Muito além do capital

Edição 193

Em busca de crescimento, maior profissionalização de seus negócios e de
reposicionamento no mercado, empresas de diversos portes e segmentos
procuram investimentos em private equity

Agregar recursos e conhecimentos, visando o crescimento acelerado e a
sustentabilidade da empresa. Com este objetivo, companhias de diversos
portes e dos mais variados setores vem buscando investimento via private
equity para dar um “up grade” em seus negócios. A vantagem da entrada
destes fundos na empresa advêm da elevada experiência dos
investidores, aliada à participação direta na gestão, permitindo maximizar
o valor da empresa.
Além do capital necessário para permitir o seu crescimento e dar abertura
para novas formas de financiamento, o investimento de um fundo de
private equity, possibilita às empresas novas capacitações de gestão
empresarial e financeira, além de aplicar as mais importantes práticas de
governança corporativa, que implica, por exemplo, na formação de um
conselho de administração. A boa governança aprimora a qualidade da
gestão, gera mais transparência à empresa, aumenta a credibilidade e
melhora a sua imagem e poder institucional.
Segundo Dalton Schmitt Jr, diretor executivo da CRP, uma das pioneiras
no Brasil na gestão de fundos de investimento de private equity e venture
capital, a demanda por parte das empresas por investimentos de fundos
de PE está bastante intensa. “De um lado, temos empresários com visões
cada vez mais agressivas de crescimento dos seus negócios e avaliando
alternativas de financiamento via private equity. De outro, diversos
gestores e novos fundos em estruturação competindo por negócios, em
todos os níveis”, declara.
Schmitt revela que a CRP é procurada por todo o tipo de empresas, mas
afirma que a gestora nunca teve uma orientação setorial, pois prioriza
mais o empresário e a oportunidade em si. Ele conta que as empresas
buscam, além do capital, alguém que traga uma nova visão e novas
técnicas relativas ao processo de crescimento, além de buscar por
aquisições e que dê início ou amplie a profissionalização e que introduza
mecanismos de performance de gestão. “Enfim, uma influência positiva no
crescimento e no preparo da empresa para alcançar novos patamares de
crescimento”, diz.
O diretor ainda acrescenta que a CRP tem olhado projetos de
investimentos de diversos portes, mas diz que para se tornar atrativa aos
olhos do investidor é preciso que a empresa tenha um projeto sólido de
crescimento e rentabilidade, que esteja em um mercado grande e com
oportunidades visíveis, e que haja comprometimento dos empresários,
além de visão e talento para executar o projeto. Atualmente a gestora
conta com 15 companhias em seu portfólio.

Acionistas – Os investimentos de private equity são realizados via o aporte
de capital nas empresas, pela aquisição de ações ou títulos de dívida
conversíveis em ações. Desta forma, os investidores tornam-se acionistas
destas empresas, e podem participar ativamente da estratégia e
orientação dos negócios da companhia.
Para Miguel Noronha, diretor executivo do AG-Angra, faz pouco tempo que
as empresas estão reconhecendo os benefícios gerados por um fundo de
private equity para o crescimento e a sustentabilidade de seus negócios,
em especial num contexto de pouca disponibilidade de financiamento por
dívida. “A verdade é que se verifica hoje um notável crescimento do
interesse de empresas de diversos portes e setores por private equity”,
afirma. Para Noronha, o setor de infra-estrutura está bastante aquecido e
sub-capitalizado por outro lado. “Isso resulta num pipeline diversificado de
oportunidades, o que também se reflete de forma positiva para a gestora
e para o nosso fundo AG Angra Infra-Estrutura FIP, que encontra-se
totalmente captado e em plena fase de investimento”.
O regulamento desse fundo determina volumes de aportes entre R$ 20 e
R$ 140 MM, podendo também evoluir para co-investimento com parceiros
estratégicos e outros investidores. “Seja qual for o modelo, o fundo busca
investimentos em que possa exercer posição de controle, de forma
compartilhada ou não”, afirma Noronha, que lembra que o fundo também
pode participar em projetos específicos de infra-estrutura, inclusive
greenfields, contando para tanto com veículos apropriados num modelo
SPE – sociedade de propósito específico. O fundo já realizou investimentos
nas empresas TG Agroindustrial e NovaAgri.
Noronha revela que as companhias que procuram o AG-Angra desejam
parceiros que estejam profundamente comprometidos com o crescimento
do negócio. “Isto implica que cada vez mais o potencial aporte de capital
de um fundo de private equity deve ser acompanhado de efetivo
conhecimento do negócio, da capacidade de gestão e de uma sólida
reputação, como forma de agregar valor à empresa”. Ele ainda acrescenta
que não necessariamente o gestor de fundo deve estar envolvido no corpo
executivo da empresa “ao contrário, encoraja-se que ele exerça este
papel através de mecanismos de governança, tal como um Conselho de
Administração consistente e ativo”, diz.
O investimento em venture capital e private equity se apresenta como
uma alternativa de financiamento de longo prazo e consiste em
compartilhar os riscos do negócio, através da parceria entre gestores e
investidores para agregar valor à empresa investida. O gestor injeta
capital e profissionaliza a companhia para, no momento certo, vender a
sua participação com lucro. Os investimentos podem ser feitos em
qualquer setor que apresente perspectiva de grande crescimento e
rentabilidade ao longo prazo, de acordo com o foco de investimentos
definido pelos investidores ou fundos. Enquanto o venture capital está
relacionado a empreendimentos em fase inicial, o private equity está
ligado a empresas mais maduras, em fase de reestruturação,
consolidação e/ou expansão de seus negócios.
Os gestores de Venture Capital e Private Equity comprometeram, até julho
de 2007, US$ 16,72 bilhões em mais de 400 empresas, de acordo com a
pesquisa GVcepe/Endeavor. Em 2004, esse valor era de apenas US$ 5,58
bilhões.
Através do VC/PE, pequenas e médias empresas que pretendem
transformar-se em grandes companhias, passam a dispor de
oportunidades adequadas para financiar o seu crescimento, com apoio
para a criação de estruturas adequadas de governança corporativa, foco
no crescimento e lucratividade, bem como na sustentabilidade futura do
negócio.

