Terceirizações tiveram ritmo fraco em 98

Edição 49

Um ano difícil

Um ano difícil. É dessa forma que os gestores de recursos definem o ano
de 1998, marcado por crise nas bolsas e pelas investidas do governo
contra a imunidade tributária dos fundos de pensão, que enfraqueceram o
ritmo das terceirizações que vinham ocorrendo nessas instituições. Além
disso, a chegada de novos gestores ao mercado fez aumentar a
competição e caírem as taxas de administração. “Esse foi um ano difícil e
bastante atípico, em que investidores e gestores saíram muito abalados”,
sintetiza Reinaldo Zakalski, diretor da empresa de administração do
Deutsche Bank, a DB Capital.
Segundo ele, o questionamento da imunidade tributária prejudicou
basicamente as terceirizações de renda fixa, uma vez que as fundações
passaram a preferir papéis de longo prazo a investir em fundos tributados
a cada 60 ou 90 dias.
Na renda variável, o fraco desempenho das bolsas, aliado à crise russa,
fez muitas fundações postergarem processos de terceirização. “Várias
fundações, com processos de terceirização em andamento, resolveram
suspendê-los”, conta o gerente de institucionais do banco Safra, Luís
Fernando Cimino Loureiro.
Em consequência, os volumes do ano foram menores do que se esperava.
O maior movimento ficou por conta das trocas de administradores. “A
grande maioria dos processos de que participamos foram de troca. As
terceirizações não ocorreram no nível que a gente esperava”, afirma
Zakalski.
Para conseguir uma fatia do bolo, os administradores tiveram que pagar
caro. Além da redução nas taxas, a forte competição entre os
administradores levou-os oferecer mais incentivos para conquistar novas
carteiras, como cobrir os gastos com a CPMF que o cliente teriam para
resgatar os recursos do antigo administrador.
“A elevação de custos foi acompanhada de uma diminuição das receitas,
porque as taxas caíram a níveis abaixo do 1º mundo, e os volumes
continuaram tupiniquins”, diz o superintendente de institucionais do Itaú,
José Guilherme Simonetti. Ele estima que, hoje, as taxas estão entre
0,4% e 0,6% ao ano na renda fixa, e entre 0,6% e 0,8% na renda
variável. Segundo ele, em 98 houve um “crescimento vegetativo” dos
volumes já administrados por terceiros.
O investimento das fundações em fundos abertos prosseguiu,
impulsionado basicamente pela necessidade das fundações de reduzir
despesas de investimento, limitadas pela portaria 176. Nos fundos, a taxa
de administração é descontada da rentabilidade, por isso não pesa no
caixa das entidades. “A terceirização via fundos foi mais uma
compulsoriedade do que uma decisão de investimentos”, acrescenta.

Otimismo – Para o diretor de administração de fundos do banco Real,
Julius Buchenrode, a alta das taxas de juros pós-crise russa e a
recuperação das bolsas em novembro melhoraram o balanço de 98 e as
perspectivas para 99. “Esse fim de ano foi bem melhor, o mercado ficou
mais otimista”, opina. Buchenrode acha que o volume de terceirizações
crescerá no ano que vem, principalmente por causa das empresas
privatizadas. “As empresas privadas se preocupam mais com o seu
negócio, por isso preferem administradores externos”, diz.
A médio prazo, as mudanças trazidas pela reforma da previdência devem
garantir um aumento nos fluxos de recursos. “O potencial de crescimento
dos fundos de previdência é enorme, e o uso de gestores externos vem
aumentando”, conclui.
Por outro lado, a retração dos negócios nesse ano trará consequências
que podem mudar a cara do mercado de administradores ao longo do ano
que vem. Na opinião de José Guilherme Simonetti, as taxas de
administração devem continuar caindo, e alguns administradores podem
não ter fôlego para acompanhar o ritmo. “Não tem espaço para todo
mundo que está entrando, porque a indústria de institucionais é uma
indústria de escala”, afirma.
Para Reinaldo Zakalski, existem administradores que entraram nessa
disputa imaginando uma expansão em grande escala, mas “isso não
ocorreu nem vai ocorrer”. Ele estima que somente daqui há dois anos é
que poderá haver um crescimento mais expressivo.