Fundações ganham com juros altos, apesar do ir

Edição 30

Mesmo sem liminar garantindo a imunidade tributária, as fundações estão
ganhando mais nas suas aplicações de renda fixa deste ano do que em 97

Mesmo sem liminar garantindo a imunidade tributária, as fundações estão
ganhando mais nas suas aplicações de renda fixa deste ano do que em
97. Com o aumento das taxas de juros, de novembro do ano passado
para cá, as fundações carregaram suas carteiras com papéis que pagam
até 40% ao ano, enquanto a taxa de juros antiga era metade disso. A
conta é simples, segundo Iran Sigolo, gerente de investimentos da
Fundação São Francisco. “O imposto é de 20% sobre o rendimento, mas
com uma taxa de 40%, o ganho líquido ainda continua de 32%, bem
acima dos 20% de antes da subida dos juros”, explica.
A São Francisco foi uma das fundações que aproveitou essa oportunidade.
Conseguiu comprar, em novembro, CDBs que vão pagar 39% no
vencimento, a partir de abril. Segundo Sigolo, embora as taxas de juros
estejam apresentando queda já desde o início desse ano, ainda em
janeiro era possível encontrar papéis com taxas altas. “Em janeiro,
tivemos ofertas de CDBs com taxas de até 40% ao ano, com prazos de
180 dias”, diz.
A primeira leva desses papéis de juros elevados começou a vencer em
março. Parte deles foi comprada em dezembro de 97, com uma taxa
média de 35% ao ano, explica João Batista Dias, analista de investimento
da Ceres. “Quem aproveitou as taxas naquela época fez um negócio
excelente”, comenta.
Ele aproveitou. Em dezembro último, a Ceres decidiu sacar quase tudo o
que tinha em fundos de renda fixa, mesmo antes da data de aniversário,
para comprar CDBs com vencimento em 90 e 120 dias. A fundação
investiu cerca de 5% de seu patrimônio, de R$ 410 milhões nesses CDBs.
“A nova legislação sobre imposto de renda estava muito confusa, naquela
época, mas mesmo assim achamos que a rentabilidade desses títulos
compensaria a perda que teríamos sacando antes do aniversário dos
fundos” complementa. A fundação Ceres optou por renovar seus CDBs,
pelo menos enquanto espera uma definição sobre a imunidade.
Segundo o analista da Ceres, as renovações no início de março estão
obtendo taxas menores, mas mesmo assim atraentes, ao redor de 30%
ao ano. Para ele, CDBs nesses patamares ainda são excelentes
negócios, “porque esperamos que os juros caiam ainda mais”, diz.
Essa também é a opinião de Marcos Prandi, gerente de investimentos da
Fundiágua. “A nossa política é garantir essas taxas pelo prazo mais longo
possível”, afirma. Segundo ele, a fundação também está renovando CDBs
e analisa outras possibilidades de alongar suas aplicações.

Provisório – A Fundiágua carrega em sua carteira CDBs emitidos entre o
final de 96 e o início de 97, que começam a vencer em março desse ano.
Naquela época, muitas fundações compraram esses papéis de longo prazo
para não terem que pagar o CPMF, que era um imposto provisório ao ser
criado no início de 97 e deveria ser extinto em 98.
Esses CDBs acompanharam a alta dos juros porque tinham taxas pós-
fixadas, vinculadas à Anbid e ao CDI. A Fundiágua, por exemplo, tinha R$
3,5 milhões investido neles, de um patrimônio de R$ 50 milhões. “A
vantagem desses papéis é que o IR só pode ser cobrado sobre o
rendimento de 98, porque até o final de 97 valia a liminar antiga”,
complementa Prandi.
Nem o CPMF afetará os ganhos das fundações com esses papéis. Muitos
bancos estão se comprometendo a pagar o imposto se a operação for
renovada. A Fundação CRT, por exemplo, já negociou esse imposto com
dois bancos. Um deles assumiu integralmente o pagamento e o outro vai
pagar a metade. “Os bancos têm interesse em que o dinheiro continue
lá”, acrescenta Leopoldo Lima, diretor financeiro da fundação.
A Fundação CRT é outra que tem 48% de um patrimônio de R$ 380
milhões investidos em CDBs emitidos antes do CPMF e está renovando as
aplicações para mais 180 dias. “As taxas compensam o alongamento da
aplicação”, conclui.
A compra de títulos públicos, com vencimentos até 1999, foi mais uma
das estratégias das fundações para garantirem taxas superiores a 30% ao
ano. “Temos títulos que vão vencer até em setembro de 1999”, conta o
gerente de investimentos da Fundiágua, Marcos Prandi.
Já a Previrb tem títulos vencendo em setembro desse ano, a uma taxa
pré-fixada de 30% ao ano, informa Ronaldo Lisbôa, diretor financeiro da
fundação. “Isso vai dar uma rentabilidade muito acima do exigível
atuarial, de INPC mais 6%, sem termos que correr nenhum risco”,
complementa. Ele estima que, no total, a fundação tenha entre 5% e 6%
de seu patrimônio de R$ 280 milhões em títulos públicos.

Atuarial – Para Silvio Rangel, da Fibra – fundação da Itaipú Binacional –
nem todas as fundações saem beneficiadas com as altas taxas de juros.
Para aquelas que, como a Fibra, têm seu mínimo atuarial vinculado à TR,
não faz nenhuma diferença. “Embora o ganho nominal seja maior, o
mínimo atuarial também aumenta com os juros se está indexado pela
TR”, explica.
A Fibra tem 12% de seu patrimônio investido em CDBs emitidos antes do
CPMF, e preferiu não renovar essas aplicações. Ao contrário, optou pelos
fundos de investimento, até o fechamento dessa edição. “Estamos
analisando outros investimentos também, mas achamos que os fundos de
investimento dão uma boa rentabilidade com risco diluído”, conclui.

Fibra avaliará desempenho
A Fibra, fundação da Itaipú Binacional, está iniciando um processo de
reestruturação de sua área de investimentos. A fundação está analisando
a implantação de um modelo de avaliação de performance, e já contratou
um profissional para cuidar só dessa parte.
“Estamos ainda na fase inicial do programa. A idéia de contratar esse
profissional, faz parte da nossa estratégia de acelerar o processo de
internalização desta cultura de gestão de risco”, comenta Silvio Rangel,
diretor administrativo da fundação. No final do ano passado, a Fibra, que
tem avaliado o trabalho de várias consultorias, contratou a Prandini &
Rabbat para fazer o treinamento inicial do pessoal de investimentos.
Na verdade, o processo foi iniciado no ano passado, com a mudança de
diretoria. Em abril do ano passado, terceirizou sua carteira de renda
variável, através de fundos exclusivos. Para as aplicações em renda fixa,
a fundação adotou como política participar em fundos mútuos, para diluir
o risco. “Atualmente, participamos de 33 fundos, e queremos ter até
mais”, complementa Rangel.