Retorno altamente sustentável | Muito mais do que simples retóric...

Edição 217

 

Não é romantismo nem uma ingênua vontade de sair bem na foto. Hoje, o mercado já sabe que a adoção ou não de práticas de responsabilidade sócio-ambiental e governança corporativa pode ser decisiva para o sucesso ou o fracasso de um investimento. Tanto é que os fundos de pensão brasileiros, detentores, em conjunto, de cerca de meio trilhão de reais em patrimônio, despontam como um dos principais grupos de signatários do PRI – Princípios para o Investimento Responsável, iniciativa que reúne grandes investidores institucionais de todo o mundo.
Globalmente, o PRI conta com 765 signatários, que somam capital superior a US$ 20 trilhões. No Brasil, são 42 participantes do acordo, dos quais 17 são fundos de pensão que detêm mais da metade do patrimônio do sistema fechado de previdência complementar como um todo. Além das fundações, também aderiram ao PRI no Brasil gestores de recursos e prestadores de serviços financeiros (veja lista na página 33).
Os princípios foram lançados oficialmente em abril de 2006 na Bolsa de Nova York e, em seguida, em Paris. A ideia foi reunir uma série de premissas que deveriam nortear as aplicações dos investidores institucionais sempre com o pensamento de que as questões sociais, ambientais e de governança corporativa vão impactar positivamente o retorno de seus investimentos no longo prazo. No Brasil, o lançamento foi em maio daquele ano, na sede da Previ, no Rio de Janeiro (RJ). O maior fundo de pensão do País estava envolvido com o PRI desde antes, contribuindo inclusive com as discussões para elaboração do conjunto de princípios. “Desde 2005 a Previ participa dos esforços do PRI. A fundação fez parte de um grupo de 20 investidores institucionais internacionais convidados pelo Secretário Geral da ONU que naquele ano, com o suporte de um grupo de cerca de 70 especialistas em investimentos responsáveis, desenvolveu os Princípios”, conta Renê Sanda, diretor de investimentos da Previ.
Após a adesão, algumas mudanças foram promovidas no processo de tomada de decisão sobre os investimentos da fundação (veja mais na página 32). “Nós excluímos os setores de fumo e armas da nossa política de investimento, por exemplo. Tomamos, ainda, uma série de iniciativas mais ligadas a governança, e passamos a tomar mais cuidado na hora de selecionar parceiros”, cita Renê. Na Petros, segundo maior fundo de pensão do Brasil e também signatário do PRI, os critérios de responsabilidade social são igualmente adotados em todas as fases do ciclo de investimento, no monitoramento dos ativos e na decisão de desinvestimento. “Isto inclui as diversas classes de ativo, tanto na renda fixa, variável e imóveis”, informa a fundação.
Assets – A mudança no dia a dia veio também para as assets que aderiram aos princípios, sejam elas independentes ou ligadas a grandes instituições financeiras. Esse é o caso, por exemplo, da Stratus. “Alguns pontos que antes nós olhávamos de forma superficial passaram a ser analisados sistematicamente. Anteriormente, nós víamos em que setor a empresa candidata a receber investimentos atua, quem são os sócios ou acionistas, se está buscando capital e com que objetivo, se tem lucro ou não, enfim, fazíamos perguntas relacionadas ao negócio. Agora, abordamos também as questões de ESG, e todo relatório da Stratus, desde o da primeira visita até os memorandos de investimento e acordos de acionistas, tem que ter um capítulo ligado a ESG”, detalha Álvaro Gonçalves, sócio-diretor da Stratus, se referindo a Environmental, Social and Corporate Governance (ESG), sigla em inglês para questões ambientais, sociais e de governança corporativa. Gonçalves reforça que hoje a Stratus “inclui de forma sistemática, padronizada, repetitiva e obrigatória a análise ESG de tudo o que faz”.
Na asset do HSBC, a história foi um pouco diferente. Antes mesmo de se envolver com o PRI em si, a gestora já tinha, com base em uma política mundial da instituição financeira, uma atividade totalmente dedicada e relacionada a sustentabilidade. Tanto é que existe, na asset do HSBC, uma estrutura global de SRI (Social Responsable Investments, sigla em inglês para investimentos socialmente responsáveis). O head de research de SRI fica em Paris, mas há uma série de analistas espalhados pelas unidades do HSBC ao redor do mundo. No Brasil, quem ocupa esse posto é Cinthia Gaban. “A própria criação da vaga de um analista focado em sustentabilidade mostra a importância que isso tem para o HSBC”, afirma Carlos Lima, diretor de pesquisa da asset do HSBC no Brasil.
Cinthia aponta que a gestora conta com uma metodologia própria de avaliação das empresas – o método tem abrangência global dentro do HSBC, mas foi tropicalizado para utilização no País. Junto com o analista financeiro de cada setor, a analista de sustentabilidade faz uma avaliação de cada empresa sob esse ponto de vista. “Eu também visito as companhias para confirmar alguns pontos e tirar dúvidas. Depois disso, é decidido o rating de cada empresa em um comitê, formado pelo CIO, pelo head de research e pelo head de renda variável da asset”, explica a analista. Ela acrescenta que os analistas financeiros levam esse rating de sustentabilidade em consideração na hora de recomendar um papel ou não e, por exemplo, para fazer o cálculo da taxa de desconto no momento de definição do target price de determinada ação. Para se chegar a esse rating, são levados em conta aspectos sociais, ambientais e de governança das empresas, sendo que, a depender do setor em que a companhia atua, cada uma dessas variáveis tem um peso diferente. “Temos mais de 70 empresas avaliadas e com rating”, informa Cinthia.
Ela conclui que a estrutura de avaliação da sustentabilidade já é muito bem formada no HSBC. “Nós já estávamos alinhados a essas premissas. A adoção ao PRI foi mais no sentido de confirmar que compartilhamos dessa visão”, resume a analista.

