Edição 217
Cerca de 100 pessoas estiveram reunidas no seminário “Revisando os Portfólios – Cenários 2010”, promovido por Investidor Institucional no dia 30 de junho em São Paulo (SP). Na plateia, estavam presentes representantes de fundos de pensão e regimes próprios de previdência social dos mais diversos Estados do Brasil, além de gestores de recursos e consultores que prestam serviços ao sistema.
Dando início aos debates, François Racicot, líder de Investment Consulting (IC) da Mercer, Gilberto Kfouri, diretor de investimentos do BNP Paribas, e Maurício da Rocha Wanderley, diretor de investimentos e finanças da Valia, falaram sobre o impacto dos indicadores macroeconômicos nas políticas de investimentos. Racicot deu um panorama geral de algumas tendências que devem ser seguidas, como mudanças de benchmark de Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI) puro para modelos híbridos, alongamento das carteiras, aumento da alocação em ativos de crédito, elevação das aplicações em investimentos alternativos e uma maior cobrança por alpha. “Há ainda muito conservadorismo nos fundos de pensão de forma geral, com uma média de alocação em renda variável de 20%. Algumas grandes fundações começam a realizar investimentos alternativos em private equity. É preciso ser mais criativo”, afirmou o representante da Mercer.
Já Wanderley, da Valia, e Kfouri, do BNP, contaram como já estão aplicando essas perspectivas em seus portfólios e grades de produtos, tendo em vista a projeção de redução nas taxas de juros aliada a um período de crescimento nacional prolongado que trará como benefício o aumento do emprego e dos salários (leia mas nas páginas 56 e 57).
Em seguida, Milena Zaniboni, manager director da Standard and Poors do Brasil, apresentou a visão da agência classificadora de risco sobre possibilidade de nova revisão positiva do rating do País. Ela fez, ainda, uma análise dos impactos da crise na zona do Euro sobre a economia nacional. Segundo Milena, a atual perspectiva estável para o rating do Brasil deve continuar pelo menos nos próximos 12 ou 18 meses. “Estamos esperando para ver como a economia reage com a retirada dos incentivos fiscais colocados pelo governo durante a crise”, disse. Além disso, ela considera como um ponto negativo o perfil da dívida brasileira. “São prazos muito curtos, com necessidade de renovar cerca de 20% desse total todo ano, o que gera grande estresse”, apontou. Em relação à crise que aflige algumas nações da União Europeia, ela afirmou que pode haver alguma influência sobre o Brasil, mas que o País continuará bem, sem risco de degradação em sua classificação. “O rating dado pela agência não é de curto prazo e sim de ciclos mais longos”, informou.
Juros x Balança Comercial – A relação entre o atual ciclo de alta dos juros e a queda na balança comercial foi discutida por Luís Jurandir Simões, consultor e professor da Fipecafi; Marcelo Arnosti, economista chefe da BB DTVM; e José Roberto Savóia, presidente do Iprem – SP. Enquanto o primeiro levantou as incertezas do processo, Arnosti julgou o movimento como “necessário”.
Usando a China como exemplo, Simões constatou que houve um grande crescimento naquele país, que agora está rumando para uma estabilização. “A Europa já passou da fase de estabilização. Tirando o dinamismo da economia alemã, o restante está em declínio”, afirmou.
Uma grande dúvida, segundo ele, é qual será o comportamento do câmbio. “Não há instrumento que preveja como estará o câmbio em dezembro. Há uma dificuldade árdua de projetar cenários circunstanciais de curto prazo”, apontou. Respondendo à pergunta levantada pela plenária, se a alta dos juros e a queda da balança comercial seriam uma combinação perigosa, Simões disse que não, “se soubermos aproveitar as oportunidades desse movimento”.
Já Arnosti foi enfático ao considerar esse movimento necessário, para que a inflação não escape da meta nos próximos dois anos. “Assim, se desacelera a busca por importações e há uma limitação da deterioração das contas externas. Mesmo assim, o crescimento do PIB está na casa dos 8%”, afirmou. Ele explicou que a demanda doméstica no Brasil tem crescido acima da capacidade de atendimento da produção, o que leva a um aumento na importação. “A recuperação no pós-crise foi muito grande e, hoje, a economia opera a plena capacidade.” Segundo ele, também por conta da inflação, é compreensível o atual processo de elevação da taxa de juro básica, com perspectiva de encerrar 2010 em 11,5% e chegar a 13% ao ano até o final de 2011. “O crescimento do PIB nos próximos anos deve ser entre 4,5% e 5%, com uma inflação de 4% – que ainda é alta se compararmos internacionalmente, mas melhor do que a meta atual de 4,5%”, completou.
