Parâmetros mistos de retorno ganham força | Rentabilidade medida ...

Edição 217

 

Mudanças no benchmark das carteiras de renda fixa dos fundos de pensão aparecem como uma das tendências diante de um cenário de queda da taxa básica de juros no longo prazo. Para bater suas metas atuariais, as entidades fechadas de previdência complementar têm diminuído a presença do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI) como único parâmetro de rentabilidade e adotado modelos mistos que contemplem também uma parcela de inflação.
Em seminário promovido por Investidor Institucional, Alessandra Cardoso, estrategista da Towers Watson, afirmou que ano após ano aumenta o número de gestores que vêm diversificando seus benchmarks na renda fixa, utilizando também o IMA (Índice de Mercado Anbima, da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) e seus subíndices. “Essa alocação já é tratada de forma diferente. Os gestores estão saindo da estratégia baseada em altos juros e CDI e buscando diversificar”, disse ela. Segundo pesquisa da Towers Watson realizada com seus clientes, 45% dos gestores tinham a intenção de continuar com o CDI como benchmark para os investimentos em renda fixa em 2008. Para 2009, essa proporção caiu para 32%, até despencar para 13% no levantamento referente a 2010. A pesquisa aponta que a projeção de utilização do CDI foi superada em grande medida pela vontade de utilização de subíndices do IMA, que chegou a 60% para este ano. “Na renda fixa, já há uma alocação diversificada, devido também a uma maior alocação em risco de crédito. O mercado ainda está engatinhando nesse quesito, mas as opções estão aumentado”, apontou Alessandra. A estrategista ponderou que, enquanto for possível comprar títulos públicos com 6,5% de juro real, a exposição a outros riscos de crédito não deve ser tão grande, “a não ser que seja algo bem interessante”.
Ainda segundo Alessandra, a decisão sobre a composição de índices deve ser tomada seguindo uma meta de risco a ser assumida. Dados da Towers Watson mostram que o índice IMA-B (composto pelas NTN-Bs, títulos atrelados ao IPCA) rendeu 113% em 5 anos. “No entanto, houve uma grande volatilidade no período, e é preciso estar preparado para isso”, alertou ela. Em comparação, o IMA-S (composto por LFTs, títulos públicos indexados à Selic) teve uma rentabilidade de 84% nesse período. “É uma diferença de 30 pontos percentuais. Quem não quer assumir volatilidade alguma, vai ficar para trás”, contrapôs Alessandra, ao acrescentar que o IMA Geral (agregado de todos os títulos públicos no mercado) alcançou rentabilidade de 95% nos cinco anos, sendo então uma “opção meio- termo”. “São 11 pontos acima do IM-S, sem tanta volatilidade”, apontou.

Fundos de pensão – François Racicot, líder de Investment Consulting (IC) da Mercer, atestou que já há uma mudança de benchmark em curso, entre as fundações, guiada principalmente pelos estudos de ALM. “A diversificação também evita o descasamento entre ativos e passivos. Um descasamento da duration pode trazer desequilíbrio aos planos de Benefício Definido, sobretudo em um cenário de queda de juros”, disse ele, que também participou do seminário promovido pela revista.
Segundo pesquisa da Mercer, em 2006 60% dos fundos de pensão participantes do levantamento utilizavam o CDI como único benchmark para as carteiras de renda fixa. “Esse número vem caindo e hoje não chega a 40% das fundações”, disse Racicot. A pesquisa mostra ainda que, em 2004, apenas 30% das entidades fechadas de previdência utilizavam o ALM como base para a decisão de alocação de recursos de seus planos BD. “Hoje, já são mais de 60%. Isso mostra a sofisticação dos fundos de pensão e a preocupação com a alocação”, afirmou ele.
Gilberto Kfouri Junior, diretor de investimentos do BNP Paribas, reforçou que a adoção de outros benchmarks além do CDI é uma forte tendência no mercado. “Hoje, entre o que administramos, há mais mandatos com IMA e IRF-M do que em CDI. O indexador passou a ser muito relevante.
Dependendo da escolha, o fundo de pensão corre o risco de não atingir a meta atuarial”, endossou.