Fundações querem conhecer track record

Edição 54

O histórico dos produtos de investimento está entre as informações mais
solicitadas pelos fundos de pensão aos administradores

Os fundos de pensão estão apertando o cerco, passando a exigir dos
administradores de recursos informações cada vez mais detalhadas sobre
os produtos nos quais estão aplicando. Já não basta ao gestor de um
fundo de investimento apresentar uma rentabilidade excepcionalmente
alta, agora ele também tem que abrir um leque de informações sobre a
instituição, o conteúdo dos fundos e a equipe de gestão. “Desde a crise
de 97 que os fundos de pensão estão requisitando cada vez mais
transparência dos seus administradores de investimentos”, analisa o
presidente da Ceres (fundação da Embrapa), Eduardo Paulo de Moraes
Sarmento.
De acordo com Moraes, “o detalhamento de informações que as
fundações estão pedindo está aumentando”. E, entre essas informações,
pedidos de track record mais longos são os mais solicitados. Os fundos de
pensão querem conhecer o histórico longo dos fundos de investimentos,
não estão se limitando mais aos últimos seis meses. “Eles querem saber
se a rentabilidade do fundo tem consistência, perguntam sobre a
performance de três anos e alguns já estão perguntando até sobre a
performance de cinco anos”, conta o vice-presidente do CCF Asset
Management, Marcelo Fidêncio Giufrida.
O CCF está se preparando para administrar essa elevação do nível de
exigência das fundações. Atualmente, os relatórios da empresa
apresentam a performance de seus fundos com intervalos de 1, 2 e 3
anos. Mas o banco está mudando esse perfil de apresentação e vai passar
a enviar relatórios com a performance de 1, 3 e 5 anos. “Em algumas
concorrências, as fundações já começam a pedir informações sobre 5
anos”, explica Giufrida.
O CCF administra cerca de 30 fundos mútuos (incluindo renda fixa e
variável), dos quais metade tem mais de 4 anos de vida. De acordo com
Giufrida, a empresa pretende valorizar esse histórico nas suas
apresentações. Para o diretor do Credibanco, Fábio Colombo, “várias
instituições, quando vêm cotar conosco, querem saber o desempenho dos
nossos fundos nos últimos três anos”.
O Credibanco ainda não possui esse histórico. Sua família de 8 fundos
mútuos tem idade variando entre um ano e meio e dois anos e meio. Mas
a política da instituição é formar esse track record, mexendo o menos
possível na atual família de fundos. “A indústria que monta fundos que
dão rentabilidade alta num primeiro momento e desaparece depois está
com os dias contados”, diz Colombo.
Segundo ele, a criação de um novo fundo tem que ser respaldada em
novas tendências da economia ou em exigências da família atual. O
Credibanco, por exemplo, pode desdobrar um fundo de derivativos de um
ano e meio e patrimônio de R$ 5 milhões, o Timing, em um novo fundo
carteira livre. O Timing acumula uma rentabilidade de 34,7% neste ano,
até o final de março. “Esse fundo tem tido ótima aceitação, e estamos
estudando a criação de um fundo carteira livre com as mesmas
características (pode oscilar entre 50% comprado ou 50% vendido em
índice futuro)”, explica Colombo. “As vantagens são óbvias, o IR cairia de
20% para 10% e ele poderia manter sua liquidez, que hoje é de d+4
(resgate após 4 dias do dia do pedido)”.

