Edição 59
Depois de um trimestre praticamente fora dos pregões, as fundações
voltam vendendo
Os fundos de pensão estão aproveitando a alta das bolsas deste primeiro
semestre de 99 para realizar lucros e diminuir a exposição em renda
variável. O Ibovespa já subiu mais de 70% em termos nominais de
janeiro até o final de junho e as entidades fechadas vem reduzindo o
tamanho da carteira de renda variável desde maio passado. A Real
Grandeza, fundo de pensão dos funcionários de Furnas, reduziu a
concentração dos recursos em ações pela metade nos últimos dois meses
e este não é o único caso. Além dela, também as fundações Fibra, Celpos
e Fasern reduziram sua participação em renda variável.
“Os investidores institucionais engrossaram o grupo dos vendedores nos
meses de abril e maio passados depois de permanecerem praticamente
distantes dos pregões no primeiro trimestre”, diz Cláudio Henrique
Sangar, diretor de operações da Corretora Planner. Ele explica que muitas
entidades estão realizando uma reestruturação nas carteiras de renda
variável no sentido de diminuir a participação em bolsa.
Para o consultor financeiro da William M. Mercer, Luiz Moreira Lima, os
fundos de pensão, principalmente os de grande porte ligados a estatais,
estão aproveitando o momento para adotar uma postura mais
conservadora. “Depois de sucessivas crises nas bolsas, as entidades estão
procurando diminuir a exposição ao risco da renda variável”, afirma.
Um exemplo que ilustra esta tendência é o da Real Grandeza. O fundo de
pensão possuía aproximadamente 20% do patrimônio investido na renda
variável na entrada deste ano. A partir do mês de maio passado, depois
de verificar a valorização do mercado de ações, a entidade começou a
vender parte da carteira de ações no mercado a vista. À medida que as
ações eram vendidas, o fundo adotou uma estratégia de compra de
opções de índice. “Diminuímos a exposição em ações, mas compramos
opções de índice para não deixar de ganhar na alta, ao mesmo tempo
que realizamos a proteção da carteira”, explica Benito Siciliano, gerente de
análise de investimentos da Real Grandeza.
O fundo de pensão de Furnas chega ao final do semestre com 10% do
patrimônio, que hoje se encontra na casa de R$ 1,3 bilhão, aplicado em
renda variável. Deste montante, cerca de 15% são participações da GTD e
da Perdigão, que não podem ser movimentadas devido a acordos entre
acionistas.
Outra estratégia adotada pela entidade foi a de transferir parte da carteira
interna de ações para um fundo exclusivo para fugir da incidência da
CPMF. A fundação selecionou as ações em que tinha maior interesse de
permanecer por maior tempo e transferiu-as para este fundo. A maior
parte dos recursos que saiu da carteira de ações da Real Grandeza migrou
para fundos de renda fixa.
Fase madura – A Celpos, fundo de pensão dos funcionários da Companhia
de Eletricidade de Pernambuco, iniciou um processo de redução da carteira
de renda variável em meados de junho. A meta é reduzir o volume de
recursos aplicados em fundos mútuos de ações de 22% do patrimônio
para no máximo 15%, podendo descer aos 12%. Os recursos estão sendo
transferidos para fundos de investimentos mútuos ou exclusivos de renda
fixa.
“Estamos reduzindo a renda variável porque a fundação está entrando em
sua fase madura, pois já possuímos cerca de 2.500 participantes
assistidos”, diz Horácio Mário Fittipaldi, diretor administrativo e financeiro
da Celpos. Atualmente a entidade possui aproximadamente 3.100
participantes ativos e o patrimônio ultrapassa os R$ 160 milhões.
Nesta transferência de recursos dos fundos de renda variável para os de
renda fixa, a entidade procurou manter os mesmos 13 administradores
com quem já trabalhava previamente. O único gestor que foi contratado
recentemente foi o ABN-Amro, que começou a administrar um fundo
exclusivo de aplicação em cotas de renda fixa. O fundo foi constituído com
recursos novos da fundação que totalizam cerca de R$ 3 milhões.
A Fibra, fundação dos funcionários de Itaipu, é outro exemplo de fundo
que aproveitou a alta das bolsas para reduzir a exposição em renda
variável. A entidade diminuiu a carteira de ações de 14% para 11% nos
meses de abril e maio passados e agora aguarda uma nova alta da bolsa
para continuar realizando lucro.
Por causa desta estratégia, a Fibra resgatou os recursos de um dos quatro
fundos exclusivos de ações que possuía anteriormente, informa Augusto
Janiszewsky, gerente do núcleo de investimentos da Fibra. Os recursos
provenientes deste fundo foram direcionados para títulos públicos federais
ou para outros fundos de renda fixa.
Outra fundação que vem diminuindo a carteira de renda variável é a
Fasern, dos empregados da Companhia Energética do Rio Grande do
Norte. Desde maio passado, o fundo de pensão reduziu a participação em
ações de 25% para 20% do patrimônio. Os recursos resgatados das ações
também foram para títulos públicos federais, conta Cássio Valério de
Medeiros Sousa, diretor financeiro da Fasern.