Edição 30
A Eletropaulo é a bola da vez
A Eletropaulo é a bola da vez. Preparada nos últimos três anos para ir a
leilão, a empresa espera esse dia como a debutante espera seu primeiro
baile. “Fizemos bem a lição de casa, acredito que os investidores
considerarão isso nas suas análises”, afirma o presidente da empresa,
Eduardo Bernini.
Mas, será que os investidores tirarão a debutante para dançar? Essa é
uma pergunta que ainda não está claramente respondida, principalmente
depois do adiamento do leilão da Elektro, a distribuidora de energia da
Cesp (ver quadro ao lado). Para o presidente da Eletropaulo, o interesse
dos investidores é grande. “Mas leilão não é uma maratona para bater
recordes de ágio, o que nós queremos é o preço mínimo mais ajustado”,
afirma.
Entre outros, já estão realizando pesquisas na “data room” (a sala que
concentra as informações estratégicas da empresa), os seguintes
investidores: Light (controlada pela Electricité de France), a EDP
(Eletricidade de Portugal), Chilectra (chilena), National Grid (inglesa), VBC
(associação dos grupos Votorantim, Bradesco e Camargo Corrêa), GPU e
Houston (ambas norte-americanas).
Eles estão encontrando uma empresa literalmente diferente daquela de
três anos atrás, a começar pelos nomes. A Eletropaulo foi dividida, no final
do ano passado, em quatro empresas distintas, sendo duas de
distribuição, uma de transmissão e uma de geração elétrica. No próximo
15 de abril, serão vendidos o controle das duas de distribuição
(Eletropaulo Metropolitana e a Bandeirante de Energia) e 49% do controle
da Paulista de Transmissão de Energia. A empresa de geração elétrica, a
Metropolitana de Águas e Energia, não irá à leilão.
O modelo de divisão foi o de “cisão parcial”, ou seja, a velha Eletropaulo
continuou existindo com o nome de Eletropaulo Metropolitana e foram
criadas três novos CGCs, que passaram a abrigar as novas empresas.
Cada uma delas recebeu, em 31 de dezembro passado, igual volume de
ativos e passivos, e os acionistas da velha Eletropaulo passaram a deter,
por cada ação possuída, direitos de quatro novas ações, uma de cada
empresa.
Segundo Bernini, até o final de março as quatro estarão sendo negociadas
na Bovespa, individualmente. Isso dará aos investidores uma noção de
como o mercado contabilizou a divisão e como avalia o potencial de cada
uma. Serão quinze dias, antes do leilão, para a formação de seus preços
de mercado, o que aumentará a segurança dos investidores na hora de
dar os lances no leilão.
As empresas estão preparadas para enfrentar as avaliações do mercado.
Além da mudança de nomes, as empresas passaram por um processo de
saneamento nos últimos três anos. A dívida da Eletropaulo, por exemplo,
que chegou a ser de R$ 5,6 bilhões no final de 94, caiu para R$ 3,4
bilhões no mesmo período de 96 e fechou em R$ 2,4 bilhões no final de
97. Em relação ao seu patrimônio líquido, a dívida passou de 89% em 96
para 49% em 97.
Como conseguiu isso? “Buscamos soluções criativas”, explica Bernini. Uma
dessas soluções foi o acordo feito em setembro do ano passado com a
LightPar, uma controlada da Eletrobrás, para que subscrevesse novas
ações da distribuidora paulista em troca do reconhecimento de uma antiga
dívida, cujo valor era controverso (referia-se à debêntures emitidas na
época da transformação da Ligth paulista em Eletropaulo, há duas
décadas, pelo então governador Paulo Maluf). Foram vendidas à LightPar,
assim como aos demais minoritários, ações a R$ 200,94 o lote de mil,
quando o mercado estava negociando o lote a R$ 312,00. Essa subscrição
rendeu à Eletropaulo R$ 707 milhões, usados integralmente no
abatimento da dívida.
Fundação – Outra operação de limpeza de passivo foi feita com a
Fundação CESP, multipatrocinada pela CESP, Eletropaulo e CPFL. Com ela,
a empresa tinha um déficit atuarial de R$ 1,2 bilhão, referente a excesso
de retenção de contribuições. A negociação com a fundação envolveu 17
imóveis (incluindo o esqueleto de um prédio na Marginal Tietê, iniciado há
quase dez anos para ser a futura sede da empresa), no valor total de R$
512 milhões, além do refinanciamento do restante da dívida por um
período de 20 anos.
A Eletropaulo também buscou enxugar suas despesas nos últimos anos. O
número de funcionários, que chegava a 25 mil no final de 94 (sem contar
a mão de obra terceirizada), foi reduzido para 18,2 mil atualmente (não
há mais nenhuma mão de obra terceirizada), através de um programa de
demissões incentivadas. A empresa acredita que pode reduzir o quadro
ainda mais, de forma não traumática, através de aposentadorias
incentivadas. “Temos 1.552 funcionários em condições de se aposentar,
hoje”, contabiliza Bernini.
