Edição 60
Estudo da consultoria Watson Wyatt mostra que os planos BD são mais
arrojados nos seus investimentos
Os planos de benefício definido nos Estados Unidos tiveram rentabilidade
superior aos de contribuição definida, os chamados 401(k). Essa foi a
conclusão de um estudo divulgado recentemente pela consultoria Watson
Wyatt, compreendendo o período entre 1990 e 1995. O estudo se baseia
em informações de cerca de 20 mil patrocinadores de planos.
O principal motivo para essa diferença é o que o participante do 401(k),
ao qual é facultada a decisão sobre o perfil do investimento, tende a fazer
escolhas mais conservadoras com medo de perder o seu dinheiro. No
benefício definido, no qual o participante não opina, as decisões são mais
técnicas e têm resultado em aplicações mais arriscadas. “Esse resultado
reflete o histórico comportamento conservador dos participantes dos
planos 401(k)”, pontua o estudo.
Para sustentar a conclusão, o levantamento mostra uma série de
comparações, que levam em conta o patrimônio, o número de planos
oferecidos pela mesma empresa e os valores médios das contas
individuais dos poupadores do 401(k).
Ao contrário do que acontece no Brasil (ver Investidor Institucional nº55),
nos EUA são os maiores fundos que apresentam as melhores
performances, afirma o estudo. Isso porque ele têm acesso a mais
oportunidades de investimento, são mais sofisticados no conhecimento e
monitoramento das aplicações ou possuem custos menores. Por isso, o
estudo compara planos de mesmo porte, tomando como base o
patrimônio do início de 1995.
Vantagem – Entre os fundos que tinham em torno de US$ 7 milhões em
ativos, verificou-se que o benefício definido levou uma vantagem de 1,2
pontos percentuais em rentabilidade sobre o 401(k), na média de 1990 a
1995 (10,4% contra 9,2%, respectivamente). Entre os fundos com ativos
de US$ 38 milhões ou mais, o BD superou o 401(k) em 1,4 pontos
percentuais (10,9% contra 9,5%, respectivamente).
Outro dado apontado pelo levantamento é que a diferença de retorno
entre as duas modalidades de poupança é maior nos anos de ‘bonanza’
dos mercados financeiros e menor nos anos ruins, o que também denota
um maior apetite pelo risco do benefício definido.
Ainda de acordo com o estudo da consultoria, a análise dos dados por
número de planos patrocinados pela mesma empresa confirma a
superioridade de retornos do benefício definido, em virtude do
conservadorismo dos participantes do 401(k). Foram comparados os
resultados de fundos de empresas que patrocinam simultaneamente os
dois tipos de planos com os daquelas que oferecem apenas contribuição
definida. Os números mostraram que o comportamento dos 401(k) é
muito parecido nos dois casos.
A separação das patrocinadoras em dois grupos teve o objetivo de verificar
se o número de planos tinha alguma influência que favorecesse o
benefício definido. “Uma preocupação nossa era testar o argumento de
que o participante poderia tomar decisões de investimento diferentes
baseado no fato de ter dois planos”, explica o estudo.
Uma terceira comparação concluiu que o poupador americano não tem
apetite pelo risco, pelo menos na formação de sua aposentadoria. O
levantamento da Watson Wyatt apurou que o perfil de risco dos que têm
uma poupança pequena é quase o mesmo dos que dispõem de mais
recursos, que teoricamente poderiam diversificar as aplicações.
Os números mostram que, na média entre 1990 e 95, as contas com valor
médio de US$ 2,204 mil renderam 8,5%, enquanto as contas na faixa de
US$ 22,257 mil renderam 9%. Ou seja, uma diferença de apenas 0,5% a
mais, para um volume de recursos dez vezes superior. “Uma das
possíveis explicações para esse resultado surpreendente talvez sejam os
esforços dos empregadores em orientar os empregados a tomar decisões
mais prudentes e conservadoras”, observa o levantamento da consultoria.
Fator educacional – De acordo com esse estudo, apenas um fator parece
influenciar mais fortemente a rentabilidade do plano: o nível educacional e
cultural do empregado. Foram classificados os retornos por indústrias, e
observou-se que as que recrutam trabalhadores mais qualificados
obtiveram os melhores percentuais. “A taxa de retorno difere
significativamente por ocupação, se considerarmos a ocupação como um
indicador do nível educacional ou de sofisticação da pessoa”. As diferenças
entre essas indústrias podem superar 1%, na média de 1990 a 95. Ao
longo de 30 anos, esse diferencial representará um aumento médio de
20% na conta de poupança.
Mesmo com retornos mais baixos, “os planos 401(k) são e continuarão
sendo populares, e crescendo como veículo de previdência privada. Mas
eles precisam ser monitorados cuidadosamente, para maximizar seu
potencial benefício”, aconselha. Segundo o levantamento, as empresas
terão que colocar mais ênfase em programas educacionais sobre
aplicações financeiras para os seus funcionários, para estimulá-los a sair
do “arroz com feijão”.
No Brasil, por enquanto ainda não foi feito nenhum estudo desse tipo.
Porém, de acordo com um dos consultores da Watson Wyatt, Edson
Jardim, os planos BD tendem a correr mais riscos que o CD. “Os planos de
benefício definido trabalham com prazos mais longos, porque não tem
contas individualizadas, e por isso pode arriscar-se a perder num ano e
recuperar no outro”, explica.
A opinião é partilhada pelo consultor da William M. Mercer, Luís Lima. Ele
observa, entretanto, que pelo menos no ano passado praticamente não
houve diferença entre as estratégias de investimento adotadas pelos
fundos de BD e CD que são clientes da consultoria.
Uma explicação para isso pode ser a conjuntura atípica que o Brasil vive,
na qual as taxas de juros estão em níveis estratosféricos. “Com os juros
nesses níveis, é difícil pensar que alguém vai diversificar os
investimentos”, acrescenta ele”.