Busca de escala deve reduzir assets

Edição 57

O aumento da concorrência, junto com o estreitamento das margens de
rentabilidade, devem levar a fusões e aquisições no setor

A exemplo do que tem ocorrido com o sistema bancário, também o
mercado de asset management pode estar às vésperas de uma
consolidação, na qual o número de empresas seria reduzido por conta de
fusões, aquisições ou simples fechamento. “O negócio de administração
de recursos exige escala para ser lucrativo e tem muita gente com um
volume de recursos em carteira que não paga nem o seu custo fixo”,
raciocina Erivelton Rodrigues, diretor da consultoria Austin Asis. “Deve
haver uma concentração de negócios nessa área, no curto prazo”.
Alguns movimentos do setor já indicam essa direção. A compra do
Garantia pelo Credit Suisse First Boston, a do Patrimônio pelo Chase, a
incorporação dos assets do IBT e do BFB pelo Itaú e a quase concretizada
compra do FonteCindam pelo BNP (no final os fundos do FonteCindam
acabaram sendo absorvidos pela Investidor Profissional) são alguns
deles. “Outros negócios devem acontecer no setor”, avalia o diretor da
Austin Asis.
De acordo com ele, além da questão da escala também as perdas das
instituições de menor porte na crise cambial vão forçar no sentido das
fusões/aquisições. Seu raciocínio é que os investidores, tanto os
individuais quanto os institucionais, ficaram momentaneamente mais
avessos a aplicar nas instituições menores, preferindo os grandes nomes.
Com isso, os recursos tendem a se concentrar. “O negócio de asset é,
fundamentalmente, um negócio de escala”, raciocina o presidente da BBA
Capital, Francisco Pinto.

Aporte – A BBA Capital é um bom exemplo do que pode estar para ocorrer.
A empresa nasceu de uma associação entre o Banco BBA-Creditanstalt e o
norte-americano Capital Group, em 1996. Foi uma das primeiras
associações de um banco brasileiro com uma empresa internacional de
administração de recursos, um modelo que desde então se tornou
comum. Após dois anos e meio de operação, em dezembro do ano
passado, a BBA Capital resolveu fazer um aporte de capitais de R$ 30
milhões prevendo que o mercado entraria em uma nova fase, de
consolidação, que expurgaria alguns participantes.
O sócio internacional não acompanhou o movimento, deixando o aporte
exclusivamente por conta do Banco BBA. Esse aumentou sua participação
na asset de 66,6% para 97,6%, enquanto o Capital Group descia de
33,3% para modestos 2,4% (preservando, no entanto, o direito de
retornar sua participação original sob condições previamente determinadas
num prazo de 3 anos). “Não tínhamos previsto a necessidade de colocar
mais capital no negócio”, explica a vice-presidente senior da Capital
International Inc., Nancy Englander. “Mas continuamos acreditando no
negócio e no Brasil, e em 3 anos poderemos voltar à participação antiga”.
Ao fazer o aporte, na verdade o BBA Capital sinalizou que dobrava a
aposta para continuar no jogo. A empresa administrava no final de abril
R$ 2,4 bilhões, dos quais R$ 1,4 bilhão de captação doméstica e R$ 1
bilhão de captação externa. Ainda não era suficiente para tornar o negócio
folgadamente lucrativo. “O nosso custo fixo poderá não estar suportado
no curtíssimo prazo por receita corrente, então fizemos esse aporte para
garantir o negócio”, explica Pinto. “O aporte dá ao nosso cliente a garantia
de continuidade de operações”.
Para ele, o número atual de assets é excessivo. Muitos acreditaram que,
mesmo com poucos recursos administrados, conseguiriam pagar o negócio
com as receitas originadas pela alta volatilidade do mercado. Acontece
que a concorrência fez as receitas de administração caírem, ainda mais
depois da proibição do Banco Central da cobrança de taxas de
performance para não institucionais. “É impossível pensar em uma asset
sem pensar em escala, só se ganha com escala”, diz Pinto. “Devem
sobrar no mercado de 5 a 10 assets ligadas a grandes bancos de varejo e
outras 5 a 10 que não operam no varejo; no total não mais que 10 a 20
empresas de gestão de recursos”.
Foi com base nessa avaliação que ele apresentou aos controladores da
asset a perspectiva de aumentar o capital, aceita pelo BBA, mas recusada
pelo Capital. Os recursos serão utilizados, segundo ele, na continuidade
de cursos e de treinamento para a equipe, aquisição de novos sistemas e
softwares e remuneração adequada. “Queremos oferecer uma
remuneração compatível com a dos melhores do mercado e não com a
média do mercado”, diz.
Para o diretor comercial do Chase Asset Management, André Rosa, o
negócio de gestão de recursos só se torna lucrativo a partir dos R$ 3
bilhões administrados. “É um business que tem que ter escala; o pessoal
qualificado custa cada vez mais caro e as taxas estão cada vez mais
baixas”, diz Rosa.
A venda do Patrimônio tem a ver também com essa avaliação, além da
leitura que se fez na época sobre o fim da parceria com o Salomon
Brothers. Os antigos donos venderam um negócio que administrava R$
1,15 bilhão em 31 de dezembro do ano passado, para o Chase que
administrava R$ 1,57 bilhão na mesma ocasião. No total, o novo business
passou a administrar R$ 2,72 bilhões, quase na fronteira daquilo que
Rosa considera o início do lucro.

