Mais longe da renda fixa | Imóveis e fundos estruturados ganham e...

Edição 212

A chegada da nova resolução que trata dos investimentos dos fundos de pensão, em outubro do ano passado, já começa a surtir efeitos sobre as estratégias de alocação das entidades. Isso pode ser visto nas políticas de investimento que as fundações elaboraram (e aprovaram) para vigorar neste ano de 2010. Em linhas gerais, há uma perspectiva de aumento das aplicações em fundos estruturados, em especial os de investimento em participações (FIPs), e em imóveis.No caso dos FIPs, contou a favor o fato de ter sido criado o segmento de investimentos estruturados na Resolução 3.792 do Conselho Monetário Nacional (CMN), com um limite próprio de 20% (com um sublimite de 10% para os multimercados “arrojados” e para os fundos imobiliários). Dessa forma, os fundos de private equity deixaram de ocupar parte da carteira de renda variável das entidades, o que dá mais margem de manobra tanto em uma categoria quanto na outra. Coisa parecida aconteceu com o segmento de imóveis – que, apesar de ter seu limite mantido em 8%, ganhou um respiro indiretamente. Os fundos imobiliários, que também migraram para o segmento dos estruturados, abriram espaço para investimentos diretos em imóveis.Com patrimônio de R$ 11,8 bilhões no fim do ano passado, a Valia é um exemplo de fundação que deve ampliar os aportes em imóveis e em private equity. Eustáquio Lott, diretor superintendente da entidade, afirma que a Valia encerrou 2009 com cerca de 62% dos recursos aplicados em renda fixa, 30% em renda variável, 4% em imóveis e 4% com operações com participantes. Ao final de 2010, a ideia é que esta disposição mude um pouco de cara, para 55% em renda fixa, de 28% a 30% em renda variável, 5% em investimentos estruturados, 8% em imóveis e 4% em operações com participantes.“Com a taxa da renda fixa tradicional em queda, o segmento de fundos estruturados apresenta uma oportunidade de ganhos mais elevados, assim como os imóveis”, analisa Lott. Ele afirma que atualmente a Valia conta com cerca de 1,3% de seu patrimônio, ou R$ 154 milhões, aportado em cinco fundos de participação, com foco principalmente em governança e infraestrutura. O superintendente da Valia acrescenta que a entidade tem vários FIPs em análise no momento. “O pipeline está cheio.” Ele comenta que fundos voltados a infraestrutura tendem a ser beneficiados pelos eventos esportivos que o Brasil vai sediar – a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. “Vai ser um caminho natural de incremento, nos próximos anos, dos investimentos em infraestrutura básica no País”, opina.Além dos FIPs, os fundos imobiliários podem ganhar espaço na carteira da fundação. “Nós temos hoje um fundo imobiliário, e é também uma classe de ativos que podemos olhar se aparecer alguma proposta. É um investimento que está contemplado na nossa política”, indica. No caso do investimento direto em imóveis, o foco da entidade são os empreendimentos corporativos, principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo. “Mas nós não descartamos outras praças, desde que sejam projetos interessantes.” Tudo a ver com a legislação – Os novos limites estabelecidos pela CMN 3.792 também mudaram a estrutura da política da Funcef para este ano. “As alterações são mais decorrentes da mudança na norma do que propriamente da estratégia. Por exemplo: nós tínhamos uma meta de 36% em renda variável em praticamente em todos os planos. Agora, essa meta se reduz um pouco, mas não porque nós vamos reduzir nossa posição, e sim porque uma parte dos nossos investimentos em renda variável passou para fundos estruturados”, afirma Demósthenes Marques, diretor de investimentos da entidade, ao lembrar que alguns ativos que antes estavam enquadrados nas categorias de renda fixa e imóveis também migram para o novo segmento de estruturados. “Os centros das nossas metas diminuem um pouco para os segmentos de renda fixa e renda variável, porque tem uma parte deles que muda para investimentos estruturados. Mas não quer dizer que nós vamos reduzir as alocações. Em renda variável, inclusive, a intenção é continuar aumentando”, explica Marques. A fundação encerrou 2009 com patrimônio total de R$ 38,9 bilhões, com os recursos sendo investidos 52% em renda fixa, 36,6% em renda variável e quase 8% em imóveis.A ideia é também elevar um pouco as aplicações no segmento de estruturados, no qual a Funcef já alocava cerca de 8% dos seus recursos consolidados. O