Estudo da Towers mostra que as fundações maiores ganharam menos

Edição 55

Necessidade de diversificação levou as maiores a ganhar menos em 98

A renda variável derrubou a rentabilidade dos fundos de pensão de maior
porte. De acordo com um estudo feito pela consultoria Towers Perrin com
120 fundações, as maiores ganharam menos no ano passado. Aquelas
com patrimônio acima de R$ 100 milhões apresentaram rentabilidade
média de IGP-DI mais 1%, enquanto a média das fundações estudadas
ficou em IGP-DI mais 6%. Em 97, enquanto as fundações grandes
conseguiram superar o IGP-DI em 10%, na média elas apresentaram
rentabilidaade de IGP-DI mais 14%.
As fundações maiores mantiveram diversificação mais acentuada do
patrimônio e, por isso, não conseguiram aproveitar integralmente os juros
altos, explica o consultor-sócio da Towers, Roberto Donke. “Uma fundação
com bilhões de patrimônio não pode colocar tudo na renda fixa, assim
como não pode colocar tudo na bolsa”, diz ele. “No Brasil, ela teria o
monopólio da bolsa, se isso acontecesse”.
Entre janeiro e abril de 98, os investimentos em bolsa passaram de 20% a
25% do patrimônio das entidades para cerca de 12%. “O mercado de
previdência foi muito ágil na saída das aplicações de renda variável, mas
mesmo assim a queda foi grande”, acrescenta Donke. A acentuada
desvalorização das bolsas no ano passado não pôde ser totalmente
compensada pelos lucros das aplicações em renda fixa.
O estudo da Towers abrangeu 120 fundos, a maior parte do setor privado.
O levantamento separa as entidades fechadas em três grupos: as que
têm até R$ 20 milhões de patrimônio, as que têm entre R$ 20 milhões e
R$ 100 milhões, e as que estão acima desse patamar.
De acordo com Donke, a rentabilidade de uma fundação foi quase sempre
inversamente proporcional ao volume do seu patrimônio, por causa da sua
necessidade de diversificação. Como as taxas de juros estiveram
imbatíveis no ano passado, e a bolsa teve pouca liquidez para absorver
mudanças rápidas em carteiras de grande porte, a diversificação
prejudicou as maiores.
A política de investimentos também influenciou nos retornos. Em 98, a
diferença de resultados de uma entidade para outra foi maior que nos
dois anos anteriores, sendo o maior retorno de IGP-DI mais 17% e o
menor 7% abaixo do IGP-DI. “Esse fundo de menor rentabilidade
seguramente passou o ano inteiro na renda variável”, afirma
Donke. “Deve ser um plano de perfil mais agressivo, que teve dificuldade
de migrar para a renda fixa”.
É o que ocorreu com a fundação Brasiletros, da Cerj, cujo patrimônio é de
R$ 245 milhões. No ano passado, a fundação optou por manter sua
carteira de renda variável intacta, porque tinha fluxo de caixa suficiente
para honrar seus compromissos mensais, conta o superintendente Vitelmo
Ferreira. “Não tínhamos porque realizar prejuízos”, diz. Essa política levou
a fundação a apresentar rentabilidade de 0,1% abaixo do INPC, que é o
índice que utiliza para calcular a meta atuarial, em 98. Seu retorno em
renda variável foi de menos 31,2%, embora na renda fixa tenha obtido
26,4%, nas aplicações imobiliárias 8,13%, em operações com a
patrocinadora 15,77%, e em empréstimos aos participantes 1,64%.
Neste ano, a decisão se mostrou acertada. Com a alta da bolsa até
meados de abril, a fundação aproveitou para realizar lucros com as ações
e está migrando para a renda fixa. A rentabilidade deste ano está em
INPC mais 6%. “Nossa política de investimentos agora tende a ficar mais
conservadora, por causa do plano de contribuição definida que adotamos”,
diz Ferreira. Em abril, estava com R$ 85 milhões em ações, e pretende
manter apenas 20% desse total.

Vai-vens – Os vai-vens da economia, sobretudo dos mercados de ações,
se diluem quando se considera um período mais longo. Segundo o estudo
da Towers, nos últimos cinco anos as fundações tiveram um retorno médio
de 11% acima do IGP-DI. O menor percentual apurado no período é de
6% acima do IGP-DI. Esse resultado está acima das metas atuariais,
levando-se em consideração que nesse período de estabilidade econômica
não houve muita diferença entre os diferentes índices de inflação.
O estudo não traz as médias por grupo de fundações. Mas, para se ter
uma idéia, entre 94 e 97, as fundações de grande porte tiveram
rentabilidade de cerca de 11% ao ano.
Nesses cinco anos de plano Real, 98 foi o que apresentou a pior
performance dos investimentos, considerando os percentuais obtidos
acima do IGP-DI (ver quadro ao lado).