Edição 46
Os métodos de proteção contra os riscos da renda variável, que procuram
garantir os investidores contra as baixas das bolsas, têm falhas e podem
acentuar as perdas da carteira de ações
Os métodos de proteção contra os riscos da renda variável, que procuram
garantir os investidores contra as baixas das bolsas, têm falhas e podem
acentuar as perdas da carteira de ações. Essa foi a conclusão do
painel “Metodologias de proteção contra riscos”, que aconteceu no dia 28
de outubro no 19º Congresso Brasileiro dos Fundos de Pensão, em
Florianópolis.
As metodologias se baseiam em cálculos de volatilidade das bolsas.
Assim, quando os preços das ações começam a oscilar muito, indicando
um comportamento instável dos investidores, em geral é recomendada a
venda desses ativos. O problema é que essa recomendação é feita para
todos os investidores ao mesmo tempo, o que potencializa a tendência de
baixa e leva os preços a cairem mais velozmente. “Os modelos de
gerenciamento de risco acabam aprofundando as perdas do mercado,
porque recomendam a venda das ações a todos de uma vez, derrubando
os preços ainda mais”, explica o gerente de risco da fundação Eletros
(Eletrobrás), Jair Ribeiro, um dos debatedores do painel.
Para ele, o uso dessas ferramentas é importante para as fundações
medirem o seu risco, mas não devem balizar suas decisões de
investimento. “O controle de risco é posterior às decisões estratégicas, de
distribuição de ativos. Como as fundações podem adequar seu fluxo de
caixa ao longo prazo, não precisam ficar tão presas às oscilações de curto
prazo”, opina.
Para precaver-se das perdas de curto prazo na renda variável, existem
formas mais adequadas ao perfil das fundações do que ficar comprando e
vendendo ações, afirma Ribeiro. Uma delas é utilizar opções de venda ou
derivativos. Esses instrumentos permitem manter o preço dos ativos num
determinado patamar, evitando sua desvalorização.
A outra maneira de se proteger é através da realocação de investimentos,
transferindo recursos de ações para outros ativos, como renda fixa, por
exemplo. O uso dessas alternativas, entretanto, tem que estar inserido
numa estratégia global de cada fundação, que inclui em grande parte o
passivo atuarial, no caso dos planos de benefício definido.
Nos planos de contribuição definida os parâmetros são outros, passando
pelo perfil do risco escolhido pelos participantes, em alguns casos. “Nos
Estados Unidos, os participantes opinam na gestão dos planos de
contribuição definida”, acrescenta.
Para o diretor de risk management do ING, Fernando Blanco, outro
palestrante do painel “Metodologias de proteção contra riscos”, o gestor
de recursos deve confiar, antes de mais nada, na sua experiência. “O
modelo de gerenciamento de risco não é rei, o gestor sim”, ilustra.
De acordo com ele, essas metodologias não evitam perdas, apenas
quantificam a probabilidade de perdas que cada investidor poderá
ter. “Elas são apenas aproximações da realidade, e todas elas têm
falhas”, acrescenta.
Entretanto, para Blanco, medir o risco tornou-se fundamental com a
globalização, a qual amplifica os reflexos das crises. “As crises estão se
tornando uma rotina do mercado globalizado”, conclui.
Além das possibilidades de perdas inerentes às transações financeiras, as
fundações deveriam levar em conta, também, os riscos de mudanças de
rumo da patrocinadora, analisa o diretor do Banco Patrimônio, Ricardo
Weiss. “As mudanças no patrocinador, como a entrada ou a saída de
funcionários, ou a situação financeira da empresa, têm grande impacto
sobre os fundos de pensão”, afirma.