Edição 41
A queda generalizada nas bolsas de valores de quase todo o mundo na
sexta-feira, 21 de agosto, não está sendo vista como o início de uma
grave crise para o Brasil
A queda generalizada nas bolsas de valores de quase todo o mundo na
sexta-feira, 21 de agosto, não está sendo vista como o início de uma
grave crise para o Brasil. Segundo o presidente da administradora de
recursos Marka Nikko, Francisco Moura, a situação do Brasil permite até
uma atitude de “otimismo moderado”, com relação à crise das bolsas.
Na opinião de Moura, a rapidez com que o governo respondeu aos
especuladores na crise asiática do final do ano passado, e o volume de
investimentos que entrou no país esse ano – principalmente através da
privatização da Telebrás – justificariam essa atitude.
“Num primeiro momento, a reação dos investidores é realizar num
mercado para cobrir as perdas em outro. A segunda reação é analisar as
diferenças entre os países, e distinguir um do outro”, analisa Moura. “Na
hora de ver as diferenças, os indicadores do Brasil são melhores que dos
outros países”.
Também para o diretor financeiro da fundação Copel e diretor de
investimentos da Abrapp, Nelson Marquardt, pelo menos por enquanto a
possibilidade de haver um ataque especulativo ao Brasil está
descartada. “A queda foi bastante acentuada no Brasil devido ao nível de
liquidez do nosso mercado. Mas o Brasil não é a bola da vez, porque não
apresenta tantos problemas cambiais como a Rússia, por exemplo”,
afirma . “Outro fator que tranquiliza é o nível das reservas nacionais que
permanecem em níveis bastante altos”.
De acordo com ele, muitas fundações já teriam iniciado pequenos
movimentos de compra de ações, porque os preços estavam muito
baixos. Esse nível de preço também favorece a estratégia dos investidores
que buscam seus ganhos na distribuição de dividendos. “Os fundos de
pensão estão avaliando que esta é a hora de começar a comprar ações
devido aos altos dividendos projetados”.
Entretanto, esse movimento de compra de ações pelos fundos de pensão
não será muito expressivo, a ponto de levantar o preço dos papéis. “As
carteiras de renda variável da maioria das fundações já se encontram em
um nível satisfatório de enquadramento, e não comportam grandes
aquisições”, explica Marquardt. Até o mês de maio, a carteira de renda
variável das fundações representava 26% do patrimônio. Outros 10%
estavam aplicados nos fundos de ações, segundo ele.
O principal problema para as fundações ocorre na hora de prestar contas
dos resultados de seus investimentos, que ficam prejudicados no curto
prazo mas ganham no médio e longo prazo. “As fundações que não têm
necessidade de arcar com compromissos imediatos podem comprar um
volume maior de ações, ou seja, têm margem para assumir um nível de
risco maior”.
Segundo Marquardt, os efeitos negativos dessa crise poderão passar mais
rápidamente do que os da crise da Ásia. “O Brasil apresenta o melhor
nível de liquidez das bolsas, se comparado a outros países emergentes, e
por isso os investidores estrangeiros podem voltar rapidamente a investir
no país. Acho que a nova crise será mais curta que a de outubro do ano
passado”.
Para José Viana, diretor financeiro da Sistel, não há motivos para
pânico. “Vamos passar por essa crise, assim como passamos por todas as
outras”. A fundação, hoje patrocinada pelas 11 empresas resultantes da
cisão da Telebrás, não comprou ações nos dias subsequentes à crise.
Por enquanto, a Sistel deve manter as posições que tinha em bolsa antes
da na sexta-feira 21 de agosto. “Temos bons papéis e não vamos torrá-
los”, diz. “Vamos prestar atenção e analisando continuamente o que está
acontecendo lá fora, e esperar. Por enquanto, não estamos fazendo nada”.
Para Francisco Moura, passado o nervosismo inicial os investidores
estrangeiros tendem a analisar os fatos com mais calma, e nessa hora o
mercado brasileiro deve sair ganhando. “A situação política no Brasil é
bem mais sólida do que a mexicana, venezuelana e mesmo do Sudesde
asiático. Também não se compara à Rússia, onde existe uma
precariedade muito grande de instrumentos e de capacidade para
gerenciar a economia”, diz.