Decisão globalizada | Fundações patrocinadas por multinacionais c...

Edição 213

As fundações cujas patrocinadoras são multinacionais poderão ser as primeiras a investir no exterior após a mudança feita na legislação, já que trocam informações com os fundos de pensão de suas matrizes sobre as aplicações mais atraentes. A afirmação foi feita pelo então secretário de Previdência Complementar e atual diretor superintendente da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), Ricardo Pena, durante evento promovido pela Associação dos Fundos de Pensão de Empresas Privadas (Apep) no final do ano passado. Por enquanto, entidades ligadas a empresas globais incluíram as aplicações externas em sua política de 2010, mas ainda não se mostram prontas a realizá-las.Contudo, já se animam em escolher os mesmos gestores, auditores e consultorias de suas matrizes em um sinal de alinhamento de práticas.Muito ainda se discute no mercado sobre a viabilidade de as entidades fechadas de previdência complementar brasileiras investirem no exterior, já que hoje o que mais se comenta são as oportunidades que o mercado brasileiro oferece. Por isso, a Previ Siemens, fundação dos funcionários da Siemens, prefere não optar por esse tipo de investimento neste momento. No entanto, já caminha no sentido de trocar informações com a fundação da matriz alemã e de outros países onde a Siemens tem presença, explica Roberto Ferraz, diretor superintendente da fundação.A entidade faz parte do International Pension Council (IPC), um grupo criado pela Siemens reunindo os principais fundos de pensão da empresa no mundo, que somam em torno de 150. “Uma vez por ano esse conselho se reúne presencialmente e as entidades do grupo podem trocar informações sobre investimentos e melhores práticas”, explica Ferraz, que todos os anos dirige-se à Alemanha para o evento. “Aproveitamos toda essa experiência, não só da matriz alemã, como de outros países como Estados Unidos, Holanda, Inglaterra, Áustria e da Ásia”, declara. As reuniões normalmente duram uma semana e abordam temas como investimentos, legislação, contabilização internacional e comunicação.As fundações da gigante alemã seguem um guideline global que passa por adaptações de acordo com a legislação de cada mercado. “Alguns fundos da Siemens fazem toda a gestão dos investimentos no exterior, como é o caso da Holanda, que faz a gestão com a Alemanha, juntando a massa de participantes e ganhando em escala. Isso está no guideline, mas é proibido no Brasil, por exemplo. Temos que adaptar as diretrizes de acordo com as leis daqui.” No País, a fundação da Siemens tem patrimônio de R$ 810 milhões.A entidade consegue contratar alguns dos prestadores de serviços que também atendem outras fundações da Siemens no mundo, como auditores e gestores. Dessa forma, a fundação ganha escala – o que, consequentemente, reduz os custos. Hoje, a Previ Siemens trabalha com BNP Paribas, HSBC e Schroders, que têm uma rede mundial, além de Itaú Unibanco e BTG Pactual. “Nas questões atuariais, ocorre o mesmo. Temos um contrato mundial, aí verificamos se existe estrutura daquele player no Brasil. Se houver, aderimos a esse contrato”, explica. O intuito, segundo ele, é atingir maior eficiência.Além do campo dos investimentos, as fundações de patrocinadoras multinacionais também trocam informações em relação às melhores práticas. No ano passado, após uma das reuniões no exterior, a Previ Siemens alterou sua política de comunicação. Durante a campanha de migração para o plano de Contribuição Definida (CD), a entidade intensificou o contato com participantes, promovendo palestras, distribuindo material informativo e realizando simulações, algo que não costumava ser feito antes. “No exterior, quando se refere à comunicação com o participante, as fundações estão mais à frente”, declara o dirigente.
