Construindo o Brasil do futuro | Fundos de pensão ampliam investi...

Edição 214

A elevada escala e os altos custos fixos exigidos pelos projetos de infraestrutura são prato farto para os investidores institucionais, que passaram a ver o segmento praticamente como de retorno certo. Embora a demanda por energia elétrica, logística, saneamento, irrigação, petróleo e gás, entre outros, seja necessidade premente do País há décadas, somente nos últimos anos é que finalmente essas áreas começaram a ser efetivamente consideradas como requisitos básicos para o desenvolvimento sustentável da economia. Com o governo federal encampando Programas de Aceleração do Crescimento (PACs) e, pelo menos na teoria, tentando reduzir a burocracia da atividade pública para entrada de capital privado, o interesse dos investidores por projetos de infraestrutura cresce a cada ano e começa a ganhar representatividade.A própria Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) classifica como desafio brasileiro a criação de novos mecanismos e instrumentos de crédito de longo prazo para o desenvolvimento do setor.Parte do caixa que interessa à associação é nada menos do que o equivalente a 17% do Produto Interno Bruto (PIB), os pouco mais de R$ 530 bilhões de recursos dos fundos de pensão. Apesar do volume, a participação da infraestrutura nas carteiras das fundações ainda está por atingir um patamar que leve as associações ligadas à categoria a fazerem estatísticas específicas sobre este setor. Mesmo assim, os aportes já são consideráveis e, pelos menos nos últimos cinco anos, estão em curva ascendente.Pelas últimas planilhas de Sidney Chameh, recém-empossado presidente da Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital (Abvcap), o mercado brasileiro de PE/VC contava, até 2008, com US$ 27 bilhões em estoque, contando o montante investido naquele ano e os recursos que ainda não tinham saído do caixa. Ainda sem o fechamento dos números do ano passado e mesmo com a crise financeira internacional, Chameh acredita no aumento do valor do caixa de investimentos. “O Brasil passa por uma fase importante de recuperação econômica. O setor de participações está na mesma situação e continua interessante”, compara, ao projetar que o patrimônio reunido pelos fundos de pensão deva superar os 20% do PIB nos próximos dois anos.Parte destes recursos, analisa Chameh, deve suprir projetos ligados principalmente às áreas de energia elétrica, portos e ferrovias. Entrariam no bolo os investimentos por meio de fundos de participação e Sociedades de Propósito Específico (SPEs) direta ou indiretamente ligados aos planos do Trem de Alta Velocidade (TAV), do pré-sal, da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016. “Copa e Olimpíadas devem ser aceleradores de algumas demandas já existentes, como por transporte público, o que reforça a necessidade de uma infraestrutura bem feita”, detalha, ao excluir da lista de interesse demandas pontuais como estádios e ginásios. Para o presidente da Abvcap, o interessante para os fundos de pensão são projetos com começo, meio e fim, como o TAV. Ele completa que, embora o senso comum classifique o setor de PE/VC como de capital de risco, a denominação “capital de investimento produtivo” é a que melhor se enquadra às suas atividades, consideradas por Chameh como de crescimento sustentável de longo prazo.José de Souza Mendonça, presidente da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), divide opinião com Chameh, ao lembrar que os fundos de pensão têm a missão de buscar rentabilidade e garantir o pagamento futuro dos beneficiários.Talvez por isso, Mendonça aborde com certa cautela o tema infraestrutura, cujo histórico nacional remete a contratos descumpridos e com riscos institucionais elevados. “É um assunto delicado, principalmente quando o governo quebra contratos com entidades com fins lucrativos, evocando o bem comum da população. As aplicações são de longo prazo e não por tempo de governo”, comenta. Ainda assim, Mendonça espera que os erros do passado sejam corrigidos nos atuais projetos em estudo, entre os quais o próprio TAV, para o qual ele acredita haver uma bela rentabilidade. “A questão é: como fazer um contrato sem que haja riscos institucionais?”, aponta.
