais de R$ 33 bilhões. Além disso, a controladoria deve auxiliar o fundo na centralização e transmissão de informações tanto para participantes como para o órgão fiscalizador de acordo com as novas regras da Resolução n° 2.720 do Conselho Monetário Nacional.
A nova área de controladoria do fundo começou a ser desenhada em dezembro do ano passado por um grupo de trabalho formado por profissionais da própria Previ e por consultores da Fipecafi-USP, mas o início de suas atividades ocorreu apenas em julho passado. O conselho deliberativo da Previ aprovou a criação da gerência no final do ano passado e desde então foram realizadas diversas reuniões para explicar aos membros das diretorias da entidade qual o seu papel. “Tivemos que quebrar diversas resistências internas e convencer todas as áreas sobre a importância do trabalho da controladoria”, conta Octávio Mauro Alves, executivo que comanda a nova gerência.
Ele comenta que no início a controladoria não foi vista com bons olhos porque as pessoas pensavam que sua função era meramente policialesca. “Conversamos muito com os dirigentes do fundo para mostrar as vantagens que seriam alcançadas com a estruturação da nova área”, diz.
Atualmente, a administração do fundo divide-se em seis diretorias, que apresentam uma estrutura global de gestão compartilhada. Três diretores são indicados pela patrocinadora (presidente, investimentos e administrativo) e outros três são eleitos pelo voto direto dos participantes (seguridade, planejamento e participações). O relacionamento entre as diretorias não costuma ser dos mais tranquilos. Ao contrário, os conflitos entre as áreas chegam a situações extremas devido aos interesses políticos envolvidos sobretudo no processo de gestão dos recursos. “O trabalho da controladoria terá condições de avaliar o impacto das decisões e atitudes das diretorias e, por isso, deve aumentar a transparência na administração do fundo”, prevê Octávio Alves.
Resultados – O modelo de controladoria, que foi elaborado pelo Departamento de Ciências Contábeis e pela Fipecafi da USP, permite a mensuração dos resultados das atividades das áreas de acordo a critérios padronizados. Ou seja, haverá a utilização de padrões de análise de desempenho do trabalho das diretorias para indicar qual o nível de contribuição que cada uma está realizando para o conjunto e se as atividades estão adequadas ao planejamento estratégico da Previ. “Nosso modelo conceitual de controladoria permite a otimização dos resultados da organização através da geração de informações para a tomada de decisões e a integração entre as áreas”, explica Reinaldo Guerreiro, chefe do departamento de ciências contábeis da USP e diretor da Fipecafi.
O professor da USP atuou anteriormente em um projeto semelhante para o Banco do Brasil e agora dedica-se ao projeto da Previ. “Hoje, o Banco do Brasil possui uma das estruturas de controladoria mais avançadas do setor financeiro e o modelo da Previ deve trilhar pelo mesmo caminho”, prevê Reinaldo Guerreiro. Apesar de guardar semelhanças com o projeto de sua patrocinadora, o modelo da Previ procura atender às necessidades específicas do fundo de pensão. “O trabalho não se resume à implantação de um software padrão, mas procura adaptar-se às condições específicas de cada organização”, afirma o professor da USP.
Neste momento, a gerência de controladoria da Previ e o diretor da Fipecafi estão elaborando a modelagem do sistema que será utilizado no fundo. O sistema é formado por quatro módulos: simulação, orçamento, realizado e desempenho. A partir de simulações econômicas, a controladoria é capaz de fornecer cenários que auxiliam na tomada de decisões das diversas áreas da fundação. Os módulos de orçamento e o realizado mostram como as decisões são implementadas de acordo ao que foi orçado. Por fim, o módulo de desempenho avalia os resultados das atividades das áreas a partir de critérios padronizados.
As informações e análises serão disponibilizadas em relatórios e tabelas que mostrarão as receitas, despesas, riscos e resultados econômicos das diretorias e de suas gerências. “A controladoria não define o que o gestor deve fazer ou toma decisões por ele. Nossa área tem a finalidade de subsidiar as decisões do gestor com simulações e informações e depois, cumpre o papel de avaliar seu desempenho”, sintetiza Octávio Alves, gerente de controladoria da Previ.
Ajuda à fiscalização – O sistema deve começar a funcionar a partir de março ou abril do ano que vem, coincidindo com o prazo dado aos fundos de pensão para o enquadramento de acordo às novas regras da Resolução n° 2.720 do Conselho Monetário Nacional. Um dos papéis centrais da nova área será auxiliar a Previ na elaboração e transmissão de informações a respeito dos investimentos do fundo tanto para o órgão fiscalizador como para os participantes.
Outro papel importante da nova gerência será a contribuição para o alongamento do planejamento estratégico do fundo de pensão em um horizonte de mais de 10 anos. A Previ está se aproximando da fase de maturidade, na qual os pagamentos de benefícios superam as receitas dos planos. “A controladoria deve acender sinais de alerta no painel de controle da Previ indicando quais os cenários desfavoráveis para a evolução dos planos de benefícios e dos investimentos”, afirma o gerente de controladoria.