Nascidos com as fusões – Signatário do PRI desde 2008, após a fusão com o banco Real, o Santander Brasil, que já adota práticas de responsabilidade sócio-ambiental na área de renda variável, está levando os princípios do acordo aos investimentos de renda fixa de sua asset management. Segundo o superintendente-executivo de renda fixa da instituição, Eduardo Castro, as premissas passarão a valer como critério de avaliação e alocação para fundos de renda fixa e também multimercados. “Não significa que abriremos mão de preço em favor de sustentabilidade. Mantemos a avaliação de crédito interna, com estabelecimento de rating e análise de prazos. A sustentabilidade, em linhas gerais, definirá um maior apetite por empresas bem avaliadas nesse item”, explica.
Dessa forma, a asset agregará a experiência que tem com a inclusão de critérios de sustentabilidade na renda variável à renda fixa. “Hoje, a renda fixa tem histórico quase inexistente sobre uso de critérios socioambientais na avaliação, mas vamos começar a incorporá-los”, reforça Castro.
Para que esse prisma de avaliação seja permanente, a asset do Santander determinou uma pessoa responsável pelas questões de sustentabilidade: se trata de Maria Eugenia Buosi, que ocupa o cargo de SRI Equity Research. Segundo ela, essa iniciativa é parte do comprometimento da asset em utilizar as premissas do PRI como um todo, e não só em determinados produtos. Para Eugenia, a interação entre as áreas de produtos, comercial e de investimento como forma de expandir a atuação e a importância desses critérios dentro da asset “é o principal driver positivo na adesão ao PRI”. Eugenia reforça que a sustentabilidade foi adotada como política pelo Santander imediatamente após a fusão com o Real. E completa: “agora, a matriz espanhola já pensa em aderir ao acordo globalmente”.
No Itaú, a adesão ao PRI também aconteceu por conta de uma fusão – no caso, com o Unibanco. A Unibanco Asset Management (UAM) passou a integrar a lista de signatários do acordo em 2008, e ao final daquele ano foi selada a união entre as instituições financeiras. “Com a fusão das assets, aderimos automaticamente ao PRI”, lembra Walter Mendes, superintendente de renda variável da asset do Itaú Unibanco. Ele esclarece, no entanto, que apesar de não ser signatário do PRI anteriormente, o Itaú já mantinha algumas atividades ligadas a sustentabilidade. Mendes cita o Fundo Itaú de Excelência Social (Fies).
Lançado em 2004, o produto investe em ações de empresas que possuem “práticas diferenciadas de responsabilidade sócio- ambiental”. “Metade da taxa de administração desse fundo é destinada a projetos de responsabilidade social”, completa Mendes. Em junho deste ano, o Fies contava com patrimônio líquido de R$ 307,67 milhões.
O superintendente enumera ainda outros produtos com apelo semelhante: o Fundo Social Itaú Personnalité Futura, de renda fixa, que cede 30% da taxa de administração para o Canal Futura, um canal “que ajuda na difusão da cultura principalmente entre pessoas jovens”; o Fundo Itaú Índice de Carbono, que “investe em créditos de carbono negociados em mercado e cujo lançamento foi uma iniciativa pioneira no Brasil”; o Fundo Itaú Ecomudança, de renda fixa, que destina 30% da taxa de admnistração a iniciativas que reduzam a emissão de gases de efeito estufa; e, por fim, o Fundo Unibanco Previdência Corporate de Responsabilidade Social, fundo de previdência que investe até 49% do patrimônio em ações de empresas que compõem o ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial da BM&FBovespa.
Diante disso, Mendes destaca que o Itaú, mesmo não sendo signatário do PRI antes da fusão com o Unibanco, já tinha essa mentalidade de fazer investimentos atrelados a políticas sociais, ambientais e de governança corporativa. O grande ponto, agora, é incorporar todos os princípios às análises e políticas de investimento da asset inteira. “Isso não é tão simples. Existe todo um processo educacional de nossos analistas e gestores, mas é importante dizer que nós não partimos do zero. Por conta dos fundos dedicados a essas áreas, o engajamento na avaliação de aspectos de responsabilidade social já é, de alguma forma, antigo. Já existe a cultura interna. E essa cultura está sendo, hoje, o embrião do processo de ampliação desses conceitos de sustentabilidade para toda a análise e gestão de investimentos”, aponta Mendes. No momento, a gestora está trabalhando no processo de “extrapolar esses conceitos que já existem focados e concentrados em alguns produtos específicos” para toda a asset. “É nisso que estamos engajados”, diz o superintendente.