Escala – A venda do Garantia para o Credit Suisse First Boston, no ano
passado, também teve o objetivo de aumentar a escala das operações. “A
idéia da venda surgiu no momento em que percebemos que estávamos
perdendo espaço no mercado para instituições internacionais”, conta Bruno
Licht, atual diretor da área de asset management do CSAM Garantia. “Os
spreads estavam caindo e a competição estava pendendo cada vez mais
para os grandes players globais” (Investidor Institucional nº54).
Para Alexandre Zákia, diretor de produtos e clientes institucionais do Itaú,
a absorção do BFB e IBT pelo Itaú contribuiu para fortalecer a instituição
na área de administração de recursos. Essa área recebeu R$ 2,9 bilhões
com as duas incorporações, passando a somar pouco mais de R$ 21
bilhões em recursos sob gestão em 31 de dezembro do ano passado.
Apenas a carteira de fundações do Itaú, que somava R$ 3,12 bilhões em
31 de dezembro, recebeu cerca de R$ 600 milhões (Investidor
Institucional nº 55).
“O mercado, realmente, está buscando escala”, diz o novo diretor da área
de institucionais do banco CCF, Gustavo Maés. Ele também acredita que
haverá uma redução no número de participantes. Segundo Maés, o
mercado está ficando mais competitivo e os clientes mais exigentes em
termos de qualidade de produtos e serviços. “E isso custa caro”, diz.
Essa é também a opinião do diretor de institucionais da Unibanco Asset
Management (UAM), Ailton Garcia, para quem o enxugamento do número
de participantes é irreversível. “Tem muita gente que pensava que dava
para se manter no negócio com 500 milhões sob gestão, mas a redução
das taxas de administração está derrubando essa visão e fazendo ver que
apenas quem tiver escala vai conseguir se manter”, pondera.
André Rosa, no entanto, acha que uma eventual redução do número de
players poderá ser temporária. Na sua avaliação, a indústria de
administração de recursos está em crescimento e poderá, em poucos
anos, suportar um aumento do número de empresas de gestão de ativos.
Isso, desde que se cumpra a perspectiva de crescimento da gestão
terceirizada nos grandes fundos de pensão de estatais, nas corporações
públicas e privadas e nas seguradoras, além da criação de fundos de
pensão de estados e municípios e negócios de “trust” (gestão de grandes
fortunas). “Num primeiro momento vai acontecer uma redução do número
de players, mas acredito que num segundo momento eles podem voltar a
crescer”, avalia Rosa.