Edição 27
A decisão é completamente lógica, mas não era esperada por ninguém no
mercado
A decisão é completamente lógica, mas não era esperada por ninguém no
mercado. O anúncio de que o Banco do Brasil pretende vender o controle
da sua distribuidora, a BB DTVM, e da sua operadora internacional, a BB
Securities, segue uma das mais elementares regras do mercado, a de é
melhor ter parte de um grande negócio do que a totalidade de um
negócio declinante.
A BB DTVM é hoje a maior empresa de administração de recursos de
terceiros do país, gerenciando R$ 20,6 bilhões, além de ter R$ 2,1 bilhões
em carteiras administradas. Somando-se as duas áreas, são R$ 22,7
bilhões. A Unibanco Asset Management vem em segundo lugar, mas
muito longe de ameaçar sua liderança, com cerca de R$ 11 bilhões.
Acontece que essa não era uma posição tranquila. A diretoria do banco
vinha olhando com crescente inquietude a chegada de grandes
competidores internacionais na área de administração de ativos de
terceiros, como o Fidelity, Merril Lynch, J. P. Morgan, Alliance, Templeton,
Schroders, Capital, Bankers Trust, HSBC e Santander, entre outros. Alguns
deles desembarcaram através da compra de casas bancárias brasileiras,
outros através de associações com bancos locais e vários já anunciaram
que vão operar no país mas ainda não definiram a forma. É o caso, por
exemplo, da Fidelity, a maior administradora dos Estados Unidos, com
cerca de U$ 500 bilhões em recursos de terceiros, que tem conversado
com parceiros em potencial mas ainda não divulgou sua estratégia.
Esses novos competidores estavam tirando o sono da direção do BB.
Desde maio do ano passado que a diretoria havia admitido isso. O diretor
financeiro e de relações com o mercado do banco, Carlos Gilberto
Caetano, tinha pensado inicialmente em algum tipo de parceria entre a BB
DTVM e sócios privados para a administração de um leque de produtos
mais sofisticados, nos quais a DTVM corria o risco de perder a liderança de
mercado. A parceria, que não seria estendida aos seus produtos mais
tradicionais (como renda fixa ou mesmo fundos mais conservadores de
renda variável), deveria trazer à distribuidora novas tecnologias, novos
produtos, pessoal qualificado e mais motivado, além de agilidade nas
ações.
O drama da distribuidora, admitido por Caetano à esta revista naquela
época, era que ela estava submetida às regras de uma estatal enquanto
os competidores privados estavam submetidos apenas às regras do
mercado. Ela tinha que se submeter a longas licitações para comprar
equipamentos e serviços, por exemplo, enquanto os competidores tinham
apenas que buscar o preço mais baixo e fechar contrato. Ela tinha que se
submeter aos tetos salariais da área pública, enquanto os concorrentes
ofereciam aos bons administradores salários e bônus suficientemente
atrativos para fazê-los mudar de emprego.
Perdas – No ano de 1996, segundo Caetano, a BB DTVM perdeu 5 pessoas
de alto nível para a concorrência. Em 97 foram mais de 10 e a expectativa
era que em 98 o número cresceria se nada fosse feito. Mas a direção
agiu, anunciando a intenção de vender o controle da empresa e não
apenas de fazer parcerias localizadas, para produtos mais sofisticados.
“Internamente, as pessoas reagiram muito bem ao anúncio, o clima na
distribuidora é de otimismo”, explica a gerente executiva da área de
finanças corporativas da BB DTVM, Maria Ângela Cruz Auler. “A venda vai
libertar a distribuidora das amarras que ela tem hoje, para competir mais
livremente”.
Segundo Maria Ângela, não faltam exemplos de como essas amarras
prejudicam a empresa. Nas licitações, por exemplo, além da perda de
tempo corre-se o risco de estar fechando negócio pelo pior preço, pois os
participantes acabam embutindo no orçamento um plus, como um seguro
contra uma possível demora na divulgação dos resultados. Para uma
simples viagem ao exterior, para participar de eventos, cursos ou até para
fechar negócios, depende-se de uma autorização publicada no Diário
Oficial da União.
Por razões como essa, enquanto a concorrência aparecia e crescia, a BB
DTVM temia perder o ritmo. “Com controle privado, a distribuidora vai se
soltar das amarras e se tornar mais agressiva na disputa pelo mercado”,
garante Maria Ângela, que tem 24 anos como funcionária do BB, já tendo
exercido funções executivas em Chicago, Paris e Roma. “Para o banco é
uma boa saída, pois ele permanece como acionista minoritário e se
beneficia do crescimento e dos lucros da distribuidora”.
Os detalhes da venda do controle da distribuidora serão discutidos na
Assembléia de Acionistas, marcada para o dia 22 de janeiro, quando será
autorizada a licitação para escolher a consultoria que estudará o melhor
processo de venda e o valor da distribuidora.
Competição – Para os participantes do mercado, a privatização da BB
DTVM vai tornar a competição mais acirrada. “Quem comprar, vai ganhar
um poder de fogo extraordinário”, afirma Alexandre Zákia Albert, diretor
de investimentos do Banco Francês e Brasileiro (BFB). De acordo com
ele, o novo dono da distribuidora será alavancado, automaticamente, a