Bancos separam áreas para atrair os fundos

Edição 4

Mais do que uma tendência do mercado financeiro, a separação do setor
de recursos de terceiros da tesouraria pode se tornar uma questão de
sobrevivência

Mais do que uma tendência do mercado financeiro, a separação do setor
de recursos de terceiros da tesouraria pode se tornar uma questão de
sobrevivência. A pratica visa evitar conflitos de interesse entre essas duas
áreas e deve se tornar uma poderosa arma dos bancos na conquista de
clien-tes. Embora o conceito de asset management seja muito comum
exterior, só agora começa a ganhar consistência por aqui.
A idéia de separação dessas duas áreas cresceu em importância na
estratégia dos bancos em decorrência do maior afluxo de capital externo
ao país, devido às exigências do estrangeiro, acostumado a este tipo de
tratamento no exterior. Agora começa a ser uma solicitação também dos
investidores institucionais.
“O movimento de criação de uma empresa independente para administrar
o dinheiro dos clientes começou em janeiro com o Unibanco, depois foi a
vez do Banco Pontual, que repassou a gestão dos seus fundos de
investimentos ao Continental, seu controlado”, conta Eduardo Pereira de
Carvalho, presidente do Banco Continental. Depois deles vieram o BBA e a
associação entre o Lloyd’s e o Multiplic que resultou na Lloyds Asset
Management (LAM). Dentro de quatro meses, aproximadamente, o ING
Bank se juntará a este grupo.
De acordo com José Berenguer, diretor do ING, o banco possui hoje uma
carteira de recursos de terceiros da ordem de US$ 300 milhões que já é
administrada de forma independente dos demais interesses do banco. É
uma carteira relativamente pequena mas deve crescer, de acordo com os
planos traçados pela matriz para o país. “Dentro de cinco anos o Brasil vai
se equiparar a praças tão importantes do ponto de vista de negócios como
Hong Kong é hoje para o banco”, afirma.
Ele conta que a instituição quer aproveitar toda a teconologia que possui
no exterior, onde é um grande gestor de recursos de terceiros com uma
carteira de US$ 110 bilhões, para crescer também aqui. Por isso existe a
necessidade de constituir uma empresa independente, de acordo com o
que a instituição já pratica lá fora.
A separação oficial deve ocorrer no início do ano que vem, diz Berenguer.
Ele acredita que fatores como a privatização, a reforma da previdência e o
alongamento da curva dos juros irão elevar a demanda por produtos mais
técnicos e é nessa linha que pretende trabalhar na conquista de novos
clientes.
Os investidores institucionais serão um alvo preferencial. Ele acredita que
a experiência internacional do ING Bank na gestão dos recursos desses
investidores contará pontos a favor. “Cerca de 70% do patrimônio
administrado pelo banco no exterior são de institucionais e este deverá
ser o perfil no Brasil”, diz.
Para José Roberto Castro Santos, diretor comercial da LAM, o conceito de
asset management vem ganhando importância na medida em que
aumenta a velocidade de entrada de recursos externos no País. “A
estabilidade e o crescimento econômico são fatores de atração do capital
externo, extremamente exigente nesse aspecto de separação das áreas
de gestão da tesouraria”, diz.
Além disso, observa, os investidores institucionais também têm
demonstrado preocupação com esse aspecto. Do total de R$ 1,5 bilhão
administrados atualmente pela LAM, R$ 300 milhões são recursos de
institucionais. Renato Raglione, diretor da área de fundos da Unibanco
Asset Management (UAM), concorda. “A tendência de profissionalização
vigente hoje entre os investidores institucionais exige mais transparência
dos bancos”, diz.

Citibank confia em controle interno
O Citibank preferiu não criar uma empresa à parte para a administração
de recursos de terceiros. Fátima Ferreira, chefe do departamento de
compliance da instituição explica que a área de gestão funciona separada
da tesouraria e que o banco tem controles internos suficientes para
garantir que elas nunca se misturem. “Funcionários de uma área sequer
podem conversar sobre negócios com seus colegas de outra”, conta. Para
ela, a fiscalização interna é eficiente e evita a necessidade de se criar uma
empresa separada para a gestão de recusos de terceiros.
O sistema de compliance é seguido desde a matriz, nos EUA, até as filiais
em todo o mundo. “Os funcionários do Citibank têm de respeitar não só
as leis do país no qual a filial está localizada, como o regulamento interno
do banco e a legislação do governo norte-americano”, explica Fátima.