Em terras tupiniquins – No primeiro ano em que ficou em vigor, o PRI atraiu uma série de fundos de pensão brasileiros para sua lista de signatários. Naquela época, começou a surgir uma discussão sobre qual seria a melhor maneira de implementar os princípios no dia a dia das entidades. “A ideia estava comprada, mas faltava um direcionamento para os esforços”, recorda Marcela Zonis, gerente da rede brasileira do PRI. Em maio de 2008, foi realizado um workshop presencial com os signatários na sede da Previ. “Eles falaram sobre suas expectativas e objetivos, e foi assim que surgiu a ideia de se criar uma rede local de trabalho, com reuniões e calls mensais para troca de conhecimento”, completa ela.
Marcela acrescenta que todos os intercâmbios de experiências relacionados ao PRI eram, até então, feitos em inglês, com as bases em Londres e em Nova York. “Os brasileiros aderiram aos princípios, mas sentiam dificuldade de aplicá-los no contexto local. Em relação ao idioma, muita gente não se sentia confortável para ter esse tipo de discussão em inglês”, argumenta ela. Em novembro de 2008, foi lançada oficialmente a rede brasileira do PRI.
Diante do sucesso que o projeto obteve, o modelo foi replicado na África do Sul e na Coréia da Sul. Recentemente, o mesmo aconteceu nos Países Nórdicos e na Austrália. “Ter esse diálogo local ajuda a entender o que é relevante em cada mercado. Se trabalho escravo é um tema de alerta em um país, pode não ser em outro. Fora que cada mercado de capitais tem seus desafios”, comenta Marcela. Por isso é que a rede local, nascida no Brasil, está sendo levada a outros cantos do mundo.
Uma iniciativa colocada em prática por aqui foi o estabelecimento de três grupos de trabalho cuja a ideia é facilitar a implementação dos princípios.
O grupo um é de recrutamento, coordenado pelo Infraprev – Instituto Infraero de Seguridade Social. Nas palavras de Marcela, a intenção é aumentar a consciência do mercado brasileiro em relação a o que é o PRI e porque sua adoção é importante para os investidores institucionais.
Além de trabalhar junto a fundos de pensão que ainda não são signatários, o grupo tem se esforçado para inserir o PRI nos mais importantes eventos do meio. Podem servir de exemplo o Congresso da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap) realizado este ano no Rio de Janeiro (RJ), e o Congresso Brasileiro dos Fundos de Pensão, promovido pela Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), que ocorreu no ano passado em Curitiba (PR).
Já o grupo dois é de engajamento junto às empresas investidas. “A ideia é que os investidores se juntem e passem a demandar melhores práticas por parte das empresas em que têm participação”, resume Marcela. “É o que a gente chama de propriedade ativa.” Esse grupo é coordenado pelo Santander e, para esse ano, tem como meta colaborar para ampliar o grau de transparência das companhias brasileiras. Nesse sentido, um grupo de signatários está se dedicando a um projeto junto às empresas que compõem o IBrX 100, índice que engloba as 100 ações mais líquidas do segmento Bovespa. Entre elas, foram identificadas as empresas que já publicam relatórios no padrão GRI – Global Reporting Initiative, um guideline de reporte de sustentabilidade – e aquelas que ainda não fazem isso. A partir disso, as companhias foram convidadas para participar de um diálogo com investidores para saber a importância da publicação dessas informações de modo sistemático e de acordo com o padrão de mercado. No dia 13 de julho foi realizado, na sede do Santander em São Paulo (SP), um evento com este fim. “O objetivo é alinhar as práticas de reporte de sustentabilidade das empresas à demanda dos investidores”, explica Marcela.