Retorno garantido – Já entre os principais fundos de pensão do País e gestoras de recursos, a opinião quase unânime é de que investir em infraestrutura, seja via participação direta ou Fundos de Investimento em Participações (FIPs), é praticamente sinônimo de retorno garantido. Luís Carlos Afonso, diretor financeiro e de investimentos da Petros, considera que o atual cenário econômico e político do Brasil torna tão baixos os riscos dos investimentos em infraestrutura a ponto de resumi-los como “com cara de renda fixa”. Atualmente, a Petros participa, via Invepar – holding da qual detém 20% do capital total –, do capital de empresas ligadas ao transporte rodoviário, como a concessão da Rodovia Raposo Tavares, em São Paulo; e metropolitano, como o metrô da cidade do Rio de Janeiro.Tradicional no transporte ferroviário, com participação na empresa ALL Logística, a Petros acaba de entrar na empresa de cabotagem e portos Log-In Logística Intermodal, com cerca de 10% de participação. A carteira de ações em participações inclui ainda empresas do setor elétrico, como CPFL, Coelce e Multiner; e do setor de telecomunicações, com a Oi (ex- Telemar), na qual está em fase final de completar a compra de mais ações junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).Em private equity, a atuação da Petros se estende por 27 FIPs, dos quais 12 são ligados diretamente à área de infraestrutura. Esses fundos contam com R$ 6,8 bilhões de capital comprometido no total, e a participação da Petros chega a R$ 1,5 bilhão. A importância do segmento é tamanha que, mesmo ainda em fase inicial do período designado para inversões, os fundos já alavancam projetos no total de R$ 9,8 bilhões.O diretor financeiro da Petros aponta ainda os setores elétrico, de saneamento, logístico e petróleo e gás como preponderantes no interesse dos fundos de pensão por projetos de infraestrutura. Somente a energia elétrica é detentora de 42% de todo o capital investido pela fundação em private equity, uma vez que o segmento, na opinião de Afonso, apresenta condições regulatórias favoráveis, retornos compatíveis e segurança institucional. Neste cenário, pesam no portfólio da Petros projetos de geração de energia renovável em pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e parques de energia eólica. Outro demandante importante do setor, o saneamento ambiental, já recebeu cerca de R$ 344 milhões de aportes dos fundos em que a Petros é cotista, alavancando projetos no montante de R$ 1,36 bilhão.Nos segmentos de petróleo, gás e biocombustíveis a participação dos fundos é emergente e ainda está em fase inicial. Ainda assim, sua capacidade financeira atual chega a cerca de R$ 500 milhões, dos quais a Petros é detentora de uma participação aproximada de 20%. “Já estamos analisando alguns projetos de investimento e propostas de alguns FIPs na cadeia do pré-sal. Alguns são bastante volumosos, porém estamos em fase de estruturação e acredito que devemos aprovar algo ao longo deste ano”, revela Afonso.
Eventos – Diante de um histórico positivo, o executivo continua otimista em relação aos próximos projetos de infraestrutura que devem entrar em pauta na Petros. Entre eles, estão alguns indiretamente ligados às Olimpíadas e Copa do Mundo, bem como o trem de alta velocidade.“Metrô, rodovias e trem nos interessam bastante. Como nossa contribuição por meio da participação direta nas empresas já é bem significativa, acredito que os FIPs devem crescer muito nos próximos anos, o que permitirá a maior participação de investidores e a diluição dos riscos. Se avaliarmos os novos projetos como promissores e eles estiverem dentro dos nossos parâmetros de segurança, evidentemente teremos interesse”, analisa.Na mesma linha, o maior fundo de pensão do País, com patrimônio de R$ 127 bilhões, a Previ já tem aproximadamente 12% do seu patrimônio direcionado a investimentos em infraestrutura. De acordo com informações prestadas pela assessoria de imprensa da fundação, desde a década de 1990 a Previ procura diversificar seu portfólio, com recursos significativos nesta área, o que para a entidade favorece tanto a retirada de gargalos do setor no País quanto o retorno positivo às participações