Investimento no exterior – A HPPrev, fundação dos funcionários da americana Hewlett-Packard (HP), também não descarta investir no exterior, mas está aguardando surgirem fundos desse tipo entre os gestores brasileiros. “Uma vez oferecido para a gente, e constatado que vale a pena, podemos investir”, afirma João Carlos Ferreira, diretor financeiro da fundação.Por enquanto, a fundação segue a mesma estratégia da Previ Siemens: contratar alguns dos prestadores de serviços que atuam com a fundação matriz e têm atuação no Brasil. No caso da HPPrev, são HSBC e Western.A lista é completada por Itaú Unibanco. “Utilizamos a expertise de gestores internacionais para auxiliar nos investimentos. Ter gestores com rede global nos permitirá acessar os mercados externos de forma mais simplificada”, diz Ferreira, completando que, por enquanto, nenhum produto está sendo analisado porque a mudança na legislação é recente. “Essas análises devem ocorrer ao longo do ano.” Com um patrimônio de R$ 760 milhões, a fundação São Rafael, dos funcionários da Xerox, mudou sua política de investimento de 2010 em relação à do ano anterior e incluiu um limite para as aplicações em outros países, que passou a ser de 5%. “Colocamos na política para termos flexibilidade, na medida em que estamos diante de uma tendência de queda da taxa de juros no longo prazo. Temos que manter sempre a porta aberta para oportunidades em novos produtos”, declara Marco Aurélio de Azevedo, diretor-superintendente da entidade, apesar de salientar que, por enquanto, não há nada no radar. Atualmente, os gestores do fundo são BTG Pactual, Western, BNP Paribas e Itaú Unibanco.Para Luiz Paulo Brasizza, diretor de investimento da Volkswagen Previdência Privada (VWPP), enquanto as taxas de juros do País estiverem altas, não há razão para diversificar investimentos. Mas a fundação troca informações com outros fundos de pensão do grupo automobilístico no mundo. São feitas reuniões anuais e, a cada três meses, as fundações da companhia no mundo enviam relatórios para matriz. “Discutimos não só investimentos, como políticas de Recursos Humanos voltadas para os planos de aposentadoria, como a manutenção ou não de planos de Benefício Definido”, explica. Sobre esse tema, o dirigente comenta que não existe uma orientação da matriz nesse sentido. “Mas ela exige um arcabouço de processos e controles para que os planos sejam sustentados, já que nossa realidade é diferente da de Europa e Estados Unidos.” A Previ Novartis não vedou os investimentos no exterior na política de 2010, deixando ao critério do gestor a decisão, com a condição de que peça autorização antes para a fundação. “Seguramos um pouco o freio nesse sentido porque ainda não temos claro se queremos investir lá fora”, declara Márcio Amendola, diretor da Previ Novartis. Atualmente, a entidade já investe em BDRs. “Ainda precisamos amadurecer a idéia de investir no exterior porque ainda temos espaço para obter rentabilidades aqui.” Com um perfil mais conservador, a Phrosper, dos funcionários da Rhodia, mantém frequente comunicação com a matriz francesa, informando duas vezes por ano as decisões que estão sendo tomadas localmente. Os maiores fundos de pensão da multinacional estão na França, nos Estados Unidos e no Brasil, países em que a companhia tem maior contingente de funcionários. Da mesma forma que outras fundações ligadas a empresas globais, a seleção dos gestores também leva em consideração a questão da escala, explica Valeria Bernasconi, diretora-superintendente da entidade. Hoje são gestores da Phroser HSBC, Itaú Unibanco e Western.
Facilita, mas não garante Na opinião de Fernando Lovisotto, diretor da RiskOffice, ainda é difícil afirmar categoricamente que as fundações estrangeiras serão as primeiras a investir no exterior, porque tudo vai depender dos planos e do estatuto dos fundos. Ele acrescenta que entre as fundações que já investiram – como Derminas e Sabesprev – não havia patrocinadoras multinacionais. “Por outro lado, elas trocam informações sobre investimentos com os diretores da matriz, o que facilita o acesso aos mercados externos”, afirma.Guilherme Benites, gerente da área de previdência da RiskOffice, lembra que, mesmo que as multinacionais tenham conhecimento sobre os melhores investimentos, muitas vezes a legislação local não permite que as fundações invistam neles. Hoje, existe a exigência de que a aplicação seja feita por um veículo com sede no País, o que nem sempre é fácil de ocorrer. “Além disso, o fundo de pensão só pode ter 25% do patrimônio do fundo de investimento. Aí ele precisa chamar outras três fundações, e se uma sair, todas têm que sair também. Isso dá trabalho tanto para as nacionais como para as multinacionais.”