Por fim, o terceiro grupo, de integração das questões sociais, ambientais e de governança corporativa aos investimentos, é coordenado pela Astra Investimentos. Nesse caso, uma das metas é conseguir quantificar o impacto dessas questões no resultado financeiro. “Alguns investidores já estavam desenvolvendo metodologias próprias nesse sentido. Para evitar a reinvenção da roda, estamos reunindo os signatários que toparam dividir a metodologia e tentando, com base nos avanços de cada um, chegar a uma modelo que seja padrão no mercado”, adianta Marcela.
Retorno material – A gerente da rede brasileira do PRI afirma que os signatários sabem que as questões sociais, ambientais e de governança trazem um impacto positivo ao retorno dos investimentos, mas ainda não é possível mensurar o tamanho dessa influência. “Há fundos que investem em empresas sustentáveis e vêm obtendo boas performances, mas não tem um histórico ou track record suficiente para se afirmar com certeza que as empresas vão performar X% a mais. O que estamos começando a ver é que já dá para mensurar isso negativamente em casos de desastre. Aconteceu recentemente com a BP [companhia que tem enfrentado problemas por conta de um vazamento de petróleo no Golfo do México]. Tem muito signatário do PRI aliviado por não ter investido na BP justamente porque a empresa não apresentava alguns critérios condizentes com os princípios. Por isso, adotar as premissas não só aumenta o retorno, mas diminui o risco”, afirma Marcela.
Essa certeza é unânime entre os signatários brasileiros do PRI. “É muito difícil medir o retorno de forma estanque, porque esse é um processo de muito longo prazo. Nós já acreditávamos mesmo antes de aderir ao PRI que a sustentabilidade agrega valor financeiro de fato, e existem evidências teóricas e práticas no mundo todo sobre isso. Uma empresa igualzinha a outra, mas que tem práticas ESG melhores, vale mais. Uma companhia que não se adequa pode estar sujeita a problemas porque cada vez mais as portas estarão mais abertas para empresas bem posicionadas com relação a ESG”, opina Álvaro Gonçalves, da Stratus. “Não aderimos à causa porque é romântico. Obviamente, nós acreditamos fundamentalmente que vamos ganhar mais dinheiro com isso”, completa.
Cinthia Gaban, do HSBC, segue na mesma linha. “Uma empresa que não se preocupa com sustentabilidade e está na lista suja de trabalho escravo, por exemplo, vai ter dificuldades em conseguir crédito, corre um risco de imagem muito grande e provavelmente vai sofrer para conquistar clientes porque muitas pessoas não vão querer consumir seus produtos. Por outro lado, empresas que têm a sustentabilidade como estratégia devem rentabilizar melhor. Essa é a tendência”, afirma ela.
Renê Sanda, da Previ, engrossa o coro. “Temos a convicção de que as empresas que efetivamente adotam e praticam esses princípios contam com muito mais chance de ter uma vida mais longa. Como essa é uma iniciativa recente, é muito difícil ter uma base histórica, mas acreditamos que nos próximos anos surgirão novos estudos mostrando que o caminho para as companhias é o da transparência e da responsabilidade social. Só assim as empresas conseguirão se perenizar”, estima. Para a Petros, como resultado dessas práticas de investimento socialmente responsável obtém-se maior segurança nos investimentos realizados, uma vez que a exposição a riscos é reduzida.

