Fundações realizam lucros na alta das bolsas

Edição 55

A alta das bolsas de valores no trimestre propiciou que algumas
fundações vendessem papéis e realizassem lucros

A alta acumulada das bolsas de valores nacionais no primeiro
quadrimestre do ano está levando algumas fundações a um movimento
de realização de lucros, na tentativa de compensar o fraco desempenho
da renda variável em 1998. O movimento é mais acentuado naquelas
fundações que já tinham conseguido recuperar as perdas do ano passado,
e estão vendendo com algum lucro. “Alguns fundos de pensão que já
tinham recuperado as perdas de 98 iniciaram uma trajetória de redução da
exposição em bolsa”, conta Carlos Manoel de Souza, consultor financeiro
da Lopes Filho.
A Crediprev, por exemplo, vendeu mais da metade de sua carteira de
renda variável entre o final de fevereiro e meados de abril. “Aproveitamos
a subida da bolsa para vender ações e recuperar os prejuízos do ano
passado”, afirma Darival Darcy Resende, diretor financeiro da Crediprev. A
Fusesc e a Sistel também seguiram pelo mesmo caminho, obtendo
ganhos com a redução do volume de ações.
Os motivos para a realização de lucros variam de uma fundação para
outra. A Crediprev, fundo de pensão do Credireal, estava aguardando
desde o final do ano passado a recuperação dos preços das ações para
reduzir o tamanho da sua carteira. A partir do final de fevereiro, a área
financeira da fundação começou a vender papéis de renda variável,
reduzindo a carteira de ações de R$ 35 milhões para os R$ 15 milhões
atuais. Como a fundação possui um número maior de participantes
assistidos que ativos, e suas necessidades do fluxo de caixa são
superiores à entrada mensal de recursos, ela precisa vender ativos para
dar conta dos desembolsos. “Precisávamos tornar os investimentos da
fundação mais líquidos devido às necessidades de caixa”, diz Resende.
Outra razão decisiva para a diminuição das aplicações em renda variável
por parte do Credireal é a perspectiva de incorporação do Crediprev ao
fundo aberto do Bradesco. Como está sendo preparada a migração dos
recursos para a Bradesco Previdência, o fundo de pensão do Credireal está
procurando diminuir os riscos das aplicações financeiras para evitar
alguma surpresa. “O fundo tem procurado um perfil mais conservador com
menor exposição em bolsa para garantir a manutenção do superávit até o
momento de migração para a Bradesco Previdência”, afirma o diretor
financeiro da fundação.
A Fusesc, fundo de pensão dos empregados do Banco do Estado de Santa
Catarina (Besc), também aproveitou a alta das bolsas para vender parte
da carteira de renda variável. Em função da mudança de plano de
benefício definido para contribuição definida, o fundo está se esforçando
para reverter o déficit técnico surgido no ano passado devido à
rentabilidade negativa da bolsa. A fundação vendeu mais de R$ 15
milhões em ações neste mês de abril e, com isso, conseguiu reduzir o
déficit de R$ 39 milhões para pouco mais de R$ 20 milhões.
A Sistel é outra fundação que utilizou a subida da bolsa para conseguir
ganhos adicionais. No final do ano passado a fundação havia aumentado
sua exposição em bolsa, aproveitando a queda nos preços dos papéis. No
mês de dezembro passado, a Sistel comprou R$ 24 milhões em ações e
vendeu no mesmo período apenas R$ 7 milhões. Até o final de fevereiro a
área financeira da Sistel ainda estava aguardando uma alta maior da
bolsa, que foi verificada no mês seguinte. “Fomos mais vendedores do
que compradores de ações nos meses de março e abril, pois analisamos
que era o momento certo para realizar lucros”, explica Ivan Mendes do
Carmo, gerente de renda variável da Sistel.

