Bancos fazem aposta em fundos de derivativos

Edição 28

Animadas com o crescimento dos fundos de derivativos no ano passado,
as empresas de gestão apostam que a demanda por esses produtos deve
continuar em alta em 98

Animadas com o crescimento dos fundos de derivativos no ano passado,
as empresas de gestão apostam que a demanda por esses produtos deve
continuar em alta em 98. E muitas estão se adiantando e lançando novos
fundos de derivativos.
O Deutsche foi um dos bancos que obteve excelente resultado no ano
passado com seu fundo de derivativos, que cresceu de R$ 100 milhões
para R$ 350 milhões ao final do ano. Entusiasmado com o desempenho,
o banco lançou um novo fundo de derivativos em janeiro deste ano, com
um perfil ainda mais agressivo.
Numa escala de 1 a 3, adotada pelo Banco Central para classificar o nível
de alavancagem do fundo, o do Deutsche ficou no nível 3, o mais
alavancado. Para um banco como o Deutsche, conhecido pelo
conservadorismo das suas apostas, é surpreendente.
“O investidor vai demandar produtos cada vez mais sofisticados, tentando
aumentar seus ganhos”, analisa Reinaldo Zakalski, diretor de
institucionais do banco. “E nós vamos oferecer esses produtos, temos
tecnologia para isso. O que aconteceu, na época da crise, é que muitos
produtos estavam expostos sem o devido respaldo técnico”, complementa.
É o primeiro produto do Deutsche com perfil agressivo, e reflete o
aumento da competição nesse mercado. O lançamento do novo fundo do
Deutsche, na verdade, estava previsto para setembro passado, mas a
crise asiática atrapalhou os planos. Depois, com o pacote do governo que
taxou os investimentos das fundações, o Deutsche reviu as metas,
reduzindo as expectativas de captação de R$ 100 milhões para R$ 50
milhões em 98.
O BankBoston é outro que lança fundos de derivativos. O banco já
operava nesse mercado, mas há cerca de um ano fechou a captação do
seu fundo de derivativos de R$ 800 milhões, que era o maior do
mercado. “Achamos que o fundo estava ficando muito grande e difícil de
administrar”, conta o novo diretor da área de institucionais e corporate do
banco, Flávio Pires.

Monitorando riscos – Agora, o Boston está lançando dois novos fundos de
derivativos, para diferentes níveis de exposição ao risco. São os fundos
com VAR de 5% e VAR de 30% (a sigla VAR, do inglês “value at risk”,
indica uma metodologia de monitoramento de risco que calcula o valor
máximo da perda possível numa operação), sendo que o primeiro expõe
o investidor a uma perda de, no máximo, 5% do principal e o segundo a
perder, no máximo, 30%.
De acordo com Pires, as oportunidades de rentabilidade para os produtos
com derivativos existem justamente em épocas de volatilidade. “Antes da
crise, quando o mercado estava mais estável, era difícil oferecer
rentabilidade, mas agora está dando para fazer arbitragem e ganhar em
operações de risco bem administradas”.
Assim como o Deutsche, o Boston também pretendia ter lançado os dois
novos fundos em setembro passado, mas foi atropelado pela Ásia.
Lançado no início de janeiro para o varejo e no final do mês para a área
de corporate e institucionais, os dois fundos devem alcançar uma captação
de R$ 100 milhões até o final do ano, prevê Pires.
O IBT, ao contrário do Deutsche e do Boston, conseguiu lançar em 19 de
setembro do ano passado seu fundo IBT Star – Carteira Livre, um fundo
de renda variável com derivativos. Em 4 meses de funcionamento, o fundo
já captou R$ 5,5 milhões, volume considerado bastante satisfatório pelo
banco. “É um bom resultado, considerando que a captação dos nossos
outros fundos, depois da crise, não cresceu muito”, diz Roberto Nishikawa,
diretor executivo do IBT.
Segundo ele, embora o investidor esteja mais conservador desde a crise
asiática, ainda existe espaço para produtos agressivos como os fundos de
derivativos. O investidor, depois da crise, passou a querer conhecer
melhor os riscos e não a fugir deles.
Segundo Mauro Peres, diretor financeiro da Fasbemge (o fundo de pensão
do Banco do Estado de minas Gerais) e membro da comissão de
investimentos da Abrapp, a procura dos investidores por produtos novos e
mais sofisticados é uma tendência natural de evolução do mercado.
Somos investidores e temos que aproveitar as oportunidades que surgem
para elevar nossos ganhos”, acrescenta.

Esperar – A própria Fasbemge deve fazer novos aportes em alguns dos
seus fundos de renda fixa com derivativos, nos quais tem cerca 5% de
seu patrimônio, de R$ 269,1 milhões. “Vamos esperar até fevereiro, para
ver como fica a questão da imunidade. Dependendo do que acontecer,
poderemos até colocar mais dinheiro nesses fundos”, diz.
Para ele, o que mudou depois da crise é que as fundações ficaram mais
seletivas na escolha de seus administradores. “Com as perdas
apresentadas por alguns fundos com derivativos, ficou claro que nem
todos os administradores têm capacidade para atuar nesse mercado”,
afirma Peres.
O instituto Metrus, do Metrô, é um dos que está avaliando a performance
de dois dos seus cinco administradores de fundos de renda fixa com
derivativos, nos quais tem cerca de R$ 10 milhões. Esses dois fundos
apresentaram perdas depois da crise, e correm o risco de serem cortados
da lista da fundação.
“Vamos observar um pouco mais para ver como eles se comportam. Eles
estão se recuperando, mas pensamos em fazer um redirecionamento dos
nossos investimentos, ainda vamos definir nossa estratégia”, conta Fábio
Mazzeo, presidente do fundo.