Edição 36
O primeiro clube de investimentos com dinheiro do FGTS, formado para
participar dos processos de privatização, já está praticamente definido
O primeiro clube de investimentos com dinheiro do FGTS, formado para
participar dos processos de privatização, já está praticamente definido.
Trata-se do clube de investimentos da Força Sindical, que será lançado no
próximo 15 de junho, em uma assembléia nacional da Força Sindical
convocada especificamente com essa finalidade. O projeto se baseia na lei
aprovada pelo governo no final de maio, que permite aos trabalhadores
utilizar até 50% de seu FGTS para participarem dos processos de
privatização de estatais.
Os trabalhadores que forem à assembléia do dia 15 próximo devem sair
de lá com um formulário de adesão nas mãos, no qual deve constar o
percentual do FGTS que pretendem investir. O objetivo do clube, porém, é
conseguir a adesão de outros trabalhadores, além dos associados da
Força Sindical. Para isso, o clube irá pedir a ajuda de outras entidades na
divulgação do projeto, entre elas os fundos de pensão.
“Esperamos um alto grau de adesão ao apelo da Força Sindical”, diz Paulo
Rabello de Castro, que através da RC Consultores formatou a operação do
clube e dará assessoria à central sindical na empreitada.
De acordo com Castro, a administração dos recursos do clube ficará a
cargo de três ou quatro instituições financeiras, que já estão sendo
selecionadas. “Vamos escolher as instituições que oferecerem condições
excepcionais, compatíveis com o porte de uma entidade como a Força
Sindical. Devem ser instituições destacadas no mercado, com capacidade
para absorver as nossas exigências”. Uma dessas condições, segundo
Castro, serão taxas de administração competitivas.
Os recursos do FGTS dos trabalhadores, na verdade, serão investidos em
fundos mútuos de privatização, que os bancos devem lançar no mercado
em breve. Esses fundos são os instrumentos criados pela lei para
viabilizar a conversão do fundo de garantia em ações de empresas
privatizadas. Na prática, os trabalhadores vão integralizar cotas desses
fundos com seu FGTS.
A lei, entretanto, estabelece limitações a esse tipo de investimento. Uma
delas é que os recursos têm que ficar investidos nas ações da mesma
empresa por, no mínimo, seis meses. Na opinião de Rabello, essa medida
vai contra as teorias modernas de investimentos, que aconselham a
diversificação do risco. “Infelizmente é assim. A política conservadora
estabelecida pelo governo será seguida”, diz. Segundo ele, os critérios de
saque serão os mesmos vigentes hoje para o FGTS.
Um outro problema que os trabalhadores terão que enfrentar para fazer
bons negócios é que os editais de privatização não são obrigados a
aceitar o FGTS como moeda. É o caso da Telebrás, cujo leilão será aberto
apenas à participação dos trabalhadores da própria empresa, que poderão
comprar ações com até 50% de desconto.
“Isso é um absurdo e uma injustiça. A Força Sindical está fazendo uma
postulação séria ao governo para que se permita a participação de todos
os trabalhadores nesse leilão”, informa Castro.
De acordo com ele, a primeira oportunidade de investimento do FGTS
poderá ser as sobras do leilão da Vale do Rio Doce, proposta que está
sendo estudada pelo governo.
Paulo Rabello de Castro preferiu não divulgar as estimativas de captação
de recursos do clube de investimentos. Mas alguns números bastam para
imaginar cifras milionárias. Os recursos do FGTS somam, atualmente, R$
55 bilhões. Só os filiados da Força Sindical são 11 milhões, em todo o País.
“A base da força é ampla e está em áreas nas quais o FGTS é volumoso”,
explica Castro. Além disso, os trabalhadores devem se interessar pela
proposta porque a expectativa de retorno é maior do que os 3% atuais
pagos pelo FGTS, embora o investimento na privatização não conte com
retorno garantido. “É um investimento de risco, mas existe a esperança de
que renda mais”.
Segundo Castro, a gestão dos recursos ficará mais próxima e transparente
aos olhos do trabalhador. Ele conta que será eleito um representante dos
trabalhadores para acompanhar a gestão do clube, além de assessores
contratados especificamente para esse fim. A RC Consultores coordena o
projeto, mas poderá subcontratar outros especialistas.