Complementos – Para o diretor comercial da Sul América Investimentos,
Ronaldo Magalhães, um histórico de 3 anos é importante, mas sozinho
não quer dizer nada. “As condições de um momento podem não se repetir
em outro”, explica. Segundo Magalhães, históricos mais longos devem vir
acompanhados de maior transparência nas informações do próprio fundo,
de acordo com a atual demanda dos clientes.
A Sul América contratou a Fitch Ibca, uma empresa de classificação de
risco, para fazer o rating de sua família de 12 fundos mútuos, dos quais 5
tem mais de 3 anos de vida. “Estamos nos preparando para o momento
em que as exigência de maior transparência nos investimentos for geral”,
diz. “Quanto mais detalhadas forem as informações da indústria de
fundos, mais séria e mais estável ela se tornará”.
Uma das atuais dificuldades para a estabilização da indústria de fundos é
a visão que permeia a área tributária do governo, que nos fundos apenas
uma fonte de impostos fáceis. A cada final de ano um pacote tributário
tenta elevar os impostos sobre os fundos. O pacote do final de 97, por
exemplo, impediu que a indústria de fundos continuasse a se desenvolver
no mesmo rítmo de 96. “A interferência da área tributária do governo tem
sido péssima para a indústria de fundos”, afirma Sarmento, da Ceres. “O
track record dos fundos acaba sendo afetado”.
De acordo com Sarmento, a fundação da Embrapa migrou ao final de 97
dos fundos de investimento para aplicações em CDB/RDB, para fugir do
aumento das taxações do CPMF. Agora, passados mais de um ano, está
voltando aos fundos de investimento. “Nossas análises de risco indicam
que eles voltaram a ser bom negócio”, diz.
Nessa volta, ele promete ser rigoroso. “Não tem mais espaço para confiar
apenas nas palavras do administrador, queremos que ele abra para nós o
conteúdo dos fundos”, afirma Sarmento. “Estamos virando São Tomé, só
acreditamos vendo”. A fundação possui hoje ativos totais de R$ 530
milhões e aplicações em 26 fundos mútuos espalhados entre diversos
administradores.

Evolução – “A indústria de fundos brasileira está num processo evolutivo”,
diz o diretor comercial do Itaú Asset, Alexandre Zakia. De acordo com ele,
até 1997 os aplicadores olhavam basicamente a rentabilidade, sem se
preocupar com o risco. A partir de 97 eles começaram a medir o risco das
aplicações, passando a usar vários indicadores, entre eles o índice de
sharp. A crise cambial deste início de ano, porém, mostrou que mesmo o
sharp é insuficiente. Vários fundos que tinham sharp bom perderam.
“Já não bastam as análises quantitativas”, diz Zakia. “Hoje os clientes
analisam uma combinação de itens, que incluem o sharp, a performance,
o track record, o conteúdo das carteiras, a equipe de administração, o risk
manager e o tamanho do administrador”.
Segundo Zakia, vários administradores com imagem mais sólida
aumentaram sua captação durante a crise. É o caso do Itaú, que passou a
receber investidores oriundos de algumas pequenas e médias instituições.
Outro que ganhou em volume de captações com essa migração dos
investidores de pequenas instituições foi o Votorantim. O Votorantim Plus,
um dos 6 fundos da instituição, praticamente dobrou seu patrimônio
líquido no primeiro trimestre deste ano, para R$ 370 milhões ao final de
março.
O Votorantim Plus é um FIF com leve pitada de derivativos, com o objetivo
de dar um pouco mais que o CDI. Em 4 anos de vida ele tem dado entre
100% e 101% do CDI, atingindo hoje um patrimônio de R$ 370
milhões. “O apelo do Plus é seu histórico de 4 anos, estamos ressaltando
isso em nossas divulgações”, conta Ana Helena Bedê, gerente de clientes
institucionais do banco Votorantim. “Tem cliente que diz que no momento
em que o fundo começar a dar 102% ou mais do CDI ele sai”, afirma.
Para Jair Ribeiro, ex-presidente do Patrimônio e atual diretor de asset
management do Chase (que comprou o Patrimônio), o histórico dos
fundos é importante mas não é suficiente. Basta lembrar que os fundos
de derivativos do Marka apresentavam performance excelentes há
anos. “O cliente deve buscar conhecer, além do track record nominal,
também o track record ajustado pelo risco-retorno”, ensina Ribeiro. “O
mercado está se sofisticando”.
Ricardo Leonardos, diretor do ING Asset Management, concorda com
Ribeiro. “Além do track record, é importante estar de olho na compliance
do fundo, para ver se o administrador cumpre o que foi acertado no
contrato”, diz Leonardos. “Embora eu não possa afirmar que seja uma
tendência, percebo que aumenta o rigor e o uso de técnicas mais
sofisticadas por parte das fundações para analisar produtos de
investimentos”.