Edição 44
Após a consolidação da estabilidade econômica, o desafio da economia
brasileira será criar um novo modelo de financiamento para o setor
produtivo, no qual o mercado financeiro seja protagonista
Após a consolidação da estabilidade econômica, o desafio da economia
brasileira será criar um novo modelo de financiamento para o setor
produtivo, no qual o mercado financeiro seja protagonista. A análise é do
professor e consultor Carlos Antônio Rocca, que será um dos expositores
do painel “Investimentos de Longo Prazo”.
“Existem evidências empíricas e teóricas da eficiência do sistema
financeiro em proporcionar crescimento econômico. No Brasil, é necessário
um novo modelo de financiamento que, assim como acontece nos países
desenvolvidos, passa pelo desenvolvimento do sistema financeiro”,
explica.
De acordo com ele, o mercado de capitais consegue gerar um nível
elevado de investimentos no setor produtivo, ao canalizar para ele boa
parte da poupança interna do país. Ele considera que o modelo de
desenvolvimento baseado na poupança do setor público, está
ultrapassado. “A poupança do setor público foi importante. Mas hoje, os
fundos compulsórios foram substituídos pelos fundos de pensão, fundos
mútuos e pelas seguradoras”, diz.
Os investimentos privados também permitem otimizar a alocação de
recursos na economia e gerar maior produtividade. Já o governo, muitas
vezes têm objetivos que são mais políticos do que práticos.
Segundo Rocca, no passado o governo dominava a produção através da
participação nas estatais e da indução de decisões do setor privado,
utilizando incentivos fiscais e políticas de importação. “Mas a sua liberdade
de fazer política industrial diminuiu, com a integração ao Mercosul e com
os acordos internacionais”. Na sua opinião, o mercado de capitais permite
aplicar recursos em empresas emergentes e em tecnologia.
A instabilidade econômica, que vigorou até 94, impediu o Brasil de
acompanhar as inovações que o sistema financeiro mundial iniciou em
meados da década de 80. Esse processo, que levou a novos instrumentos
de financiamento, foi marcado por três grandes mudanças:
1) a institucionalização da poupança, a partir da qual as pessoas
passaram a aplicar seus recursos através de investidores institucionais, e
não mais diretamente nos ativos; 2) o surgimento de instrumentos de
securitização; 3) novas formas de gerenciamento de riscos, por meio da
diversificação de portfólios, mecanismos de hedge e seguros.
“Essas mudanças aumentaram a importância do mercado de capitais para
o setor produtivo. Chegou-se à conclusão de que os mercados são mais
eficientes nessa função”, complementa Rocca.
Os países emergentes também seguiram essa tendência. Exemplo disso
são os números da captação nas bolsas brasileiras, que cresceram 3% no
início da década de 80 para cerca de 12% em meados dos anos 90,
informa Rocca.
No Brasil, o desenvolvimento do sistema financeiro como um todo foi
inibido pela instabilidade econômica, e também porque sua principal
atividade foi o financiamento do déficit público. Somente a partir de 90,
com a abertura da economia, e mais acentuadamente a partir de 94, com
a estabilização, que o quadro começou a mudar. Mas ainda há um longo
caminho a percorrer. “As taxas de juros ainda são muito elevadas, e por
isso o sistema financeiro ainda está longe de cumprir com eficiência a
função de impulsionar a economia”, diz.
Outros fatores – Além desses fatores macroeconômicos, é preciso
encontrar soluções para problemas como a transparência, formação de
preços e liquidez dos mercados – tanto de renda variável como na renda
fixa, o acesso de empresas fechadas a eles e os elevados encargos
tributários. “Nos últimos 12 anos, as alíquotas dos impostos só tem
aumentado, e precisam cair para permitir que as empresas invistam mais”.
Para ele, esses são os principais entraves ao crescimento econômico, que
precisam ser superados para que se possa fazer um esforço de
investimentos para o aumento da produção, dando mais competivividade
aos bens comercializáveis, e acelerando o aumento das exportações”.