Crise pode ajudar os negócios no setor

Edição 43

Os especialistas do mercado imobiliário estão esperando, a médio prazo,
um crescimento dos negócios com os fundos de pensão, devido ao
agravamento da crise mundial das bolsas de valores dos últimos dois
meses

Os especialistas do mercado imobiliário estão esperando, a médio prazo,
um crescimento dos negócios com os fundos de pensão, devido ao
agravamento da crise mundial das bolsas de valores dos últimos dois
meses. Com a alta volatilidade da renda variável e o acúmulo de perdas
desde o segundo semestre do ano passado, algumas fundações podem
começar a priorizar os investimentos em imóveis como forma de reduzir
os riscos da carteira de ativos. “A crise das bolsas está mostrando que a
rentabilidade dos imóveis, que costuma girar em torno de 10% a 12% ao
ano, pode ser um negócio seguro e atraente para as fundações”, afirma
Pedro Mascarenhas Focas, diretor superintendente da Seasons
Consultancy.
Principais investidores do setor de shoppings, prédios comerciais e
empreendimentos de turismo e lazer, os fundos de pensão, em sua
maioria, estavam preferindo canalizar os novos recursos para as
aplicações de renda fixa e variável nos últimos três anos. Como a
volatilidade no mercado de ações encontra-se em níveis muito altos, que
acaba afetando também a segurança da renda fixa, algumas fundações
devem procurar investimentos com menor risco.
“Neste momento de crise, os fundos estão buscando ativos com baixa
volatilidade e, por isso, devem aumentar os investimentos em imóveis,
mas só naqueles que apresentem realmente boas perspectivas de
desempenho”, diz o diretor financeiro da Desban e coordenador da
comissão de investimentos da Abrapp Região Leste, João Lincoln de
Almeida. O dirigente ressalta que o setor de imóveis aparece neste
momento como boa alternativa para fugir do mercado de ações, desde
que as fundações façam uma rigorosa análise de viabilidade de cada
projeto.
A Desban adquiriu, no início deste ano, um conjunto de garagens
pertencente a um complexo médico-hospitalar que está sendo construído
em Belo Horizonte. O Complexo Life Center, primeiro do gênero da capital
mineira, será formado por um apart hotel, uma torre de clínicas,
consultórios médicos e um conjunto de garagens com 500 vagas. Após a
maturação do empreendimento, as garagens devem garantir um retorno
anual de 15% no mínimo, prevê Lincoln.
Atualmente, a Desban estuda uma série de outras propostas de
investimentos em imóveis, como dois shoppings – um em Ipatinga e
outro em Governador Valadares –, um porto seco e um centro de
entretenimento. As fundações mineiras estão realizando um trabalho de
análise conjunta desses projetos, através da atuação da comissão técnica
da Abrapp (ver reportagem no quadro abaixo).

Enquadramento – O limite de enquadramento da carteira imobiliária,
atualmente em 19% do patrimônio, pode impedir que muitas fundações
invistam no setor, apesar da intenção dos seus dirigentes. É que várias
entidades estão próximas ou acima desse limite, em consequência da
desvalorização das carteiras de renda variável dos fundos. Por isso, as
possibilidades da maioria das fundações realizar aquisições diretas
tornaram-se menores após a deflagração da crise das últimas semanas.
A saída encontrada pelos fundos de pensão é a participação indireta,
através dos fundos imobiliários, debêntures ou sociedades de propósito
específico (SPE), que não são contabilizadas dentro da carteira de imóveis
e escapam dos limites de enquadramento. “Daqui para a frente, as
fundações devem optar com maior frequência pelos fundos imobiliários ou
debêntures, para fugir das limitações legais”, afirma Sérgio Belleza,
consultor de investimentos.

Atentas – Belezza também acredita que as fundações estarão mais
atentas às oportunidades de investimentos imobiliários ao invés de
continuarem apostando no mercado acionário. Belleza explica que “os
fundos que possuem maior volume de recursos aplicados em imóveis
estão perdendo menos neste momento de crise da renda variável”. Para
as fundações que adotam estratégias financeiras mais conservadoras,
investir em imóveis pode representar uma saída viável para eliminar os
riscos da carteira de ativos.

Comissão analisa investimentos
Os fundos de pensão de Minas Gerais se uniram para estudar
conjuntamente as propostas de investimentos no setor imobiliário.
Reunidos na comissão de investimentos da Abrapp, os dirigentes das
áreas financeiras dos fundos mineiros estão realizando a análise conjunta
de projetos de shoppings, hotéis, centros de lazer e outros
empreendimentos do gênero.
Caso seja aprovada a viabilidade financeira de algum imóvel, cada fundo
terá liberdade de investir ou não no projeto. A análise é feita pela