Edição 8
Nos últimos dias do ano passado, enquanto se festejava a inauguração do
parque aquático de Salvador (BA), outro parque com as mesmas
características do baiano vivia uma situação inversa
Nos últimos dias do ano passado, enquanto se festejava a inauguração do
parque aquático de Salvador (BA) – um empreendimento conjunto da
Funcef com a Organizações Suarez –, outro parque com as mesmas
características do baiano vivia uma situação inversa. Por causa de um
estouro no orçamento, que deve dobrar o seu preço original, o projeto
aquático de Ribeirão Preto foi paralisado em setembro.
Há mais de quatro meses que a obra vive uma situação de indefinição.
Incorporado pela empresa paulista DVS, que contratou a construtora
Intarco (uma ex-divisão do grupo Philips, hoje independente) para sua
realização, o parque de Ribeirão Preto foi a primeira tacada da
administradora norte-americana de parques, a Wet’n Wild, no Brasil. A
empresa norte-americana contatou a DVS há quatro anos, apresentando a
proposta de construção de um parque aquático semelhante aos que ela
administra nos Estados Unidos. A incorporadora paulista, depois de várias
viagens aos Estados Unidos, onde conheceu os quatro parques
administrados pela Wet’n Wild, topou a parada.
O projeto foi orçado pela DVS em US$ 13 milhões, incluindo a compra de
terreno, a construção das obras civis e a aquisição dos equipamentos e
brinquedos. Através do banco Chase Manhatthan, a DVS emitiu
debêntures do empreendimento, que foram compradas pela PSS (Philips),
Economus (Nossa Caixa, Nosso Banco), Femco (Cosipa), Previnor
(petroquímicas do polo de Camaçari), Fipecq (CNPQ, IPEA, INPE e Finep),
Lochtite (da fundação do mesmo nome) e Aeros (17 companhias do setor
de aviação).
Única semelhança – Com as obras ainda pela metade, até setembro do
ano passado o projeto já tinha consumido US$ 14 milhões. A projeção
atual é que o parque consuma outros US$ 14 milhões para sua conclusão,
somando no final um custo de US$ 28 milhões.
O novo orçamento, de US$ 28 milhões, foi apresentado pela Wet’n Wild e
baseou-se nos custos totais do recém-inaugurado parque aquático de
Salvador, cujas dimensões e aparelhagens são semelhantes. Essa é,
entretanto, a única semelhança entre os dois. Para financiar o parque de
Salvador, projetado quase na mesma época, os dirigentes da construtora
Suarez procuraram a Funcef com um orçamento de US$ 27 milhões na
pasta, e respeitaram o que apresentaram à parceira. O empreendimento
custou exatamente isso. Evitaram, dessa forma, um problema para a
Funcef.
Segundo César Ribeiro do Val, dono da DVS, foi a Wet’n Wild quem o
induziu a uma projeção errada. “Tenho tudo isso por escrito”, afirma. Mas
a versão do gerente administrativo da Wet’n Wild no Brasil, Marcos Paes
de Barros, é outra. De acordo com ele, a DVS foi várias vezes alertada
pelos Estados Unidos para o fato de que orçamento de US$ 13 milhões
era muito baixo. “Além disso, não tínhamos controle direto sobre o projeto
nem sobre o orçamento”, diz Barros, contando que o acompanhamento
era feito pelo escritório dos Estados Unidos através de relatórios enviados
pela DVS. De qualquer forma, a questão a ser resolvida agora é quem irá
suplementar os recursos para a conclusão do parque de Ribeirão?
As sete fundações que participam do empreendimento não parecem
dispostas a bancar sozinhas essa suplementação. E a situação é de
impasse. “Existe o contrato de franquia, eles (os investidores) podem
completar o orçamento, e terminar o parque, ou não”, diz Barros, da
Wet’n Wild. Segundo ele, a rede não participa financeiramente de
nenhuma franquia.
Adiada – Investidores e a franqueadora dos Estados Unidos tinham uma
reunião marcada para antes do Natal passado, quando tentariam achar
uma saída para o impasse. Mas a reunião não aconteceu. Devem ter uma
reunião nas próximas semanas. Participará também o banco
Chase. “Vamos decidir agora quem vai aportar o capital adicional”, explica
Luís Felipe de Medina, diretor de investimentos da Fipecq.
