Edição 8
Praticamente uma exigência de qualquer investidor no mercado externo, a
classificação de risco
Praticamente uma exigência de qualquer investidor no mercado externo, a
classificação de risco, ou rating, só agora começa a decolar no Brasil. A
recente crise do sistema financeiro, que resultou na liquidação de várias
instituições, abriu os olhos do investidor interno para a necessidade de um
sistema de avaliação de risco mais profundo que o simples exame dos
balanços dos bancos com os quais operavam. Os próprios bancos, pelo
menos os que estavam bem, se apressaram em contratar empresas
classificadoras, para mostrar sua situação ao mercado e a tendência é de
crescimento nessa área.
“No exterior, o rating está diretamente relacionado ao retorno, quanto
maior o risco do banco, maior a taxa de juros a ser paga nas suas
captações”, diz Sheila Sirota Von O. Gaul, diretora executiva da SR Rating.
Ela explica que o objetivo da classificação é justamente definir os juros em
função do risco. Essa relação é mais comum em mercados maduros como
EUA e Europa. “Lá todos os papéis tem rating, só escapam os junk
bonds”, conta.
Para Adilson Bueno, analista de projetos especiais da Atlantic Rating, “os
bancos brasileiros que já fazem captação no exterior conseguem uma
diferença razoável na taxa de juros dependendo da nota obtida no rating”.
No Brasil, por enquanto, a principal motivação dos bancos é usar o rating
como indicativo de transparência, “para mostrar aos seus clientes que está
tudo bem com a instituição”, afirma Sheila Gaul.
Segundo Sheila, a procura pelo serviço está aumentando e favorece os
investidores, entre eles, as fundações. “Os fundos de pensão, por serem
os maiores investidores institucionais, têm sido beneficiados por essa
tendência”, afirma. O rating é feito por solicitação do banco que autoriza
ou não a divulgação da nota obtida. Assim, quanto maior for o número de
instituições dispostas a se submeter a esta avaliação, maior a
possibilidade de aumento do volume de informação.
Hoje existem apenas duas empresas de rating no Brasil, a SR Rating e a
Atlantic Rating, mas o aumento da demanda por esse serviço já desperta
o interesse da concorrência. No início de janeiro, a Standard & Poor’s (S&P)
Rating Services, dos EUA, fechou um acordo operacional com a Fundação
Getúlio Vargas (FGV) para atender empresas brasileiras interessadas na
emissão de papéis no mercado externo. Um primeiro passo para a
instalação de um escritório próprio no Brasil ou associação com uma
companhia local.
A SR e a Atlantic operam em parceria com empresas de fora (a primeira
com a Duff & Phelps e a segunda com a Thompson BankWatch), das quais
recebem toda a tecnologia necessária para operar o serviço de rating, uma
área até agora praticamente inexplorada no País.
Perspectivas – “É uma questão cultural, nos EUA o rating existe desde
1902”, afirma Sheila Gaul. Mas a falta de tradição em classificação de risco
no Brasil não impede que as perspectivas para o setor sejam
favoráveis. “Há um interesse crescente no rating, o mercado está
gostando de receber um volume maior de informações e começa a
pressionar os emissores para que divulguem a classificação de risco de
seus papéis”, diz.
Para ser efetuado adequadamente, o rating exige a colaboração total da
instituição examinada, que tem de abrir todos os seus números aos
analistas da empresa classificadora, inclusive dados estratégicos. Os
analistas dão especial atenção a itens como descasamentos entre ativo e
passivo, a forma como o banco é administrado, como ele calcula o risco,
como os diferentes escalões dentro do banco são autorizados a assumir
riscos.
Além disso, a SR tem indicadores internos de performance, que avaliam
os últimos resultados, as perspectivas, a adequação da instituição ao
mercado em que se encontra e se está preparada para enfrentar a
concorrência.
Confidencialidade – “Por questões de segurança, é assinado um contrato
de confidencialidade entre o banco e a classificadora”, observa Sheila.