Terreno fértil – Outro ponto de consenso entre os signatários é de que o Brasil tem uma posição de destaque no mundo em termos de preocupação com práticas responsáveis. “O Brasil é um mercado emergente em forte expansão, e o tema da sustentabilidade transita muito facilmente pelas empresas, tem muita aceitação, as pessoas conseguem entender a importância disso”, constata Marcela Zonis, do PRI.
Ela lembra que os fundos de pensão aderiram fortemente ao PRI no primeiro momento e isso fez com que as demais comunidades de investimento “seguissem a onda”. “Isso começou a estimular o resto da cadeia. Primeiro vieram os fundos de pensão. Depois chegaram as assets, que levaram o assunto para as corretoras, que por sua vez buscaram a BM&FBovespa. Tendo essa grande aceitação pelo elo inicial da cadeia, é possível crescer no restante”, aponta.
Marcela completa que um ponto a favor da iniciativa no Brasil é que grandes players são signatários. “E temos o comprometimento do nível mais alto dessas instituições, o que ajuda muito. Na Previ, quem levantou essa bandeira foi o Sérgio Rosa, que tinha um grande poder de disseminação da ideia dentro da entidade. No Santander, foi o Fabio Barbosa que comprou a briga da sustentabilidade. O próprio Edemir Pinto está abraçando a causa de que a BM&FBovespa é uma forte indutora de sustentabilidade no mercado. Enfim, grandes líderes já perceberam que isso tem importância”, cita.
A Previ, de fato, foi uma grande entusiasta de temas como sustentabilidade e governança corporativa no Brasil. Ao final de maio deste ano, no entanto, a figura que ilustrava todo esse comprometimento deixou a fundação. Após cumprir seu segundo mandato, Sérgio Rosa passou a faixa de presidente da Previ para Ricardo Flores. Segundo Renê Sanda, porém, o mercado não tem com o que se preocupar. “Certamente, a continuidade da dedicação a temas como governança e sustentabilidade é um compromisso do presidente Ricardo Flores e um dos pilares do mandato que ele tem para os próximos quatro anos. Posso assegurar que isso vai estar no orbital da Previ frequentemente”, afirma o diretor. Dada a importância do maior fundo de pensão do País no desenvolvimento e na disseminação das boas práticas, o investimento responsável agradece essa continuidade.

