Relações suspeitas com os administradores

Edição 9

Muitas consultorias que recebem por comissões estão sendo questionadas
pelos patrocinadores de planos de previdência

Muitas consultorias que recebem por comissões estão sendo questionadas
pelos patrocinadores de planos de previdência. Existem suspeitas de que
algumas delas recebam comissões dos administradores de recursos para
que os indiquem a seus clientes.
Poucos administradores admitiriam que contratam serviços secundários
dessas consultorias, como banco de dados e métodos de avaliação de
performances, para estreitar relações com elas e conseguir um favor
quando necessário. Mas o volume de administradores presente em
eventos promovidos por esses consultores parece suspeito a alguns
observadores do mercado.
Um alto executivo de uma grande consultoria – que recebe valores fixos
por seus trabalhos – afirma que, quando é procurado por investidores
para dar uma segunda opinião sobre a concorrência para a escolha de um
administrador, sempre encontra indicações duvidosas. “Isso nunca
aparece claramente, mas existe”, diz ele em reportagem publicada pela
revista Institucional Investor.
Alguns administradores de recursos confirmam que realmente existem
relações obscuras do setor com as consultorias. Algumas delas são
conceituadas, mas o seu faturamento com comissões muitas vezes
depende de suas ligações com administradoras de recursos e corretoras.
Existem ainda consultores que expõem o jogo abertamente. Um
administrador conta que, uma vez, foi chantageado por um deles. “Eu não
te coloquei na concorrência porque você nunca me ajudou”, disse, pelo
telefone. A Aronson & Partners é outro exemplo: a firma nunca está nas
indicações das consultorias comissionadas. “Nós não negociamos e eles
nos deixam sozinhos”, afirma o presidente da empresa, Theodore
Aronson.

Valores fixos – As grandes consultorias da área de previdência cobram
cada vez mais valores fixos pelos serviços que prestam, abandonando as
comissões. Dessa forma, as relações entre os fundos de pensão e as
consultorias têm mais transparência e menor possibilidades de
favorecimentos.
Segundo o presidente da Callan Associates, Ronald Peyton, as taxas fixas
representam mais da metade do seu faturamento. Já a Frank Russell só
trabalha com taxas fixas, diz Jan Twardowski, presidente da empresa.
Assim como outras grandes, também oferece operações de corretagem
através das quais o cliente pode recuperar o que pagou à firma.
Mesmo as consultorias de propriedade de corretoras concordam com o
aumento da prática de taxas fixas. É o caso da Smith Barney Consulting
Group, embora o presidente Frank Campanali opine que é melhor pagar
comissões às consultorias do que deixar que os administradores de
recursos o façam. As taxas fixas representam hoje 75% do faturamento
da empresa, contra 50% de dez anos atrás. Uma das razões para essa
mudança, segundo Campanali, é o receio dos fundos de pensão de violar
a lei ao pagar pelos serviços com comissões.

Estigma – Algumas empresas têm tomado medidas para eliminar de vez
as suspeitas que pairam sobre as consultorias que pertencem a
corretoras. Há mais de dois meses, os diretores da Bear Stearns Fiduciary
Services compraram a firma do grupo Bear Stearns Cos. Inaugurada em
1985 por Frank Lilly, ex-conselheiro geral do Departamento de Trabalho
dos EUA, a consultoria sempre cobrou seus serviços com valores fixos,
mesmo sendo ligada a uma corretora. Segundo Lilly, entretanto, “é uma
batalha difícil convencer as pessoas de que não existe conflito de
interesses”. A nova empresa, agora com o nome de Independent Fiduciary
Services, é especializada em serviços a grandes fundos de pensão
públicos.
A Dean Witter Investment Consulting Services também sofre discriminação
de clientes potenciais por ser ligada a uma corretora. Segundo John Vann,
ex-alto executivo da consultoria, que hoje tem sua própria empresa, os
serviços prestados pela Dean Witter são totalmente independentes e
sempre foram pagos em valores fixos. “É importante que uma consultoria
não fique apenas falando que é independente, mas que documente isso”,
opina.