objetivo é chegar perto de 10% este ano. “Vai aumentar um pouquinho, mas já tínhamos uma alocação razoável nesse segmento.Nós estamos colocando como meta algo perto de 10%, com limite superior de 15%, o que nos dá uma folga. Mas uma coisa é ter o limite superior, outra é querer chegar nele”, pondera o diretor. Ele lembra que, entre 2004 e 2009, a Funcef intensificou um processo de investimentos em FIPs com foco no alongamento da carteira e, agora, chega a uma etapa apenas de manutenção desse movimento. “Não queremos deixar que isso funcione como ondas de investimentos, como se de repente nós passássemos três ou quatro anos aplicando um grande volume em private equity e depois ficássemos cinco anos sem investir. Nossa ideia agora é dar uma continuidade a esses investimentos, mas em um ritmo menos intenso.Queremos evitar que haja uma data em que vençam os investimentos de longo prazo sem que haja outros que dêem continuidade à estratégia”, afirma.Outra classe de ativos que é foco dos investimentos da Funcef em estruturados são os fundos de investimento imobiliário. “Já que o limite para imóveis não foi ampliado, nós podemos estruturar alguns investimentos imobiliários via fundos”, diz. Ele acrescenta que a Funcef está bem perto do limite de 8% no segmento de imóveis, mesmo com a ida dos fundos imobiliários para o segmento de estruturados. “Isso abre algum espaço para nós, mas na verdade o grande montante da nossa carteira imobiliária é de participação direta. O deslocamento dos fundos imobiliários para o segmento de estruturados abriu um espaço de entre um e dois pontos percentuais, o que faz com que a carteira da área imobiliária em análise já tenha condições de rapidamente nos colocar, de volta, bem perto do limite dos 8%”, aponta.Os imóveis ganharam espaço na política de investimentos da Previ para 2010. O segmento sofreu um aumento de limite para aplicações do Plano 1 (BD) e passa a ocupar lugar na carteira do Previ Futuro (CD). Além de ser um mercado considerado promissor pela Previ, no caso do Plano 1 o setor imobiliário também é bastante atrativo devido à boa rentabilidade e geração de caixa que apresenta. “Isso ajuda tanto a proteger o investimento quanto a obter renda para pagar os benefícios”, afirma Sérgio Rosa, presidente da entidade. Ele lembra que o Plano 1 é maduro, não conta mais com contribuições e paga um volume grande de benefícios.A situação do Previ Futuro é diferente, visto que se trata de um plano mais jovem. Para ele, a estratégia caminha no sentido da diversificação da carteira. “No Previ Futuro, aumentamos ligeiramente a margem de aplicação em renda variável e iniciaremos os aportes em imóveis. Estamos procurando diversificar a pauta, com investimentos com retorno de longo prazo”, diz Rosa, ao acrescentar que o patrimônio do Previ Futuro, de R$ 1,5 bilhão, é bem menor do que o do Plano 1.
Mais renda variável – A Fundação Banrisul já vem buscando a diversificação de seus investimentos há mais de um ano. Segundo Jorge Loureiro, diretor financeiro da entidade, o movimento tem sido de migração da renda fixa para a renda variável e, mesmo dentro da renda fixa, de saída dos títulos atrelados a Selic para os ligados a índices de preços. “No ano passado, aumentamos significativamente a concentração da nossa carteira de renda fixa em títulos públicos e privados indexados a índices de preço, e elevamos um pouco a nossa exposição a renda variável. Agora, em 2010, podemos incrementar novamente a parcela em renda variável, para até 32%, segundo nossa política”, diz o diretor, informando que no início do ano a aplicação era de 25% no segmento.Desde outubro de 2008 a fundação vem ampliando seu investimento em ações, tendo apenas “calibrado” as posições ao longo de 2009.Loureiro afirma que o aumento das aplicações em renda variável previsto para este ano será feito de forma lenta e conforme as oportunidades forem surgindo. “É um mercado mais volátil, que tem um nível de risco bem maior. Não podemos fazer movimentações drásticas, de uma hora para outra. Trabalhamos com algumas projeções em nossa política de investimentos e, com base nessas projeções, definimos o ganho que queremos obter. É essa meta que nos leva a fazer a calibragem das posições.” Na renda fixa, permanece a estratégia de sair de Selic e migrar para os índices de preços, com uma atenção especial aos títulos privados. “No segmento de renda fixa, é a oportunidade que se tem de ganhar um pouco mais”, analisa o diretor.