acionárias do fundo de pensão. No geral, são investimentos em energia elétrica, telecomunicações, logística e transportes rodoviário, ferroviário e urbano que recebem aportes via todo tipo de instrumento, desde FIPs, passando por leilões de privatização nos setores de energia elétrica, telecomunicações e ferrovias, até a participação acionária em empresas e dívida corporativa.No curto prazo, aliás, chamam atenção da Previ projetos ligados à área de energia elétrica, transporte urbano, rodovias, portos e saneamento, cujos modelos de investimentos dependerão do perfil de cada proposta e do ambiente econômico em voga. Por enquanto, a Previ adianta que está analisando projetos imobiliários no entorno do que serão as arenas para a Copa do Mundo, bem como outros ligados à área de transporte de passageiros, portos e aeroportos. Uma vez que o País não dispõe de experiências recentes de investimentos em estádios de futebol e arenas poliesportivas, as obras ligadas à Copa e Olimpíadas ficam de fora da área de interesse da Previ.Para Bolivar Tarragó Moura Neto, vice-presidente de gestão de ativos de terceiros da Caixa Econômica Federal (CEF), Copa do Mundo e Olimpíadas também atrairão os fundos para investimentos correlatos aos dois eventos.Isto significa que, enquanto as obras diretas devem ser financiadas com recursos públicos, os projetos indiretos de turismo e transporte podem ser bons atrativos para os investidores privados. Tanto que Tarragó revela ter colocado em pauta na CEF a criação de fundos exclusivos para ambos os eventos esportivos. “Ainda não chegamos a um modelo adequado de investimento”, completa.
Até lá, a CEF segue administrando o principal fundo de investimento do país, o FIFGTS, com recursos de R$ 14 bilhões direcionados à infraestrutura. Em paralelo, abre Tarragó, a gestora de recursos dá andamento a um FIP voltado ao setor de óleo e gás, que já captou R$ 500 milhões; e outro denominado Caixa Ambiental, em fase de investimentos dos R$ 400 milhões levantados para projetos de energia limpa e saneamento ambiental. “Isto demonstra que os fundos de investimento e fundos de pensão estão ganhando cada vez mais representatividade em projetos de infraestrutura. A tendência é continuar crescendo, pois trata-se de um setor que vai demandar grandes volumes de investimento, principalmente em óleo e gás”, projeta. O reduto, a propósito, é para Tarragó a exceção para a captação de recursos externos para investimentos em FIPs no Brasil, a serem impulsionados com a definição do pré-sal.
Internamente, a julgar pelo seu portfólio, Bolivar acredita que os fundos de pensão já têm na infraestrutura sua primeira opção de investimento, uma vez que a meta de rentabilidade tem ficado entre IPCA +10 e IPCA+12.
“Os principais fundos de pensão do país estão ligados a empresas públicas, é natural que tenham um perfil investidor em infraestrutura, mas isto ainda está restrito aos grandes fundos, pois os pequenos não têm estrutura e expertise para isto”, compara.

Acesso também para os menores – Como alternativa de investimento em infraestrutura para os pequenos e médios fundos de pensão, a divisão de Asset Managment do Grupo Santander Brasil criou, no fim do ano passado, o Fundo FIC FI Infraestrutura Ações. A partir dele, Alexandre Silvério, da área de Gestão da Santander Asset Management, espera atingir a barreira de R$ 500 milhões nos próximos 12 meses, com recursos divididos igualmente entre capital nacional e estrangeiro. “Temos recebido muito contato de investidores internacionais. É um reflexo pós-crise econômica, que criou uma situação estrutural que dá um certo conforto para este tipo de investidor aplicar no Brasil”, acredita. O fundo tem aplicação inicial mínima de R$ 2 mil, e aplicações adicionais no valor de R$ 500. A taxa de administração é de 3% ao ano. A intenção é reunir empresas listadas em bolsa, principalmente das áreas de logística, energia, óleo e gás e as que estiverem ligadas direta ou indiretamente aos projetos relacionados à Copa do Mundo e Olimpíadas. “O Brasil tem um gap a ser preenchido em infraestrutura. Devem surgir cada vez mais alternativas de investimentos que contemplam os fundos de pensão”, conclui o executivo.