Princípios para o Investimento Responsável 1) Incorporar as questões de ESG* nas análises de investimento e nos processos de tomada de decisão.
2) Sermos proprietários ativos e incorporar os temas de ESG nas políticas e práticas de detenção de ativos.
3) Buscar a transparência adequada nas empresas em que investimos quanto às questões de ESG.
4) Promover a aceitação e implementação dos Princípios no conjunto de investidores institucionais.
5) Trabalhar juntos para reforçar nossa eficiência na implementação dos Princípios.
6) Divulgar nossas atividades e progressos em relação à implementação dos Princípios.
* Sigla em inglês que reúne os temas de meio-ambiente, desenvolvimento social e governança corporativa. Fonte: PRI

Mudança de hábito Tendo como referência o PRI, diversas ações foram adotadas pela Previ em suas práticas de investimento. Entre elas, se destacam:

• Incorporação dos valores de Responsabilidade Socioambiental e de Governança ao conceito de Visão Organizacional no Planejamento Estratégico da Previ;

• Agregação de critérios de RSA ao Documento de Políticas e Diretrizes de Investimentos;

• Priorização, na Gestão Terceirizada (Private Equity e Venture Capital), de fundos que levem em conta princípios de responsabilidade social, ambiental e de governança;

• Adoção, nos investimentos em renda variável, de triagem negativa (exclusão dos setores de fumo e armas) e triagem positiva (utilização dos critérios do ISE/Bovespa para seleção de ativos);

• Lançamento, em adição ao Código de Melhores Práticas de Governança Corporativa, do Modelo Previ de Manual para Participação em Assembléias e do Código de Melhores Práticas de Governança Corporativa em Empreendimentos de Base Imobiliária;

• Prática do engajamento, via ativismo societário, em diversas empresas investidas e imóveis da carteira (incentivos às empresas participadas a divulgarem suas práticas de RSA e integrarem iniciativas de engajamento colaborativo como o Pacto Global e o CDP – Carbon Disclosure Project; assessoria às administradoras de shoppings centers e de prédios comerciais em ações de melhoria socioambiental como projetos para aumento da eficiência energética, reuso de água, coleta seletiva, adequação das condições de acessibilidade para deficientes, etc.).
• Apoio a diversas iniciativas internacionais como o CDP, Iron & Steel Engament, Emerging Markets Diclosure Project, Pacto Global, ICGN.
Fonte: Previ

Signatários brasileiros Fundos de pensão Banesprev; Celpos; Centrus; Ceres; Economus; Faelba; Fasern; Forluz; Funcef; Fundação 14; Fundação BrTPrev; Infraprev; Petros; Previ; Real Grandeza; Sistel; Valia

Assets Astra Investimentos; Atico Asset Management; Bradesco Asset Management; DGF Investimentos; FIR Capital Partners; Green Capital Investimentos; Itaú Asset Management; Mauá Investimentos; Nexpar; NSG Capital; Santa Fé Portfolios; Santander Brasil Asset Management; Stratus; Sul América Investimentos; Tarpon Investimentos; Totem Investimentos; Tripod Investments; Voga

Prestadores de serviços ao mercado BM&FBovespa; Fator Corretora; Grupo Ecopart; Luz Engenharia Financeira; Sustain Capital; Trust9; Via Gutenberg Fonte: Site oficial PRI

