Influências do private equity nos IPOs

Edição 194

A indústria de private equity e venture capital é ainda recente no Brasil

A indústria de private equity e venture capital (PE/VC) é ainda recente no Brasil. Porém, seu impacto na economia é visível na evolução do mercado acionário ocorrida notadamente a partir de 2004. Das 109 ofertas públicas iniciais (IPOs) realizadas na Bovespa de janeiro de 2004 a abril de 2008, 39 foram de empresas financiadas por fundos PE/VC. Juntas, elas levantaram 33% do valor agregado das emissões do período. Além de ajudar a trazer novas empresas para a bolsa, as organizações gestoras de PE/VC também contribuem para o aprimoramento da qualidade de informação contábil e das práticas de governança corporativa das empresas por elas financiadas.
É esse o resultado encontrado por Sabrina Gioielli em um estudo com base em uma amostra de 66 empresas que abriram capital entre 2004 e julho de 2007, fruto de uma pesquisa de mestrado defendida na FGV- EAESP sob a orientação do prof. Antonio Gledson de Carvalho. Do total de empresas da amostra, 29 receberam investimento de PE/VC.
A pesquisa investigou a dinâmica do gerenciamento de resultados e o papel do gestor de PE/VC na redução desta prática por meio da definição de quatro fases em torno da data do IPO, de acordo com os incentivos existentes em cada período: Pré-IPO, IPO, Lock-up e Pós-Lockup. O gerenciamento de resultados, ou earnings management, pode ser definido como uma intervenção proposital no processo de elaboração de relatórios financeiros, com qualquer finalidade que não seja representar a realidade intrínseca ao negócio. Embora não seja ilegal, esta prática pode distorcer o conteúdo informativo das demonstrações contábeis e, desta maneira, prejudicar os acionistas. Em um contexto de abertura de capital, as empresas têm incentivos para manipular os resultados de modo a induzir os investidores a pagar um preço irreal (inflacionado) pelas suas ações.
Os resultados obtidos indicam que a influência do gestor de PE/VC na redução do earnings management é mais importante exatamente no momento mais crítico, ou seja, no intervalo imediatamente ao redor da data do IPO, quando as empresas gerenciam os resultados mais intensamente. No período do IPO, a diferença na média das acumulações discricionárias correntes entre as empresas com e sem investimento de PE/VC é significativa: 3% dos ativos totais contra 11,32%, respectivamente. Os resultados encontrados sugerem que as empresas investidas por PE/VC não apenas apresentam menores níveis de gerenciamento de resultados, mas, de fato, não apresentam qualquer evidência desta prática em todas as fases do processo do IPO, ao contrário das companhias sem investimento de PE/VC.
Na análise das características dos conselhos de administração (CA), também foram encontrados impactos positivos do financiamento por PE/VC. Há evidências de que as empresas investidas por PE/VC possuem conselhos de administração mais independentes da gestão, em comparação às demais empresas da amostra. A proporção de membros executivos e instrumentais, estreitamente relacionados à administração, é menor entre o grupo de companhias do portfólio dos fundos de PE/VC, enquanto a participação relativa de conselheiros com a função de monitoramento é substancialmente maior. Além disso, há indícios de uma menor probabilidade de acúmulo das funções de diretor presidente (CEO) e presidente do CA entre as companhias investidas por PE/VC, o que confere maior objetividade e efetividade ao processo de avaliação da gestão. Em síntese, os resultados da pesquisa corroboram a hipótese de que as organizações de private equity e venture capital trazem benefícios importantes para as empresas que recebem seus investimentos. (Sabrina P. Ozawa Gioielli é mestre em administração de empresas pela FGV- EAESP, sabrina.gioielli@gmail.com)