Savóia, do Iprem – SP, ponderou que esse dilema não é vivido só pelo Brasil, mas também em outros países. “Há um movimento intenso nas bolsas e o mundo está se perguntando se pode conviver com um pouco mais de inflação e continuar o crescimento, ou se é preciso frear essa alta para buscar condições mais sólidas de crescer”, comentou. Ainda segundo ele, a mudança de tendência da taxa de juros deve abrir uma janela de oportunidades para os investidores institucionais. “Creio que os institucionais devem ficar no curto prazo, para aproveitar melhor a elevação da Selic e depois sim promover um alongamento da carteira”, indicou.
Riscos – A discussão sobre diversificação de portfólio prosseguiu em uma mesa redonda composta pelos gerentes de investimentos Jorge Fujita, do Metrus, e Arlete de Araújo, do Banesprev, e também pelo diretor da PPS – Portfólio e Performance, Everaldo França. Eles falaram sobre a importância de estudos ALM na condução desse processo de mudança das carteira e de busca por novos investimentos (leia mais em reportagem das páginas 56 e 57).
O seminário apresentou também a visão do regulador, com conferência do diretor da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Alexsandro Broedel Lopes, sobre a regulamentação dos mercados financeiros e proteção dos investidores. Lopes comparou a regulamentação dos mercados a um pêndulo. “O pêndulo estava do lado em que a desregulamentação do mercado era considerada como elemento essencial e, agora, isso mudou”, disse. Segundo ele, o modelo brasileiro, que era considerado intrusivo, começa a ser estudado no mercado internacional. “Um exemplo são os registros de derivativos de balcão. Os estrangeiros não entendiam como, no Brasil, toda operação é registrada. O movimento do pêndulo é esse, alternando quando o regulador deve entrar na economia e quando deve deixar o mercado livre”, analisou. A mudança definitiva de lado desse eixo, disse, foi a crise de 2008, que evidenciou o excesso de liberalidade que alguns países praticavam.
Lopes esclareceu ainda que a definição de quando um fato relevante que deve ser publicado por uma companhia e do período de silêncio não se refere a situações objetivas. “Em ambos os casos, a prática deve ser baseada em princípios, e não em regras. A lista nunca pode ser exaustiva”, afirmou. Ele acrescentou que o fato relevante deve ser publicado quando gerar algum impacto financeiro ou econômico na empresa. Já as informações veiculadas durante o período de silêncio devem ser levadas a público de maneira uniforme. “Não é só a disponibilidade da informação, mas como isso é feito. A informação tem que ser disponibilizada de forma equitativa, e não em uma entrevista a que nem todos terão acesso”, apontou. “O problema se dá”, completou, “na definição de que informação é frequente e qual é nova, que possa alterar formação de expectativa”. Nos dois casos, a empresa é quem deve saber definir melhor. “Esse é um caso de amadurecimento na relação com a informação, que acredito irá se sofisticando ao longo do tempo”, finalizou.
Quebra de paradigmas – Na última mesa do evento estiveram presentes a estrategista da Towers Watson, Alessandra Cardoso, o diretor da Máxima Asset Management, Eduardo Villela, e o gerente executivo de investimentos da PREVI, Antonio Luiz Benevides. Alessandra ressaltou a importância da mudança de benchmark na renda fixa, comparando modelos baseados no IMA – Índice Mercado Anbima e em seus subíndices com aqueles centralizados no CDI (leia mais na página ao lado).
Já Benevides mostrou a perspectiva da Previ para o comportamento do mercado e como seu portfólio já está sendo afetado, com o movimento de aumento da alocação em ativos de crédito, imóveis e investimentos alternativos, como o private equity (leia mais nas páginas 56 e 57).
Villela, da Máxima, considerou que todas as perspectivas e discussões em curso atualmente só são possíveis graças a uma gestão primorosa do Banco Central durante a crise. “Houve uma quebra de paradigmas. No passado, o choque de juros em uma crise como essa seria para cima, mas o que vimos foi uma redução nesse período”, lembrou. Além disso, ele considerou que a CVM exerceu um papel fundamental na regulação do mercado para que o País não sofresse os piores efeitos da turbulência. “Tivemos um crescimento acelerado e agora se faz necessário o controle da inflação”, concordou.
Além disso, ele ressaltou a força interna demonstrada pela economia nacional, com incorporação de classes sociais mais baixas no consumo. “É essa força interna que dá suporte para o crescimento. Estamos trazendo mais famílias para o consumo, com maior nível de emprego”, constatou.
O seminário “Revisando os Portfólios – Cenários 2010” foi patrocinado por BNP Paribas Asset Management, BB DTVM, Máxima Asset Management. O evento também contou com o apoio da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp) e do Sindicato Nacional das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Sindapp).