Programas de demissões e aposentadorias incentivadas costumam
representar economia para a empresa, porque trocam funcionários com
anos de vantagens acumuladas por outros de salários básicos. No caso da
Eletropaulo, enquanto o salário médio das 6,5 mil pessoas que aderiram
ao programa de demissões voluntárias era de R$ 5,7 mil, um contingente
de 1,2 mil pessoas foram contratadas no mesmo período com um salário
médio de R$ 700.
As contratações foram basicamente na área operacional, enquanto as
demissões se deram na área administrativa. Assim, apesar das
demissões, o número de funcionários na área operacional cresceu,
passando de 24,6% do total de empregados em 94 para 45,9%
atualmente. Para Bernini, a proporção entre pessoal de operação e
administração ainda não é a ideal, devendo a primeira superar a segunda
após a privatização, não pela contratação de novos operadores mas pela
redução do número de administrativos.
Balanço – O custo do programa de demissões incentivadas, segundo
Bernini, reduziu o lucro líquido da Eletropaulo para R$ 83 milhões em 97
(seriam R$ 277 milhões sem ele), num patrimônio líquido de R$ 5,16
bilhões. “Mas esse programa, cujo custo foi suportado no balanço do ano
passado, vai impactar positivamente os resultados das empresas
privatizadas a partir de 98”, garante ele. “O balanço de 97, do ponto de
vista da consistência, é o melhor da história da Eletropaulo”
Com a lição de casa feita, outros aspectos das empresas passaram a
ganhar relevo. É o caso das potencialidades estratégicas das empresas
distribuidoras, cujas redes chegam a praticamente a todas as residências.
Adaptadas, possivelmente com tecnologia de fibras óticas e cabos
subterrâneos, essas redes poderiam ser usadas para conduzir, além de
eletricidade, todo tipo de sinais eletrônicos, como os de TVs a cabo,
telefonia e computadores.
De acordo com Bernini, muitos dos investidores estão de olho nesse tipo
de mercado, que viabiliza associações com empresas de telecomunicações
e televisão a cabo, por exemplo. Embora o custo da rede de fibras óticas,
subterrânea, seja oito vezes o da rede aérea, essa substituição permitiria
à distribuidora agregar valor ao empreendimento. Um estudo de caso feito
com uma empresa de porte semelhante a da Eletropaulo Metropolitana
mostrou que, num espaço de 10 anos, a receita obtida com essas
transmissões de dados poderiam significar 40% do negócio.
A Eletropaulo Metropolitana é o modelo perfeito para esse tipo de negócio,
uma vez que atende a um mercado de alta densidade populacional e
elevado consumo. São 14 milhões de pessoas numa área de 4,4 mil
quilômetros quadrados, incluindo a capital paulista e parte da região do
ABC, com um consumo que saltou de 160 quilowatts/hora/mês em 1982
para 260 quilowatts/hora/mês atualmente.
Da energia distribuída na área, 33% destinam-se à residências e 22% ao
comércio, os segmentos mais rentáveis do negócio. Apenas 35%
destinam-se às indústrias, os menos rentáveis. E é justamente para esses
segmentos, residências e comércio, que seria possível oferecer serviços de
transmissão de informações, dados e imagens junto com a
eletricidade. “Para nós, o custo seria baixo, pois temos a rede e já
fazemos regularmente a sua manutenção”, explica o presidente da
Eletropaulo. “Seria apenas agregar valor à operação”.
Back-up – No caso da Bandeirante de Energia, segundo ele, as vantagens
não são tão nítidas, embora também existam. Essa distribuidora, que
abrange o Vale do Paraíba, a Baixada Santista e o Oeste de São Paulo,
tem 64% da sua energia consumida pelo segmento industrial (19%
residências e 8,7% comércio). “Mas a tendência é a redução do consumo
industrial, com a fuga de indústrias eletrointensivas para outras regiões,
empurradas por questões ambientais, de logística e do custo crescente da
nossa energia”, explica Bernini.
Segundo ele, a distribuidora está abrindo um novo mercado junto às
indústrias que estão substituindo a eletricidade para fins térmicos por
cogeração, principalmente a partir do gás. São os contratos de back-up. A
Bandeirante de Energia já tem 16 desses contratos assinados com
cogeradores, comprometendo-se a fornecer energia em caso de pane em
suas instalações ou nas paradas de manutenção.
Das empresas a serem vendidas, a Paulista de Transmissão de Energia
ganhará um “sócio estratégico” e não um dono privado. É que o Estado de
São Paulo vai se desfazer de apenas 49% das ações ordinárias, como
determinou o Programa de Desestatização Estadual. Esse “sócio
estratégico”, entretanto, terá direito a assento na diretoria da
empresa. “Ele será fundamental para dar mais eficiência à empresa”,
declara o presidente da Eletropaulo.
Falhamos na comunicação do plano””
A Cesp cancelou o leilão da Elektro, marcado para o dia 15 de março, que
seria o primeiro do calendário de privatizações paulistas deste ano. O
motivo: descontentamento dos acionistas minoritários da Cesp, que não
concordaram com o critério que dava à CPA e à Fazenda exclusividade no
direito de vender ações nos leilões.
“”O modelo era o mais adequado à situação da empresa, era o melhor