Edição 65
Os dois Congressos anteriores tiveram como tema principal das conversas
situações de crise
O 20º Congresso da Abrapp pretende reunir durante três dias, em São
Paulo, nas dependências do Hotel Meliá, um público de cerca de 1.500
dirigentes de fundos de pensão e gestores de recursos de terceiros. Esse
público irá participar, durante os dias do evento, de uma maratona de
nada menos de 10 painéis de debates, os quais serão apresentados por
cerca de meia centena de especialistas. Nas próximas páginas, o leitor de
Investidor Institucional poderá encontrar uma síntese dos vários painéis,
que o ajudarão a acompanhar o desenvolvimento dos trabalhos do
Congresso.
Os dois últimos congressos da Abrapp aconteceram sob o signo do
espanto, ao trazerem fatos externos surpreendentes para o sistema
exatamente nos dias marcados para os eventos. No caso do 18º
Congresso, ocorrido também em São Paulo, em 1997, o tradicional
coquetel de confraternização teve como assunto principal das conversas a
queda vertiginosa das ações nas bolsas de valores do mundo todo, em
consequência da crise asiática. Nos dias seguintes, nos corredores do
mesmo hotel Meliá, os participantes do evento eram vistos a todo
momento com seus celulares em punho (naquele ano, o aparelho era
ainda uma novidade para muitos), conversando com suas respectivas
fundações ou empresas de gestão e se informando do tamanho dos
prejuízos.
No ano passado, em Florianópolis (SC), o tema dominante no coquetel de
confraternização também foi externo ao evento. Os presentes, entre um
canapé e outro, trocavam impressões sobre o pacote fiscal do governo,
em preparação e que seria publicado no terceiro dia do evento. Sem saber
do que se tratava, dirigentes de fundos de pensão e de empresas de
administração de recursos faziam suposições as mais negras. Ao final,
quando da sua publicação, a maioria suspirou aliviada: a pancada não
tinha sido tão dura. Ao menos não seria sentida imediatamente. O
aumento da alíquota do CPMF, de 0,20% para 0,38%, só iria vigorar em
1999.
Este ano o ambiente parece mais propício aos debates envolvendo o
próprio sistema. A exposição dos fundos de pensão nos últimos anos,
participando de vários projetos importantes de investimento e dos leilões
de privatização, colocaram o sistema sob os holofotes. Hoje, a sociedade
já se dá conta de que essas entidades previdenciárias são fundamentais
para sustentar os projetos de crescimento do país.
Os principais painéis desse 20º Congresso são justamente nessa área,
crescimento e investimentos. “A previdência resolve aspectos sociais
importantes dentro do país, como a questão da seguridade, mas ao
mesmo tempo ela também é um grande formador de poupança
doméstica de longo prazo, que permite alavancar o desenvolvimento de
que nós tanto precisamos”, explica o presidente da Abrapp, Carlos Duarte
Caldas (ver entrevista na página 8).
Nessa mesma entrevista, Caldas levanta uma outra questão fundamental,
que é a utilização de recursos de fundos de pensão como instrumento de
financiamento às exportações, permitindo às pequenas e médias
empresas alavancarem suas vendas externas.
Outra modalidade de investimentos que tem o perfil dos fundos de
pensão é a área de infra-estrutura. Segundo o ex-diretor do BNDES, José
Pio Borges, que fará a apresentação de um dos painéis, “a entrada dos
investidores estrangeiros foi importante até agora, porque havia a
necessidade de dólares e também porque, no caso da venda da Telebrás,
que foi o leilão mais significativo, seria muito difícil vender R$ 20 bilhões
num só dia sem a participação do capital externo. Mas a partir de agora
devemos ter uma recomposição dos investimentos, tendendo a um certo
equilíbrio entre capital externo e institucionais”. Para Borges, os
investimentos das fundações na área de infra-estrutura devem
representar entre 30 e 40% do total (ver página 36).