Edição 193
Alocação de recursos em private equity ainda é baixa no Brasil, mas deve
crescer com a queda na taxa de juros
A queda paulatina da taxa de juros nos últimos anos, apesar dos dois
aumentos em 0,5 ponto realizados nas últimas reuniões do Comitê de
Política Monetária (Copom), tem criado dificuldades para os fundos de
pensão baterem suas metas atuariais. Com a expectativa de que a Selic
volte a cair dentro de algum tempo, as fundações estão tendo que partir
mais para o risco a fim de alcançar suas metas. Dentro desse contexto, se
destaca o private equity, que deve atrair cada vez mais os recursos dos
fundos de pensão nos seus mais diversos segmentos, por ser um
investimento de longo prazo e sem correlação com outras carteiras como
renda fixa e ações.
Para Luiz Eugênio Junqueira Figueiredo, presidente da Associação
Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap), as fundações
precisam se posicionar desde já para investir nessa carteira. “É provável
que ainda ocorram mais algumas elevações na Selic, mas a tendência é
que volte a cair, e quando isso acontecer elas têm que estar preparadas”,
diz. Alguns fundos já começam a destinar uma parte estável de seu
patrimônio para o private equity, transformando em padrão o que era
ocasional. Mas boa parte dos investidores institucionais ainda não investe
nessa classe de ativos – só os fundos maiores e mais sofisticados.
Nos Estados Unidos e na Europa, a participação do segmento de private
equity fica em torno de 8% a 10% da carteira dos fundos de pensão,
chegando a 20% em alguns casos. No Brasil, os números são tímidos:
apenas cerca de 1% do patrimônio das fundações é aplicado em
participações. “Se todos os fundos elevarem em 1% seus investimentos
em private equity já será um aumento enorme no total”, diz Paulo
Henrique, sócio-responsável pela área de private equity da Mercatto. Ele
também acredita que dentro de dois a cinco anos todas as instituições
terão uma parcela de seu patrimônio investido na carteira. “Vai haver um
crescimento muito grande, principalmente porque a base é pequena”,
afirma.
Mas os fundos de pensão já estão atentos a esse mercado. A Valia
planeja elevar dos atuais 3% para 5% a parcela de seu patrimônio de R$
10,5 bilhões investida em participações. Segundo Maurício da Rocha
Wanderley, diretor financeiro da Valia, a instituição iniciou uma política de
private equity há bastante tempo. “O primeiro ciclo foi em 1998, com a
participação em três fundos, e temos um histórico de bons retornos
mesmo com a taxa de juros alta.” No momento, a entidade participa de
seis fundos e está prospectando um aporte em mais dois, ambos de
setores diversificados, iniciando o segundo ciclo.
A Mercatto também acredita nessa diversificação dos setores. “Os fundos
de pensão têm demonstrado bastante interesse desde o setor de energia,
passando por estradas, portos e commodities, até o ramo da
sustentabilidade”, avalia Henrique. Mas hoje em dia, o principal segmento
para as fundações é o de infra-estrutura. “No geral, os fundos de pensão
preferem o setor de infra-estrutura, mas com a asset investem mais nos
ramos de alimentos e bebidas”, diz o sócio da Mercatto.
Funcef – Já a Funcef quer olhar para áreas novas no mercado de private
equity. A fundação conta com uma carteira bem diversificada de fundos,
investindo em alimentos e bebidas, tecnologia da informação, varejo,
biocombustíveis, logística e saneamento, e agora analisa o aporte em
fundos cujo ativo é de lastro imobiliário, ou seja, uma Sociedade de
Propósito Específico (SPE) que vai promover o desenvolvimento imobiliário
de uma região, além de estar mirando também os setores de educação e
saúde. “É importante diversificar porque enquanto um setor vai mal outros
podem ter bom desempenho”, afirma Carlos Alberto Rosa, gerente de
participações da Funcef.
O patrimônio da instituição investido em private equity cresceu de R$ 300
milhões no final de 2007 para R$ 800 milhões em junho de 2008. Isso
sem contar os R$ 900 milhões em fundos comprometidos, mas não
investidos totalmente, levando à soma de R$ 1,7 bilhão, o que representa
uma parcela de 5% no patrimônio de R$ 34 bilhões da Funcef. Segundo
Rosa, se a economia mantiver o crescimento de 5% ao ano e a Selic ficar
abaixo dos patamares atuais, é provável que algumas fundações, pelo
menos as maiores, cheguem a 7% do patrimônio investido nesse
setor. “Os fundos pequenos também vão nessa direção, só que menos
agressivos, com limites de 2% ou 3%”, estima ele.
Mas essa onda de private equity exige alguns cuidados, principalmente na
escolha do gestor. “Além disso, os fundos de pensão terão que se
aproximar das melhores práticas internacionais”, diz o presidente da
Abvcap, que não se assusta com a chegada dos institucionais estrangeiros
por conta do investment grade. “Acredito que temos todos os pilares
necessários para competir com os fundos de fora”, afirma.