O peso do sistema de risco da Previ

Edição 61

Numa concorrência em que várias empresas disputam a formatação de
seu sistema, elas vêem sobretudo a vantagem de ter acesso a um
precioso conjunto de dados

A concorrência aberta pela Previ para escolha de uma consultoria de
sistemas de risco deverá ter um peso decisivo no futuro do segmento.
Afinal, a consultoria que vencer essa corrida já largará com uma vantagem
quase imbatível na disputa pelos sistemas de outras fundações e
empresas de gestão de recursos.
Porque? Simplesmente porque o conjunto de informações da Previ é
provavelmente o mais complexo e completo do País. Além de representar
cerca de um terço do total dos ativos dos fundos de pensão, a fundação
dos funcionários do Banco do Brasil possui aplicações em quase todos os
tipos de ativos e tem compromissos com passivos muito diversificados. A
consultoria que ganhar a concorrência, ao fornecer o sistema de risco, tem
acesso a uma base de dados riquíssima na área.
O resultado da concorrência está para ser divulgado. Participam do
processo quatro empresas de grande porte, duas estrangeiras, a
Algorithmics e a Barra, e duas nacionais, a Prandini&Rabbat e o banco
BBM, além de outras empresas de menor porte.
Para qualquer uma delas, ter o maior investidor institucional do país como
cliente representa uma credencial importantíssima. Particularmente porque
neste segmento o Brasil está dando os primeiros passos, e a definição do
modelo da Previ pode servir como paradigma. Razões não faltam.
Em primeiro lugar, a fundação possui a mais ampla amostra dos ativos do
mercado brasileiro, com um histórico de 95 anos, que é a idade do seu
patrimônio. A Previ quer quantificar o risco de toda a sua carteira de
investimentos, de R$ 24,6 bilhões, distribuída entre os mais diversos
ativos, desde imovéis e títulos de renda fixa, até ações líquidas e pouco
líquidas, participações em empresas de distintos setores e ainda
empréstimos aos participantes.
Por si só, o acesso a essa rica massa de dados já agrega valor a um
negócio, porque informações quantitativas são o coração do negócio de
gestão de risco, que busca no comportamento passado da economia e
dos mercados os padrões que permitam antecipar movimentos futuros.
Com isso, pode-se preparar planos contingenciais para enfrentar novos
cenários.
Além disso, o sistema encomendado pela Previ extrapola aqueles
modelos de risco já existentes no mercado, para renda fixa e ações. O
fundo de pensão do Banco do Brasil quer um produto que abranja outros
ativos, demandando, ainda, um maior nível de detalhamento. Por isso,
permitirá à consultoria vencedora gerar know how para a criação de novos
produtos – e que poderão servir de base para atender às necessidades
de outros investidores, que não sejam fundos de pensão.
A fundação quer, por exemplo, um módulo específico dentro do seu
sistema para medir o risco de suas participações em empresas, ou risco
corporativo. Hoje, essas participações representam mais da metade da
carteira de renda variável, daí a sua importância.
As ações de controle de empresas têm uma característica diferente do
resto da carteira de renda variável, explica um dos técnicos da entidade
envolvido no processo, Luís Henrique Correa. “Essas ações incluem o risco
a que o fluxo de caixa dessas empresas está sujeito, com problemas
cambiais, entre outros. A cotação das ações no mercado reflete em parte
esse risco, porque guarda uma relação com a expectativa dos investidores
sobre a empresa. Mas os controladores precisam medir melhor isso, para
decidir sobre aportes de capitais, por exemplo”, esclarece.