Além da questão financeira, também devem ser definidas nessa reunião o
nome das empresas que irão concluir a obra. A DVS está fora do projeto e
a Intarco quase. O consórcio de investidores já rompeu o contrato com a
DVS (ela está entrando na Justiça com um processo indenizatório contra a
Ribeirão Preto Water Park, a empresa criada para deter o controle
acionário do parque e a quem transferiu os direitos de franquia da Wet’n
Wild no Brasil no final de 94) e pode fazer o mesmo com a Intarco.
Aliás, as relações entre a DVS, que era a empreendedora do parque, e a
Intarco, que foi contratada por ela, também não são das melhores.
Ribeiro, da DVS, acusa a Intarco de ter ratificado as projeções erradas da
Wet’n Wild. “Hoje, estamos vendo que o que os americanos disseram, e a
Intarco ratificou, estava errado”, diz. O primeiro estouro do orçamento,
estimado em US$ 3 milhões, aconteceu em 1995 e o segundo em junho
do ano passado. Procurada por este jornal, a Intarco não quis se
manifestar.
O dono da DVS acusa ainda a Wet’n Wild de ter forçado a importação de
equipamentos para os brinquedos, encarecendo o custo do parque. “No
Brasil, tínhamos produtos de igual qualidade a preços menores”, afirma.
Acusações à parte, o certo é que enquanto a Funcef já esta ganhando
dinheiro com seu empreendimento em Salvador, os sete investidores do
parque de Ribeirão Preto sequer sabem como concluir o projeto.
Lançamento no Rio
A despeito dos problemas enfrentados pelos investidores do parque
aquático de Ribeirão Preto, outros projetos na área de entretenimento
estão sendo oferecidos aos fundos de pensão. Um deles é o fundo
imobiliário que está sendo organizado pelo Banco Bozano, Simonsen,
destinado a levantar R$ 66 milhões para a conclusão do parque temático
Terra Encantada, no Rio de Janeiro, cujo valor total está estimado em R$
220 milhões.
As cotas do fundo estão sendo oferecidas somente para fundações. No
final do ano passado, o banco fez apresentações para mais de 30 fundos
de pensão, que devem definir sua participação no projeto neste mês de
fevereiro, conta Marcelo Moraes, gerente de corporate finance do banco.
O diretor superintendente da Previkodak, Rubens Barros, vai recomendar
à diretoria da fundação a compra de cotas do fundo. Se decidir pela
participação, será o primeiro investimento da Previkodak no setor
imobiliário. Até agora, a carteira de R$ 30 milhões da fundação, que é
terceirizada, está direcionada apenas ao setor financeiro, com 70% dos
recursos em renda fixa e 30% em ações.
A diretoria da Previkodak está estudando o investimento com cautela. “É
uma decisão difícil de se tomar porque ainda não temos nenhuma
aplicação no setor imobiliário, mas este empreendimento pode ser uma
boa alternativa de diversificação”, diz o diretor. Barros gostou
especialmente do fato de o parque temático contar com o apoio do BNDES,
que liberou uma linha de financiamento (R$ 50 milhões) para a aquisição
dos equipamentos.
Velhas conhecidas – Outro ponto favorável é que o parque será operado
pela ITPS, dos EUA, e tem contratos com empresas como Coca-cola,
Heineken e Mac’Donalds. “A nossa patrocinadora (Kodak) opera em
parceria com estas companhias no exterior”, conta. Para ele, investir em
entretenimento e diversão é um bom negócio, “desde que o produto seja
bem gerenciado e, ao que parece, é o caso deste empreendimento”,
completa.
Lotado – Já o chefe do departamento de administração da Fapes
(patrocindada pelo BNDES), Carlos Diniz, diz não irá investir no fundo. “O
parque tem um potencial muito grande, principalmente por ser pioneiro no
Rio, mas não podemos mais aumentar nossas aplicações no setor
imobiliário”, explica.
A fundação tem 18% do patrimônio de R$ 810 milhões ancorados em
imóveis (shopping center, depósitos e edifícios comerciais). Outros 40%
estão em renda fixa e 35% em ações.
Segundo Diniz, no momento os administradores da Fundação estão
estudando como se dará a desmobilização dos investimentos em imóveis,
que, nos próximos quatro anos terá de baixar para 15% do patrimônio.