A nova cara dos Correios | Experiência de 12 anos no comando de f...

Edição 229

Em apenas um semestre no comando dos Correios, o novo presidente da estatal, Wagner Pinheiro – escolhido no fim do ano passado pelo ministro do planejamento Paulo Bernardo com o aval da presidente Dilma Roussef – já apresenta resultados positivos e vem surpreendendo ao anunciar novos planos de negócios. O mais ousado deles é a participação dos Correios no projeto do Trem de Alta Velocidade. “Parece que não tem nada a ver com nosso negócio, mas tem sim. Tem relação com o transporte de carga noturna e, por isso, é uma participação em que ganharemos muita sinergia”, explica Pinheiro. Ele diz que as mudanças no estatuto dos Correios e o orçamento de R$ 4 bilhões em investimentos aprovados para os próximos quatro anos permitem a entrada da estatal em novos segmentos.

Para respaldar os projetos de expansão, o executivo mostra que as finanças e a governança da empresa estão melhorando. O balanço do primeiro semestre apontou lucro líquido de R$ 499,65 milhões, quase 50% maior que o de igual período do ano passado. Esse é o primeiro resultado positivo que mostra evolução nas finanças da estatal, depois de sucessivas dificuldades enfrentadas nos últimos anos. A crise nos Correios levou a empresa à beira do “caos postal” no ano passado, sem contar as inúmeras denúncias de irregularidades que contribuíram para derrubar a ex-ministra da Casa Civil, Erenice Guerra. A queda da ministra foi uma das principais ameaças à campanha presidencial de Dilma e parece que, por isso, ela resolveu escolher um executivo que pudesse colocar a casa em ordem.
“O Paulo Bernardo me ligou no dia 28 de dezembro para perguntar se eu queria assumir a presidência dos Correios. Viajei no mesmo dia e ele me transmitiu o que ele e a Dilma tinham pensado para a estatal”, conta Pinheiro. Ele já havia convivido com a presidente durante os trabalhos no conselho de administração da Petrobras, durante o governo Lula. Como ministra da Casa Civil, Dilma comandava o conselho da estatal e Wagner Pinheiro participava como conselheiro nomeado pela Petros. “A Dilma já conhecia meu trabalho no fundo de pensão e no conselho da Petrobras.
Acho que, por isso, percebeu que poderia me confiar a missão planejada para os Correios”, acredita.
O ponto central da “missão” era basicamente recuperar a credibilidade da estatal, ou seja, resgatar sua imagem que estava desgastada por problemas de má gestão. Para isso, o governo já estava preparando, desde o trabalho da equipe de transição, uma nova regulamentação para mudar o estatuto com o objetivo de transformar os Correios em uma empresa com características de companhia aberta.
Não é que o governo esteja planejando a abertura do capital da estatal, mas o novo estatuto traz novidades como a criação de um conselho de administração e a possibilidade de participação em diversos setores da economia. O decreto 7.483 foi aprovado em 16 de maio deste ano mas, mesmo antes disso, o novo conselho da estatal já estava começando a funcionar. Ao mesmo tempo, o governo enviou ao Congresso Nacional a Medida Provisória 532 para permitir, entre diversas outras medidas, que os Correios possam participar em outros segmentos da economia, além da possibilidade de atuar no exterior.
Por isso, o presidente dos Correios já anuncia a pretensão de participar em projetos de infraestrutura, entre eles o do Trem-Bala. “Não vamos participar da formação dos consórcios para concorrer na licitação. Mas queremos conversar com os vencedores para entrar como sócios”, revela.
Outro plano do executivo é o ingresso no setor de telefonia celular, com a criação de uma marca associada aos Correios. A ideia, na verdade, é realizar uma parceria com as operadoras de telefonia celular para comprar um pacote de serviços e minutos e oferecer para venda no varejo na rede de distribuição da estatal.
Empreendedorismo – “O Wagner é um empreendedor nato. Acho que essa é uma de suas principais qualidades”, diz Luis Carlos Afonso, atual presidente da Petros que foi diretor de investimentos da fundação durante a gestão de Wagner Pinheiro. O dirigente do fundo ressalta a capacidade de empreendedorismo do presidente dos Correios e cita o exemplo do plano de expansão da Petros para novas patrocinadoras e instituidores, que ganhou impulso nos últimos anos. “Foi na gestão dele que a Petros investiu com maior decisão no fomento do número de planos e participantes, tornando-se uma referência em fundo de pensão multipatrocinado”, recorda Afonso.
