Prêmio de CDB volta a subir | Títulos chamam atenção das fundaçõe...

Edição 197

 

Boa parte das dezenas de bilhões de reais sacados dos fundos de investimento por conta da acentuação da crise financeira está sendo destinada às aplicações em Certificados de Depósito Bancário (CDBs).
Devido à dificuldade de captação no mercado, os bancos passaram a oferecer prêmios mais interessantes ao investidor, enquanto a rentabilidade dos fundos vem caindo por conta do tombo das bolsas.
Dados da Câmara de Custódia e Liquidação (Cetip) mostram que o estoque de CDBs ultrapassou R$ 600 bilhões em outubro, o que representa um aumento de 69,4% somente neste ano. O estoque atual é de R$ 610 bilhões, contra R$ 360 bilhões registrados em dezembro de 2007. Atualmente, o CDB é o ativo de maior volume registrado na Cetip, com aproximadamente 25% do estoque total de R$ 2,4 trilhões. Segundo a Câmara, o maior aumento ocorreu nos meses de abril, junho, agosto e setembro.
Juntamente aos títulos do governo, a Fundação Metrus está olhando os CDBs de longo prazo como alternativa de investimento no momento de turbulência, explica Fábio Mazzeo, presidente da entidade. “Isso está ocorrendo dentro de nossa análise de risco, com papéis de bancos com condições de receberem nossas aplicações, tendo como preferência ativos indexados ao IGP-M”, completa. Segundo ele, a fundação tem procurado aplicar em CDBs do Itaú, que estão pagando IGP-M mais 9,4% no prazo de seis anos. Há também papéis do Banif, a IGP-M mais 10%. “Estamos de olho em títulos que estão pagando pelo menos 9% mais inflação e num prazo longo”, diz Mazzeo. Segundo ele, nenhum banco pagava taxas a esses patamares antes do agravamento da crise. Além disso, os títulos eram principalmente indexados aos Certificados de Depósitos Interbancários (CDI). Na opinião de Mazzeo, no longo prazo o Brasil vai crescer, o que permitirá retomada das quedas dos juros, normalizando as taxas dos CDBs.
Para a Capef, no entanto, o agravamento da crise externa fez com que a fundação adiasse os planos de aumentar sua fatia de aplicações em CDBs. “Tínhamos o projeto de comprar mais papéis para melhorar a rentabilidade dos recursos em caixa para pagar os benefícios mensais.
Mas aí a turbulência piorou e resolvemos adiar esses planos”, comenta José Jurandir Mesquita, diretor de investimento da Capef. Todos os meses, a fundação desembolsa em benefícios de R$ 7 milhões a R$ 8 milhões a mais do que arrecada, pelo fato de seu plano já estar maduro.
Já no caso da Fundação Fapes (BNDES), a decisão foi aproveitar a segurança e rentabilidade dos títulos públicos, excluindo do foco os títulos de dívida privada, segundo Ricardo Weiss, diretor de investimentos da entidade (leia mais na página 34).“Aproveitamos os últimos tempos para alongar nos títulos públicos, e os CDBs não são tão longos. Não aumentamos exposição em risco de crédito, porque acreditamos se tratar de uma oportunidade só no curto prazo”, avalia. Atualmente, a Fapes conta com R$ 300 milhões em CDBs, o equivalente a 11% de sua carteira de renda fixa. Segundo números de agosto, os investimentos em renda fixa atingiram R$ 3 bilhões, e os de renda variável, R$ 1,6 bilhão. O patrimônio líquido da fundação no período era de R$ 5,8 bilhões.

