Edição 43
A crise das bolsas está levando algumas administradoras de recursos a
apostar em fundos de ações voltados para empresas que apresentam
perspectivas de pagar bons dividendos, ao invés de empresas com
perspectivas de valorização da ação
A crise das bolsas está levando algumas administradoras de recursos a
apostar em fundos de ações voltados para empresas que apresentam
perspectivas de pagar bons dividendos, ao invés de empresas com
perspectivas de valorização da ação. Com a queda dos preços dos papéis
nas bolsas, existem empresas cujos dividendos podem representar entre
20% e 25% do capital investido, e que não estão tão sujeitas às
oscilações dos mercados. “Nesse momento, os fundos de dividendos são
bom produto para as fundações que têm alocação para renda variável em
seus portfólios”, analisa William Jedwab, diretor de renda variável do
banco Safra.
O Safra possui um fundo com essas características, lançado em outubro
do ano passado, cujo patrimônio de cerca de R$ 1 milhão é basicamente
de pessoas físicas. Mas, de acordo com Jedwab, duas fundações de
grande porte estariam analisando investir nesse produto nos próximos
meses, assim que seus limites voltem a permitir (devido à queda
patrimonial provocada pela crise, elas estão com o enquadramento em
renda variável, que é de 50% do patrimônio, no limite).
Segundo ele, com a crise o capital internacional tende a se tornar mais
escasso nas bolsas, reduzindo as possibilidades de valorização das ações.
Assim, os fundos voltados para dividendos poderão oferecer retornos
melhores do que os fundos tradicionais de renda variável, nos próximos
meses.
Neste ano, até o final de agosto, o fundo de dividendos do Safra
apresentou rentabilidade negativa de 16,11%, enquanto o Ibovespa
desvalorizou-se 35,14% no mesmo período. “Como não é voltado para o
ganho de capital, esse fundo tende a ter papéis com uma volatilidade
menor”, explica Jedwab. A carteira do fundo tem papéis como Usiminas,
Pirelli, Itaú, Atlas, Fosfértil e Antárctica, por exemplo.
A Sul América Investimentos é outra que aposta nos fundos de
dividendos. Está lançando dois fundos, um para pessoas físicas e jurídicas,
e outro só para institucionais, para o qual espera captar R$ 50 milhões em
um ano, conta o diretor comercial da empresa, Ronaldo
Magalhães. “Existem papéis pagando dividendos de até 25% sobre o
capital investido”, afirma.
Segundo ele, esse tipo de fundo permite às fundações ter um fluxo
constante de receita para fazer frente aos seus compromissos atuariais. “A
médio e longo prazo os juros vão cair, e será cada vez mais importante
para as fundações poder contar com ativos que permitam gerar um fluxo
mais constante de recursos”, opina.
O BCN Alliance também estuda o lançamento de um fundo com essas
características. Segundo a diretora de research Paula Castellini, “os
dividendos de um modo geral tem crescido nos últimos três anos”. Ela
destaca as recém-privatizadas empresas do setor elétrico, como as que
estão pagando os melhores dividendos aos acionistas. “As companhias
elétricas têm aumentado muito o dividendo, porque o seu resultado
melhorou muito”, explica.
Segundo ela, outra vantagem das elétricas é que elas estão menos
sujeitas aos impactos recessivos que a crise deve provocar no ano que
vem. “Com certeza haverá uma redução no seu resultado em 99, mas
mesmo assim eles serão bons”, conclui.
Também o BFII – Banco Financeiro e Industrial de Investimentos,
controlado pelo Sudameris, estuda o lançamento de um fundo com essas
características. “Hoje, o retorno dos dividendos é muito atrativo”, diz
Marcelo Elauy, diretor do BFII.