Embora a nota possa eventualmente ser divulgada, o relatório com a
radiografia completa da instituição é sigiloso e de propriedade do
contratante.
“Diariamente recebo telefonemas de empresas querendo comprar
informações, mas não prestamos esse serviço, apenas divulgamos a nota
e isso quando a instituição permite”, diz a executiva. Ela explica que o
procedimento é o mesmo praticado no exterior: o rating é feito apenas
sob solicitação. No entanto, em períodos de instabilidade, os investidores
pressionam as agências de classificação para que façam levantamentos,
mesmo que à revelia dos bancos.
“Nesses momentos, as classificadoras fazem a avaliação no peito e na
raça, nem sempre com todas as informações necessárias, o que pode
acabar gerando distorções”, afirma. “Um exemplo é a avaliação feita pela
Moody’s no auge da crise bancária brasileira, que deu uma nota boa para
o Nacional, e o banco acabou fechando, e uma pior para o Bamerindus,
que continua aí”, completa Sheila.
Além da classificação de risco, feita a pedido do banco interessado, a
Altantic Rating também opera o serviço de classificação por score, que é
mais resumido que o rating, conta Adilson Bueno. O serviço é feito por
iniciativa da empresa e é vendido através de assinatura anual. O Score
abrange os bancos que ainda não tem rating e é o resultado de cálculo
envolvendo índices considerados importantes para determinar o risco e a
qualidade do banco. As fontes são as demonstrações financeiras e as
informações publicadas e auditadas.
De acordo com Bueno, no sistema de score, o banco é classificado com
notas de 10 a 1 em relação aos 60 maiores bancos brasileiros. Para se
chegar à nota, são avaliados conceitos como liquidez, risco dos ativos,
volume de depósitos, o desempenho da instituição nos últimos três anos,
quem são seus principais clientes e controladores. Existe também uma
avaliação subjetiva, feita a partir de entrevistas com representantes da
instituição. Segundo Bueno, 67% da nota é quantitativa e 33% qualitativa.
Clientes – Esse serviço é fornecido através de assinatura anual e o
crescimento dos últimos anos atesta o interesse do mercado. “De 1995
para cá, o número de clientes saltou de 80 para 200”, comemora. Dentre
esses clientes estão fundações como a Previ, Petros, Eletros, Funcef, Telos
e grandes empresas, como a Autolatina, Cargill Agrícola, Goodyear do
Brasil, Philips, Petrobrás. No exterior, instituições como o Federal Reserve
Bank of New York e o Eximbank.
Toda operação cujo objetivo é captar recursos junto aos investidores pode
ser submetida à classificação de risco. No Brasil, o destaque são as
operações de securitização de títulos, conta Sheila Gaul. É grande a
procura pelo rating de securitização de recebíveis de exportação, cujos
recursos são captados no exterior.
Isto porque a empresa emissora precisa da nota para negociar seus
papéis em melhores condições lá fora. Os investidores domésticos estão
na mesma linha e já exigem a classificação de risco, especialmente para
operações de securitização de recebíveis, e a tendência é de que o
mercado esquente a partir deste ano, acredita a executiva. A classificação
mais recente feita pela SR Rating foi para a Bahia Trust, que emitiu
debêntures e notas promissórias.
Concorrência – A SR Rating é a única empresa instalada no Brasil que faz
rating de papéis, mas seu reinado está ameaçado. A Atlantic Rating
acabou de fechar acordo com a Fitch Investor – a terceira maior empresa
de avaliação de risco nos EUA, especializada em empresas não-
financeiras – e vai passar a fazer rating de empresas e de papéis, tanto
para captações no exterior como no mercado interno, conta Adilson Bueno.
Notas DA SR PARA Instituições Financeiras –
Unibanco: A+
Banco Fenícia: BBB+
Banco Mercantil de Descontos: BBB–
Banco Boavista: BBB
Oliveira Trust DTVM: BBB