Fundos discutem o uso do cartão de crédito

Edição 8

Um projeto polêmico está dividindo as opiniões de administradores de
fundos de contribuição definida, economistas e legisladores nos EUA

Um projeto polêmico está dividindo as opiniões de administradores de
fundos de contribuição definida, economistas e legisladores nos EUA: a
criação de um cartão de crédito cujas despesas poderiam ser debitadas da
reserva de poupança do participante. A polêmica, segundo relata
reportagem da revista Institutional Investor, é entre os que defendem
mais liberdade na gestão desses recursos e os que querem mais
poupança para o país.
A idéia do cartão de crédito foi concebida por dois economistas – um deles
é Franco Modigliani, que ganhou o Prêmio Nobel em 1995 por seu trabalho
sobre o ciclo de vida das poupanças – e os direitos foram vendidos ao
Banc One. Mas a polêmica foi tão grande que o banco desistiu do projeto,
mesmo depois de ter gasto US$ 200 mil no seu marketing inicial.
O congressista democrata Charles Schumer, de Nova York, por exemplo,
apresentou um projeto de lei para proibir a criação de cartões de crédito
com esse perfil. “Precisamos encorajar mais a poupança para
aposentadoria”, opina.
Entretanto, este é precisamente o objetivo do cartão de crédito, pelo
menos de acordo com o economista Franco Modigliani. “Emprestar do
plano de previdência é simplesmente um modo melhor de fazer aquilo
que as pessoas iriam fazer de qualquer forma”, diz. Ou seja, utilizar o
empréstimo pessoal previsto no seu plano só que de uma forma mais ágil.
Existem basicamente duas formas do participante obter um empréstimo
dos fundos 401 (k), nos Estados Unidos: deixando de contribuir por
razões específicas, como despesas com universidade, médicas ou a
compra de casa própria, ou tomando emprestado até 50% de sua reserva
de poupança (com um teto máximo de US$ 50 mil) e pagando em até
cinco anos, com juros. Com o cartão de crédito, o participante do fundo
poderá integrar essas formas de empréstimo ao seu cotidiano.
Segundo os defensores da idéia, o cartão de crédito poderia trazer novos
participantes a esses fundos. Pesquisa da Access Research mostra que os
planos de previdência que oferecem privilégios para empréstimos – e a
maioria oferece – têm um número de participantes 10% maior (uma
média de 78% dos empregados da empresa) que os outros (cuja média
está em 71%).

Jovens – Como o procedimento para empréstimos pessoais pode demorar
muito tempo, o cartão teria uma grande demanda, especialmente de
pessoas mais jovens. “Eles pensam: eu tenho uma casa, uma esposa e
um filho pequeno. Se preciso de dinheiro para uma emergência, com que
rapidez posso conseguir?”, pergunta John Russell, porta-voz do Banc One.
O banco enxergou esse filão de mercado e comprou a idéia. Seu lucro
viria de uma taxa de administração e processamento de 3,9% ao ano,
paga pelo participante ou pela patrocinadora.
“É melhor que as pessoas tomem emprestado de seu próprio patrimônio e
paguem juros a elas mesmas”, considera Modigliani. Ele argumenta ainda
que os custos financeiros do seu cartão de crédito seriam entre 6% e 10%
menores que os dos cartões tradicionais. Na comparação com um crédito
bancário, ele diz que “a vantagem fundamental é que, sendo credor do
cartão, o participante não tem nenhum risco. Elimina o risco e paga menos
pelo empréstimo”. Modigliani argumenta ainda que os juros que os
participantes pagam a eles mesmos podem ser maiores que os
rendimentos que receberiam de um fundo de mercado de capitais, por
exemplo.
Para Peter Smail, presidente do Fidelity Institutional Retirement Services,
um plano 401 (k) de contribuição definida, garantir despesas
emergenciais é uma coisa, “mas dar um cartão de crédito nas mãos dos
participantes é outra completamente diferente”. Ele afirma que seu fundo
não pretende oferecer cartões aos participantes e que não existe
demanda de seus clientes por um produto desse tipo.

Nova forma – Para enfrentar as críticas, Modigliani e Francis Vitagliano – o
co-inventor do cartão – reformataram o projeto. Inicialmente, o
participante poderia gastar até 50% dos seus ativos, o que foi reduzido
para 40% ou US$ 10 mil (o valor que for menor). Também propuseram
que uma parte do restante da reserva de poupança seja investido num
fundo de valor estável, para rebater os argumentos de que os saques com
o cartão reduziriam os ganhos e dificultariam a acumulação de recursos
para a aposentadoria.
O lado ruim do projeto apontado pelos próprios criadores, é que qualquer
falha incide sobre os ativos dos tomadores. Outro ponto é que a lei impõe
severas penalidades e multas para os inadimplentes com os empréstimos
dos planos de contribuição definida.
Com a saída do Banc One, a dupla Modigliani e Vitagliano tenta vender a
idéia para administradoras como a American Express (que não quis se
pronunciar sobre o assunto).