Edição 62
Com a estabilidade da economia, os fundos de pensão já começam a
pensar em conviver com uma realidade de taxas de juros baixos
Todo mundo concorda que, mais dia menos dia, as taxas de juros terão
de baixar. Quando isso pode acontecer, não se sabe. Sabe-se que não
será tão cedo que o custo do dinheiro vai romper a barreira dos dois
dígitos. Apostar em 15% a 18% ao ano nominais até o fim do ano parece
cabível – quando se sabe que o acordo com o Fundo Monetário
Internacional (FMI) prevê um patamar de 20% na média anual.
No entanto, dois fatores de peso conjuram contra a ponta mais baixa da
aposta: um é a Argentina, outro, o déficit público, cujo ajuste parece
teimar ainda em não sair do papel. “No curto prazo, eu diria, no prazo de
mais ou menos um ano, pelo menos, a impressão é que é impossível
imaginar juros abaixo de 18% ao ano. Reduzir juros implica redução do
déficit público, e esta variável ainda não parece ter sido plenamente
resolvida”, resume o gerente-geral de Finanças da Previbayer, Juan
Lopez. “Além disso, num ambiente de incerteza, de risco alto na
Argentina, reduzir juros espanta o capital internacional. Por isso, não
estamos trabalhando com perspectiva de juros baixos no curto prazo, e
sim com manutenção das taxas até o final do ano”.
“Já está na hora” – Fábio Schettino, diretor financeiro da fundação Acesita,
diz que as entidades de previdência privada sabem que, mais cedo ou
mais tarde, terão de encarar o planejamento de uma administração de
ativos sem contar com as altas taxas de juros hoje vigentes. “No horizonte
de uma fundação, está praticamente na hora de começar a pensar no
cenário de taxas de juros bem menores, do que 20% ao ano, como estão
hoje. Mas ainda não fizemos um estudo específico. Temos ouvido
propostas alternativas, e respondemos que ainda não chegou o momento
exato de considerá-las”.
A entidade tem recebido sobretudo propostas de investimento em
imóveis. Só que a Acesita considera prematuro, pela sua “pouca idade”,
formar uma carteira imobiliária. Não que o investimento imobiliário esteja
totalmente fora de cogitação. Apenas o patrimônio dela, hoje em dia,
ainda não atingiu a dimensão considerada ideal para esse fim. Outros
investimentos mais exóticos tampouco estão sendo avaliados, porque
somente um patamar inferior a 15% de taxas de juros ensejará uma
preocupação mais imediata com a diversificação de investimentos.
“Já tem gente propondo aplicação em fundos de private equity, em
clubes de futebol. Nós nem analisamos esse tipo de investimento”, conta
Schettino. “Na medida que for se concretizando a redução sustentada das
taxas de juros, para algo abaixo de 15% nominais ao ano, aí seria o
momento de se começar a avaliar as alternativas de investimento.”
Schettino até admite pensar em 15% a 16% ao ano de juro nominal no
final deste ano, com as taxas recuando possivelmente para 14% a 15%
anuais no ano 2000 se o déficit público for convenientemente reduzido ou
eliminado. Mas julga improváveis níveis inferiores nesse horizonte.
Conservadorismo – A Acesita está gerindo seus ativos de forma bem
conservadora, inclusive com a venda de uma parcela expressiva de sua
carteira de ações, que chegou a um pico de 30% mas desceu para 25% no
primeiro trimestre do ano. “É consenso que o mercado de ações tende a
ser bem mais nervoso, tanto por conta de fatores externos, como as
eleições presidenciais de outubro na Argentina e a indefinição sobre as
taxas de juros nos EUA, quanto questões estruturais internas. E a idéia de
reduzir a carteira de renda variável para não expor a carteira global às
volatilidades em perspectivas já provou ter sido uma decisão correta”.
A gestão da carteira da Acesita é terceirizada, mas os gestores da
fundação estão permanentemente acompanhando e analisando as
decisões de investimento do administrador profissional, enfatiza Schettino.
A fundação, além de não ter carteira de imóveis, também não faz
empréstimos a participantes nem à patrocinadora.
O presidente da Fundação Escelsos, Paulo Roberto Leite Ferreira, conta
que sua entidade já vem conversando com os administradores para
prepararem cenários dentro de um ambiente com taxas de juros mais
baixas. Assim como a Acesita, a fundação também tem recebido uma
gama variada de propostas e projetos alternativos de investimentos. Mas,
segundo Ferreira, embora esses estudos estejam sendo estudados a
fundação não pende para investimentos cujo retorno é de longo prazo,
como imóveis ou private equity. E o motivo é a migração de 91% de seus
participantes para o regime de Contribuição Definida, o qual implica a
necessidade de caixa para arcar com movimentação das carteiras dos
participantes. “Os participantes querem ver mensalmente a valorização
das cotas, de modo que se você parte para imobilizar um recurso maior,
vai mexer na valorização da cota”, assinala Ferreira.
Isso explica a carteira da fundação reservar menos de 2% das aplicações
para imóveis. No entanto, a entidade é menos conservadora no que diz
respeito à renda variável. “Estudamos bastante e chegamos à conclusão
de que, no médio prazo, investir entre 20% e 25% em renda variável é
até meio agressivo. A idéia é trabalharmos até 20% em renda variável, e
realizar o que passar desse percentual”, completa o presidente da
Escelsos.