Distantes da bolsa – Embora algumas fundações estejam aproveitando a
alta das bolsas para realizar lucros, outras ainda mantém tímida
participação no mercado de ações. “O nível de exposição dos fundos de
pensão em bolsas, neste início de ano, ainda está muito distante do que
ocorria no início do ano passado”, aponta Sérgio Martins Gouveia,
consultor de investimentos da William M. Mercer.
Um levantamento feito pela consultoria entre os 35 fundos de pensão que
atende, mostra que o tamanho médio das suas carteiras de renda variável
representava cerca de 25% do patrimônio no primeiro semestre de 98,
valor que caiu para 13% no final do ano passado e agora, depois da alta
da bolsa, atingiu os 18%. “Das fundações que nos enviam informações
periodicamente, a maioria não está aumentando nem diminuindo as
aplicações em renda variável”, diz Gouveia. “O percentual cresceu por
causa da valorização dos papéis, não por causa de novos investimentos”.
Os fundos de pensão distinguem-se de outros investidores do mercado
por adotarem estratégias de prazo mais longo. “Enquanto muita gente
está entrando e saindo da bolsa, realizando lucro, as fundações
permanecem afastadas devido à indefinição do cenário político e
econômico”, avalia o consultor da Mercer. Ele acredita que, apenas as
entidades com necessidades imediata de fluxo de caixa, ou que estão
pressionadas por uma situação de déficit ou de desenquadramento, são
impelidas a entrar no mercado neste momento vendendo ações.
A Previ é uma delas. A fundação dos funcionários do Banco do Brasil está
sendo monitorada pela Secretaria de Previdência Complementar em um
programa de enquadramento dos seus ativos de renda variável. Devido à
ascensão dos preços das ações, a fundação ultrapassou os limites legais
de concentração da carteira de ações em relação ao seu patrimônio total.
O fundo precisa vender cerca de R$ 2 bilhões em ações caso a bolsa não
volte a sofrer nova desvalorização.
Para o grupo de grandes fundações ligados a estatais, como a Previ, há
um outro fator além do desenquadramento e de possíveis problemas de
déficit impulsionando a volta gradual aos pregões: a troca de comando
nestas entidades. Desde o final do ano passado, quando começaram as
trocas nas fundações em virtude das mudanças nos governos federal e
estaduais, que suas estratégias de investimento tinham sido
paralisadas. “Agora que as novas direções dos fundos do setor público
estão melhor posicionadas, elas começam a retomar o nível de
movimentação em bolsa, com uma leve tendência para vender as ações”,
diz Cláudio Henrique Sangar, diretor de operações da Corretora Planner.
O dinheiro novo que está entrando no mercado através do retorno do
investidor estrangeiro também está permitindo o surgimento de um maior
número de oportunidades de negócios para as grandes fundações. Como
o mercado estava pouco líquido até fevereiro deste ano, as entidades de
maior porte tinham dificuldade de comprar ou vender ativos de renda
variável. No início de abril, o mercado voltou a operar em alguns dias com
uma movimentação de cerca de R$ 1 bilhão, retomando os níveis de
outubro do ano passado.

Retorno – Há ainda um grupo de fundações que estão pouco posicionadas
em renda variável devido a implementação do corte da carteira de ações
antes da crise das bolsas, de agosto do ano passado. Estas entidades
permaneceram distantes dos pregões durante os últimos meses, mas
depois que os preços começaram a cair muito algumas começaram a
estudar um retorno. A Forluz é um caso de fundação que havia diminuído
para 1% do patrimônio o tamanho da carteira de ações e que, nos últimos
meses, tem voltado a operar nas bolsas, realizando o giro de alguns
papéis.
A alta do IGP (Índice Geral de Preços) e a possibilidade de redução das
taxas de juros podem incentivar algumas fundações a voltarem ao
mercado de renda variável. “As entidades que estão com baixa exposição
em ações podem aproveitar boas oportunidades para posicionar a carteira
de renda variável”, diz Adriano Koelle, diretor comercial da Schroeder
Management Brasil. Ele acredita que ainda não há uma definição clara das
fundações quanto à tendência de aumento ou redução da carteira de
ações. “O comportamento dos fundos de pensão vai depender da
evolução do mercado nos próximos meses, que ainda deve ter fôlego
para continuar subindo”, prevê.
A manutenção da tendência de alta das bolsas começa a ser testada a
partir do desenlace CPI do sistema financeiro. Outra incógnita que pode
afetar os mercados é a permanência do investidor estrangeiro que está
voltando a negociar com mais intensidade nas bolsas brasileiras.