O comentário dá margem para traçar um paralelo entre sua gestão à frente da Petros e os planos de expansão dos Correios. Até porque a experiência acumulada na fundação também trouxe um envolvimento com investimentos em infraestrutura, segmento em que se insere o projeto do Trem de Alta Velocidade. Foi na gestão de Wagner Pinheiro que o fundo de pensão expandiu suas aplicações em participações de empresas de diversos setores, como transporte, saneamento e principalmente energia.
“Sem dúvida os oito anos em que estive no comando da Petros me trouxeram uma extensa formação profissional em funções diversas, seja na gestão de investimentos, na participação em negócios de infraestrutura ou no acompanhamento de empresas”, atesta Pinheiro. Ele reafirma que toda essa experiência obtida à frente de fundos de pensão – antes da Petros ele foi diretor financeiro por quatro anos do Banesprev (fundo de pensão do antigo Banespa) – tem sido fundamental para embasar suas decisões na presidência dos Correios. Com formação em economia, Pinheiro começou sua carreira no departamento econômico do Banespa.
Mas foi como diretor do sindicato dos bancários de São Paulo que ele teve a oportunidade de entrar no segmento de fundos de pensão. Com o apoio dos sindicalistas, conseguiu se eleger como diretor do Banesprev em 1998. Mas foi no primeiro mandato de Lula que viria sua maior oportunidade até aquele momento. Com o respaldo do ex-ministro da Previdência e do Trabalho Ricardo Berzoini, também com sua base na categoria dos bancários, foi convidado para comandar a Petros, o segundo maior fundo de pensão do País, atrás apenas da Previ. Não por acaso que seu par na Previ era o também bancário e sindicalista Sérgio Rosa.
Os dois permaneceram durante as duas gestões de Lula no comando dos respectivos fundos de pensão. Depois Sérgio Rosa foi para a Brasilprev, do mercado de previdência aberta. Para Wagner Pinheiro, o novo governo destinou um papel estratégico. “A experiência que tive na Petros está me ajudando na modernização da governança dos Correios. No fundo de pensão tive a oportunidade de acompanhar a gestão das empresas em que éramos sócios e agora estou aplicando essa experiência na implantação dos novos conselhos”, diz Pinheiro. Além da criação dos conselhos de administração e fiscal, outras novidades são a contratação de empresa de auditoria externa independente e a publicação de relatório de atividades em jornal de grande circulação.
Outra área que passou por reestruturação na nova gestão dos Correios foi a financeira. Sob o comando de Luiz Mário Lepka, ex-Besc (Banco do Estado de Santa Catarina) também nomeado pelo ministro Paulo Bernardo, a área vem implantando ferramentas de avaliação, monitoramento e gestão de risco dos investimentos. “Estamos mais rigorosos com a avaliação do risco e do retorno dos investimentos, tomando como parâmetro a Selic e tentando diversificar as aplicações”, afirma Pinheiro. Ele esclarece, no entanto, que o processo de diversificação das aplicações é limitado por conta da restrição da contratação de gestores privados.
Outra novidade que veio no primeiro semestre deste ano foi a licitação para definir o parceiro do Banco Postal, controlado pelos Correios. O atual parceiro, o Bradesco, perdeu a concorrência para o Banco do Brasil, que vai aproveitar a rede de agências da estatal para oferecer seus produtos bancários. “O Bradesco é um grande parceiro, com quem mantemos boas relações, mas claro que é sempre mais fácil trabalhar em família”, aponta Pinheiro, em referência à parceria com o Banco do Brasil. Ele explica que é mais fácil alinhar os objetivos estratégicos por se tratar de duas estatais que seguem as linhas gerais do governo.

Postalis: saldamento do plano traz R$ 1,5 bilhão para o fundo Com relação ao Postalis, fundo de pensão dos Correios, Wagner Pinheiro vem adotando uma atuação de pouca interferência. A diretoria executiva do Postalis, sob comando do diretor-presidente Alexej Predtechensky desde o começo de 2006, continua cumprindo seu mandato e não há grandes mudanças iminentes. A única questão que pode representar um fortalecimento da fundação é o acerto de uma reserva para o saldamento do antigo plano, de Benefício Definido (BD).
A questão ainda aguarda aprovação do Tesouro Nacional e deve representar a entrada de recursos da ordem de R$ 1,5 bilhão. A migração de planos, do BD para o novo de Contribuição Variável (CV), ocorreu em 2009. Mas os recursos para o saldamento do plano antigo ainda não entraram na fundação. “Somos totalmente favoráveis ao saldamento do plano antigo, é uma questão apenas de aprovação do Tesouro”, indica Wagner Pinheiro. Ele se mostra satisfeito com a atual gestão do fundo de pensão e sua única preocupação é que se continue buscando o máximo de transparência, a exemplo do que ocorre com a patrocinadora atualmente.