Pelo amor, pela dor ou pela inteligência: o caminho das empresas rumo à sustentabilidade Signatária do PRI desde março deste ano, a BM&FBovespa passou a contar com uma diretoria de sustentabilidade um pouco antes, em novembro do ano passado. Quem está à frente da área é Sonia Favaretto. “Desde novembro nós estamos estruturando e desenvolvendo uma agenda, analisando as iniciativas nessa área. A adesão ao PRI veio como parte desse movimento”, diz a diretora de sustentabilidade da BM&FBovespa. Ela lembra, no entanto, que a preocupação com questões ligadas a melhores práticas é um tema mais antigo dentro da Bolsa. “Um exemplo é o ISE, que está completando 10 anos, e todas as iniciativas relacionadas ao mercado de carbono”, cita.
Antes da adesão, a BM&FBovespa realizou um trabalho interno em departamentos como o de relações com investidores e o financeiro para esclarecimento dos compromissos que a empresa estava prestes a assumir. Externamente, a Bolsa tem contribuído com uma iniciativa do PRI de incentivar a publicação de relatórios completos de sustentabilidade pelas companhias cujas ações compõem o IBrX 100 (leia mais na matéria principal). “A ideia é valorizar as empresas que já reportam e estimular que continuem fazendo dessa forma. Para as que não reportam, dizemos que recomendamos esse modelo”, resume Sonia.
Ela acrescenta que, do ponto de vista da Bolsa, o PRI está sendo importante porque a BM&FBovespa já tinha a intenção de trabalhar questões como GRI, transparência e modelo de relatório junto às empresas listadas. “Isso já estava na nossa agenda. Mas o fato de este agora ser o trabalho de uma rede nos dá mais força”, observa. A diretora define que o papel da Bolsa dentro do PRI é ser um agente indutor que ajuda a disseminar, no mercado, as práticas que os signatários do acordo priorizam.
Sonia chama atenção ainda para o fato de que as bolsas de valores estão sendo um foco de trabalho do PRI ao redor do mundo. “Percebemos que o PRI, agora, tem a intenção de focar mais no segmento de bolsa. Em setembro, por exemplo, será realizado um evento do PRI na China, o Sustentable Stock Exchanges 2010, que é voltado para as bolsas. Nesse encontro nós pretendemos discutir qual o papel das bolsas dentro dessa lógica de valorizar cada vez mais os fatores sócio-ambientais e de governança nas empresas listadas”, opina a diretora.
Marcela Zonis, gerente da rede brasileira do PRI, conta que existe um grupo de trabalho extra-oficial que tem como foco o estudo do papel das bolsas junto à comunidade de investimento como indutoras de sustentabilidade nas empresas. “As bolsas têm um papel autorregulatório muito forte e podem estabelecer regras de listagem, disclosure e governança corporativa que venham a facilitar a vida dos investidores. Elas funcionam como uma ponte entre investidores e empresas, e nós queremos aproveitar esse ponto de encontro para disseminar as boas práticas”, reforça Marcela, ao informar que, além da BM&FBovespa, são signatárias do PRI as bolsas da Turquia e de Joanesburgo (África do Sul).
Sonia, da BM&FBovespa, comenta que a sustentabilidade entra nas empresas pelo amor, pela dor ou pela inteligência. “Pelo amor, tem aqueles líderes e executivos que são apaixonados pela causa. A convicção faz com que eles tragam isso para a estratégia da empresa. Já a via da dor é a perda. Hoje, a sustentabilidade é um fator de mitigação de risco também. Pelo risco que se corre, pela perda financeira, a empresa passa a perceber que esse assunto não é só dialética, mas uma questão importante. No caso da inteligência, as companhias percebem que a adoção dessas práticas é realmente um diferencial competitivo, e que a economia e o mercado estão caminhando nesse sentido. A boa notícia é que cada vez menos empresas olham para sustentabilidade pela dor.
Ainda tem alguns casos, mas estamos migrando para uma questão de sensibilidade de papel competitivo”, analisa a diretora da Bolsa.