Passivo – Além da carteira de investimentos, a fundação quer quantificar o
risco do seu passivo atuarial, um trabalho em que deve ser pioneira. Esse
passivo hoje é representado por 71,8 mil participantes ativos, e 46 mil
aposentados e pensionistas, um plano de benefício definido e outro de
contribuição definida para os novos funcionários do Banco do Brasil.
Como o risco atuarial está vinculado à política de recursos humanos do
patrocinador, o Banco do Brasil, e ao ambiente legal, se o banco mudar de
controlador ou decidir abrir um plano de demissões incentivadas, ou se os
salários voltarem a ser indexados, por exemplo, cada um desses cenários
tenderá a representar um impacto diferente sobre o equilíbrio atuarial.
O passo seguinte à criação de todos esses modelos será casar o risco do
ativo e o passivo, uma metodologia de gestão conhecida como asset
liability management. Toda essa modelagem servirá também para balizar
as futuras decisões de investimento da fundação, de modo a permitir que
ela faça frente a situações difíceis, sem prejuízo de seu equilíbrio atuarial.
“A Previ cresceu, acumulou patrimônio, e agora está chegando a sua
maturidade previdenciária. Por isso, quer um processo de gestão que
minimize erros e otimize os resultados cada vez mais”, explica Correa.
Outro fator decisivo para entender a importância dessa concorrência para
quem está disputando a vaga é a própria característica do negócio de
consultoria de risco. O custo elevado para criação desses sistemas e o alto
nível técnico envolvido nessa atividade, que exige manutenção e
atualizações constantes, são impeditivos para que o cliente mude de
fornecedor, a não ser que tenha um motivo muito forte. O que pode
acontecer mais comumente é o investidor utilizar mais de um sistema de
risco.
Ou seja, a posição conquistada por uma empresa no ranking do setor não
se reverte com a mesma facilidade que em outros segmentos, como o de
administração de recursos, por exemplo, no qual uma carteira que se
ganha num dia pode ser perdida pouco tempo depois, ou vice-versa.
Financeiramente, isso representa um fluxo de receitas crescente para as
consultorias de risco, uma vez que cobram pela manutenção e atualização
desses sistemas.
Assim, quem ganhar a Previ, deverá, em tese, manter o contrato por
muito tempo, garantindo seu futuro nesse mercado. Em tese porque os
termos financeiros do futuro negócio são mantidos em sigilo pelas partes
envolvidas.

Prazo – De acordo com o técnico da fundação Luís Henrique Correa, a fase
de implantação do sistema deve durar em torno de seis meses, mas
todos os ajustes levariam cerca de três anos.
Devido à relação quase indissolúvel entre provedor e cliente, a escolha de
um prestador desses serviços de risco tende a ser lenta. A concorrência da
Previ já dura mais de seis meses e, de acordo com participantes do
processo, os técnicos da fundação têm solicitado, nesse período,
informações cada vez mais detalhadas para fundamentar a escolha.
É óbvio que as empresas aguardam ansiosamente o resultado. Duas
delas, a Barra e a Prandini&Rabbat, já têm softwares instalados em
fundações de grande porte, mas nada comparado ao trabalho que será
feito na Previ. “Certamente, um negócio com a Previ, por si só, é muito
importante”, diz o vice-presidente da Barra para a América Latina,
Fernando Lifsic.
O modelo de renda variável da consultoria é utilizado pela fundação Aerus
(Varig, Transbrasil e empresas do setor aéreo) e pela fundação da
Embratel, a Telos. Ambas participaram do grupo formado pela Barra em
97 para adaptar sua tecnologia no desenvolvimento desses softwares às
necessidades do mercado nacional, junto a outros 13 administradores de
recursos. O projeto foi concluído no final do ano passado (ver Investidor
Institucional nº 50).
A Prandini&Rabbat está instalando modelos de gestão de risco de ações e
renda fixa na Funcef (Caixa Econômica Federal), Fundação Cesp (elétricas
paulistas) e na Petros (Petrobrás). De acordo com o sócio da empresa,
Marcelo Rabbat, nessa última entidade também está sendo elaborado um
software para imóveis. “O trabalho ficará pronto em breve”, acrescenta.
A Algorithmics, que chegou ao Brasil no início de 98, ainda não tem fundos
de pensão como clientes, que são uma prioridade no seu planejamento
estratégico (ver Investidor Institucional nº55). Porém, já desenvolveu um
projeto de grande porte por aqui, que foi a instalação de um sistema de
risco para o Banco do Brasil, incluindo BB DTVM.
Tem, ainda, o Sudameris em seu rol de clientes, resultado de uma
parceria internacional com o grupo controlador do banco, o italiano BCI. A
empresa preferiu não comentar suas expectativas em relação ao processo
da Previ.

Previ em números*
Carteira de Investimentos

Ativo R$ milhões % do total
Títulos públicos 29 0,11
Renda Fixa 5.273 22,45
Renda Variável 13.848 54,18
Imóveis 1.728 7,29
Fundo imobiliário 26 0,10
Total 24.605

Passivo
Participantes ativos 71.864
Participantes assistidos 46.044
* balanço do primeiro trimestre de 99
Fonte: Previ.