Nível de risco ganha destaque na Petros
A estrutura da política de investimento da Petros para o período de 2010 a 2014 é bem diferente das anteriores. O que mudou não foi tanto o limite de aplicação em cada segmento, mas sim a forma com que esses limites foram colocados – além disso, o texto ficou mais curto e de mais fácil entendimento.
“Demos uma enxugada boa na política, que ficou mais objetiva e direta”, diz Luis Carlos Afonso, diretor financeiro e de investimentos da Petros. “E fizemos uma mudança estrutural. Até o ano passado, os limites eram estabelecidos por tipos de ativo. Por exemplo: tinha um limite para CCBs, um para FIDCs, enfim, cada item tinha o seu. Agora, a nova abordagem funciona sob a ótica de um conjunto formado por nível de risco, maturação e grau de liquidez dos ativos”, completa.Afonso explica que foram adotados três grandes níveis de risco: investimentos livres de risco, de baixo risco e de risco moderado. A esses três níveis de risco, são associadas metas de rentabilidade distintas. E ainda é analisado o prazo do investimento. “Nós passamos a trabalhar por blocos. Dessa forma, nós podemos ter FIDCs tanto dentro do baixo risco quanto do moderado. Um tipo de investimento pode estar em uma categoria ou em outra, a depender do prazo e da remuneração, que deve estar adequada ao nível de risco”, detalha. “Os nossos limites e parâmetros foram construídos dentro dessa lógica, fundamentalmente nas categorias de risco.” Segundo ele, uma dificuldade em se fazer uma política prevendo limites para cada tipo de ativo e de investimento é que, eventualmente, poderia aparecer algum ativo em que a Petros não teria condições de investir porque ele não constava em sua política. “Obviamente, nós continuamos estipulando limites para os segmentos – como renda fixa e renda variável, enfim, aqueles determinados pela 3.792. Mas dentro de cada segmento, ao invés de eu colocar cada ativo por item, eu trabalho por grau de risco. Isso deixa a política adequada para receber diversos tipos de ativos, desde que, é claro, o investimento neles sejam permitido pela norma”, afirma.Afonso acrescenta que a própria Resolução número 3.792 do Conselho Monetário Nacional (CMN) estabelece uma relação bastante lógica entre risco e retorno. “Nos inspiramos na própria 3.792 para formular essa nova estrutura da nossa política de investimento”, diz.Ele conta que a ideia foi muito bem recebida dentro da Petros. “A política foi aprovada por unanimidade, e nós tivemos todo o cuidado de fazer uma explicação detalhada. Ela tem um sentido mais lógico e é mais fácil de acompanhar do que a anterior.”
Real Grandeza: saída da renda variável
A carteira de investimentos do plano de Contribuição Definida (CD) da Fundação Real Grandeza encerrou 2009 com 23,4% de aplicação em renda variável. Para este ano, a expectativa é de que essa exposição caia para 14%, sendo os recursos transferidos para a renda fixa. O movimento é indicado pelo ALM (Asset Liability Management – Gestão de Ativos e Passivos), explicou Ricardo Nogueira, então diretor de investimentos do fundo de pensão (em 8 de fevereiro, tomou posse o novo diretor de investimentos da entidade, Eduardo Henrique Garcia).
“A taxa de remuneração da renda fixa melhorou bastante, e nós estamos alongando a carteira de títulos públicos federais do plano CD”, disse Nogueira. Caso surja alguma grande oportunidade em renda variável ao longo deste ano, o fundo de pensão pode vir a fazer alguma alocação tática, “saindo do teórico”. No plano de Benefício Definido (DB), a ideia é também manter a exposição a renda variável na casa dos 14% – no final do ano passado, estava em 17,4%.Outra mudança trazida na política de investimentos da entidade para 2010 é o aumento da “nota de corte” que os papéis devem atingir para ter direito a ingressar na carteira. “Elevamos o rating de baixo risco de crédito de A- para AA-, e a nota deve ser dada pelas agências internacionais mais conhecidas”, avisou Nogueira.O plano BD da entidade encerrou 2009 com rentabilidade de 20,41%, contra uma meta atuarial de 10,36% pelo INPC+6%. O plano CD, por sua vez, alcançou retorno de 24,24%, ante um IGP-DI de 4,48%.