Globalização chega ao setor bancário com força total

Edição 41

“A tormenta de aquisições e fusões das instituições financeiras no Brasil
percorreu apenas a metade de seu caminho”

“A tormenta de aquisições e fusões das instituições financeiras no Brasil
percorreu apenas a metade de seu caminho”. Essa frase de Mário Alberto
Dias Lopes, diretor da Austin Asis, consultoria especializada na avaliação
de bancos, ilustra como o processo de reestruturação do mercado
financeiro nacional está longe de terminar.
Quando a tendência começou a tomar força, há cerca de dois anos, os
próprios bancos nacionais tentaram assumir as rédeas das mudanças. Mas
parece que o fôlego das instituições brasileiras não foi suficiente e agora
são os bancos estrangeiros que dominam os principais negócios. Prova
disso é que as últimas aquisições – do ABN Amro Bank que adquiriu o
Banco Real, do Credit Suisse que comprou o Banco Garantia e do Bilbao
Viscaya que ficou com 55% das ações do Excel – foram todas levadas a
cabo pelos estrangeiros (veja quadro abaixo).
Uma medida do avanço da participação externa no mercado é mostrada
pela consultoria EFC – Engenheiros Financeiros e Consultores,
especializada em reengenharia financeira, que apresenta a comparação
de dados entre 94 e 97. A participação dos estrangeiros no total de ativos
subiu de 9,30% há quatro anos atrás para 36,54% no final do ano
passado. As instituições estrangeiras passaram a representar mais de um
terço dos ativos, o que equivale a um quarto do patrimônio líquido
(24,92%).
Dois motivos principais explicam a entrada massiva dos bancos externos
no Brasil. O primeiro é o próprio processo de abertura da economia
nacional, impulsionada pela globalização, que atinge também o setor
bancário. O outro é o interesse do governo brasileiro em atrair capital
externo para cobrir os rombos das instituições nacionais como ocorreu, por
exemplo, nos casos do Bamerindus e do Noroeste. “A entrada dos
estrangeiros veio para suprir uma necessidade do mercado e do governo
brasileiro de manter a integridade dos bancos que se encontram em
dificuldades financeiras”, afirma Carlos Coradi, presidente da EFC.
Ele analisa que os banqueiros brasileiros não tiveram competência para
superar os problemas de muitos bancos que não tinham condições de
continuar operando no mercado. Para citar alguns exemplos, Coradi
aponta que o Bandeirantes não conseguiu reestruturar o Banorte e, como
consequência, foi comprado pela Caixa Geral de Depósitos, de Portugal,
que curiosamente é um banco 100% estatal.
Outro caso ocorreu com a aquisição do Econômico pelo Excel, o qual não
teve fôlego para levar adiante as mudanças necessárias e teve que
negociar com o espanhol Bilbao Viscaya sua venda. “Alguns bancos
nacionais que assumiram o controle de outros não tiveram condições de
deglutir os problemas das instituições adquiridas”, afirma o presidente da
EFC.

Atacado – Os estrangeiros não estão entrando apenas para disputar o
setor de varejo do mercado nacional. Os bancos externos chegam
também para disputar espaço na administração de recursos de atacado.
Três negócios deste primeiro semestre do ano envolvendo instituições de
asset management mostram o tamanho do apetite dos estrangeiros.
Primeiro o Nations Bank comprou o Banco Liberal, em janeiro último,
depois o Fleming adquiriu o Banco Graphus, em fevereiro, e por último o
Credit Suisse comprou o Banco Garantia. Esse último negócio foi um dos
maiores realizados neste ano, envolvendo a cifra de US$ 600 milhões.
Outros grandes bancos estrangeiros que começam a atuar no Brasil estão
trazendo suas áreas de asset management, com reconhecida experiência
internacional, como é o caso do HSBC, que adquiriu o Bamerindus – o qual
era essencialmente um banco de varejo. Agora o novo HSBC Bamerindus
começa a expandir os negócios também na área de administração de
recursos de terceiros.
A onda de fusões e aquisições do sistema financeiro deve começar atingir
o setor estatal. As perspectivas de continuidade da entrada dos
estrangeiros e a possível expansão de alguns bancos nacionais mais
estruturados (os mais cotados são o Bradesco e o Itaú) deve envolver de
agora em diante os bancos estaduais. O Banespa é o maior banco
estadual a ser privatizado e, por isso, deve orientar todo o processo de
venda das outras instituições da mesma natureza. “A venda do Banespa
deve fornecer os parâmetros para direcionar a reestruturação da maioria
dos bancos estaduais”, diz Márcio Luterbach, sócio da área corporate
finance da KPMG.
Outros bancos estaduais que devem atrair a atenção das instituições
estrangeiras, pelo fato de apresentarem boas perspectivas de
lucratividade, são o Baneb (Banco do Estado da Bahia), o Besc (Banco do
Estado de Santa Catarina) e o Banco do Estado do Ceará.
Essas instituições chamam a atenção pelo volume atual de correntistas e
pela quantidade expressiva de clientes potenciais. “Na maioria dos
estados brasileiros, o número de correntistas ainda é muito pequeno, o
que oferece um espaço muito amplo para atuação dos novos bancos que
surgirão a partir do processo de aquisições e privatizações”, explica Dias
Lopes, da Austin Asis.
Aliado a isso, há outro fator relevante que aumenta o interesse dos
bancos externos a entrar no mercado financeiro nacional. É que as taxas
de juros no Brasil permanecem em patamares elevados, o que
proporciona uma possibilidade maior de lucros em relação ao mercado de
seus países de origem.