Edição 62
Investidores dos Estados Unidos questionam a eficácia de se dar total
transparência a fundos do tipo do LTCM
O problema com o Long Term Capital Management colocou a palavra
transparência na ordem do dia entre investidores em Hedge Funds, que
acreditam que se tiverem acesso a todas as informações do fundo
poderão precaver-se de futuras calamidades. Mas a necessidade e a
eficácia dessa enxurrada de dados sobre fundos começa a ser
questionada.
Um novo estudo sobre hedge funds feito pela Tremont Partners Inc. em
conjunto com a TASS Investment Research Ltd. (divisão da Tremont
Advisors Inc.) argumenta que “transparência é uma via de mão dupla,
porque tem um potencial para ser mal-interpretada ou mal-utilizada”,
conta reportagem da Pension&Investments.
Hoje, uma forte demanda dos investidores é que os administradores lhes
informem a posição da carteira on-line e em tempo real. No caso de
hedge funds, sobretudo os que têm patrimônio superior a US$ 500
milhões, o excesso de transparência pode até mesmo prejudicar a
rentabilidade do fundo. Isso porque significa tornar pública a estratégia de
investimentos, num mercado onde há poucos participantes para dar
liquidez ao tipo de aplicações feitas por esses fundos.
“Isso não significa que os provedores de liquidez se aproveitam de seus
clientes. Mas existem práticas comuns em mercados não-regulamentados
que seriam consideradas ilegais em mercados regulamentados”,
acrescenta Hunt Taylor, vice-presidente senior e gerente de
desenvolvimento de produtos da Tremont Advisors.
O relatório também faz considerações sobre a utilização dos modelos VaR
(Value at Risk), dizendo que não há evidências empíricas de que o
modelo “proteja os investidores de crises no mercado”. “Para que o VaR
funcione, você tem que estabelecer padrões de como os mercados se
comportam”, diz ele. “Num ambiente de crise, poucos padrões podem
prever o comportamento humano” acrescenta, citando como exemplo o
que aconteceu durante a crise russa, no ano passado. “Os defensores do
VaR foram os mais criticados de todos”.
Não surpreende que alguns executivos de fundos de pensão discordem do
estudo, tanto no que se refere à transparência quanto ao VaR. “O VaR
serve para dizer quanto risco você está assumindo, e não se o mercado
vai ou não entrar em crise”, sustenta Steven Fierstein, analista financeiro
sênior da General Electric Investment Corp., que administra do fundo de
pensão dos funcionários de todo o grupo, um patrimônio de US$ 59,4
bilhões.
Mais transparência – Para Jeff Landle, diretor de investimentos alternativos
do Commonfund, fundo de pensão com US$ 21 bilhões, “mais
transparência é a melhor maneira de averiguar se o administrador está
fazendo um bom trabalho com base no risco ajustado ao retorno”. Ele cita
como exemplo o caso de um investidor com fortes posições em hedge
funds que tenha boa parte da carteira concentrada numa determinada
ação, envolvida numa fusão. Esse investidor “teria um risco alto e
precisaria saber disso”.
Landle concorda, entretanto, que “alguns portfólios são suficientemente
complexos ao ponto de a transparência não ajudar em nada a maioria dos
investidores”.
Para Mark Yusko, da Universidade da Carolina do Norte, a questão é mais
abrangente. “Gasta-se muito tempo no nível micro” – dissecando
investimentos individualmente – “e não se gasta tempo suficiente no nível
macro” – entendendo as estratégias de investimento, por que se faz ou
não determinadas operações. “Valoriza-se muito os dados, e o
conhecimento fica estagnado”, sentencia ele.