Dificuldades em captar – A escassez de liquidez do mercado interbancário nacional e internacional fez com que os bancos elevassem as taxas que pagam ao investidor que adquirir seus papéis. Além dos juros mais atrativos, essas aplicações não cobram taxa de administração, diferentemente dos fundos de investimento, o que pode explicar os resgates ocorridos nos últimos meses. Para o consultor de investimentos Wenderson Wanzeller, no entanto, os saques ocorrem especialmente por parte do investidor pessoa física. “Esse investidor está migrando para o CDB, que está pagando em torno de 110% do CDI no caso de bancos médios. Antes da crise, estava em média 104% do CDI”, comenta.
De acordo com o especialista, a maior demanda ocorre por papéis de bancos públicos, considerados ainda mais seguros que os bancos grandes privados. “Por mais que o investidor saiba que existe uma chance muito remota de um Itaú ou um Bradesco quebrar, ele está tomando medidas extremamente conservadoras por conta do pânico e da insegurança que estão instalados. Aí prefere aplicar em CDBs de bancos públicos”, endossa.
Na opinião de Maurício Gentil, diretor comercial da Meta Asset, como a indústria de fundos deixou de dar funding para os bancos, a necessidade de captar via CDB se intensificou. “O CDB tornou-se o abrigo perfeito para o investidor no momento atual de incerteza”, avalia. Segundo ele, os papéis estão sendo negociados a taxas pré-determinadas e com liquidez de 30 dias. Os juros variam de acordo com o porte do banco e os prazos da operação, mas, de acordo com Gentil, um montante de R$ 500 mil pode ser captado a 103% ou 105% do CDI no caso dos bancos grandes.
Para os bancos médios, chega a 115% do CDI. Segundo o diretor comercial, um dos motivos para a “debandada” dos investidores rumo ao CDB é o fato de a cobrança do Imposto de Renda (IR) sobre o rendimento ocorrer somente no resgate da aplicação.
Na opinião de Alexandre Assaf, economista da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais, Econômicas e Financeiras (Fipecaf), a busca pelo CDB se intensificou ainda mais depois do fechamento para resgates e captações de dois fundos da gestora GWI. “Isso de alguma maneira assustou o investidor”, diz. Assaf afirma que os CDBs de bancos de primeira linha são títulos de baixíssimo risco na medida em que existe uma possibilidade remota de se tornaram inadimplentes. Contudo, ele não acredita que as altas taxas permanecerão por longo tempo. “Atualmente, existe uma dificuldade de liquidez, mas isso não vai durar muito, assim como o dólar não vai continuar subindo. As coisas devem se estabilizar”, completa o especialista, acrescentando que a moeda norte-americana deve encerrar o ano em torno de R$ 1,90. Para ele, a tendência é de que os juros, no curto prazo, continuem subindo, mas no médio e longo prazo, a Selic deve retomar sua trajetória de queda.

Medidas do BC devem ajudar bancos médios

As recentes medidas do Banco Central de diminuir o compulsório para os bancos grandes que adquirirem as carteiras de crédito de instituições financeiras menores podem dar alívio ao mercado interbancário nos próximos meses. Dessa forma, a captação via CDB deve “desafogar”, dizem especialistas. Para Roberto Sevalli, diretor da asset management do Paraná Banco, as dificuldades dos bancos médios em captar no mercado não estão interferindo nos negócios das gestoras dessas instituições. “Depois desse processo de segregação de valores, esse ‘chinese wall’, os conceitos mudaram”, afirma, se referindo ao fato de as atividades das duas áreas serem totalmente separadas.
Sevalli nega que o investidor desconfie das assets de bancos médios por conta dessa dificuldade atual que atinge a liquidez. “Os saques estão ocorrendo em todo tipo de asset, inclusive naquelas ligadas a bancos de primeira linha. Resta saber até que ponto esse investidor está bem informado”, completa. Ele lembra, porém, que a alta do CDB não é de agora, mas ocorre desde o início do ano após a decisão do governo de cobrar compulsório sobre as captações das empresas de leasing, que até então eram usadas pelos grandes bancos como forma de obter recursos no mercado de forma mais barata. “A relação rentabilidade versus risco para os CDBs está mais atraente”.
Para Fausto Guimarães, diretor de Relações com Investidores do Banco Cruzeiro do Sul, é cedo para afirmar se as medidas do Banco Central surtirão efeito sobre a liquidez de mercado. O banco é acostumado a realizar cessões de carteira, por isso, a decisão do BC não muda em nada sua estratégia, apesar de ajudar a instituição a encontrar compradores interessados. “Vemos com bons olhos as medidas da autoridade monetária. E percebemos que já existe interesse por nossos ativos”, explica Guimarães, frisando que as conseqüências das medidas do Banco Central ainda vão demorar a serem sentidas.