Frigorífico – Foi o que aconteceu com o Frigorífico Mercosul, que após
receber o aporte do fundo de private equity do AIG teve um
reposicionamento no mercado e ganhou forças para implementar um
projeto de crescimento com diversificação geográfica além de ter tido uma
maior profissionalização e reforço da governança corporativa.
Para Claudinei Perez, diretor financeiro do Frigorífico, o benefício adquirido
com este tipo de capital foi duplo. “O investimento aumentou nosso
patrimônio líquido, melhorou nossa bancabilidade e possibilitou um maior
grau de alavancagem, além de ter melhorado a imagem da empresa, que
passou de player regional no Rio Grande do Sul para player nacional”,
ressalta.
Perez também afirma que muita coisa mudou na empresa após o
investimento. Ele cita a mudança de sede, de Bagé para Porto Alegre, as
alterações na Diretoria e nos procedimentos e melhorias nos controles,
bem como a estruturação do Conselho de Administração, com reuniões
mensais, estabelecendo o novo papel da diretoria com foco na execução
da estratégia definida no Conselho de Administração.

Dasa – Outra empresa beneficiada por private equity foi a DASA –
Diagnósticos da América – investida pelo Fundo Pátria Investimentos, do
Banco Pátria. Para Tharso Bossolani, gerente de relações com investidores
da DASA o aporte ajudou a profissionalizar ainda mais a gestão,
agregando valor nas aquisições e introduzindo a estratégia financeira de
venda da participação.
Bossolani ainda destaca que a gestão profissionalizada e a presença de
auditores independentes presentes na empresa há 15 anos ajudou os
gestores de private equity a eleger a companhia para o aporte. “Foi um
ponto a favor, pois traz mais confiança ao investidor”, ressalta.
Em 1998 a DASA tinha um faturamento de R$ 71 milhões, quando fez a
junção com o private equity para faturar quase R$ 500 milhões, quando
fez o IPO em novembro de 2004. Em 3 anos a empresa mais que dobrou
de tamanho. O faturamento projetado para este ano, segundo conceito de
mercado, é de quase R$ 1,2 bilhões. “A cultura de private equity é voltada
a resultado e a crescimento e tem objetivo muito claro de onde quer
chegar e isso foi passado a empresa. Compartilhamos da mesma visão
estratégica e visão de mercado que o Pátria teve”, afirma Bossolani.
O VC/PE também ajuda a viabilizar a ida das companhias à bolsa. Dos 72
IPO´s na Bovespa, de 2004 ao primeiro semestre de 2007, 28 foram de
companhias investidas por este tipo de capital, segundo o GVcepe. Nesse
contexto, vale lembrar o caso da Lupatech, que recebeu investimentos via
venture capital e private equity e em maio de 2006 ingressou no Novo
Mercado da Bovespa, integrando o Índice de Ações com Governança
Corporativa Diferenciada (IGC). No primeiro dia de negociação, as ações
tiveram alta de 6% e a empresa arrecadou, junto com os seus acionistas,
um total de R$429,4 milhões, valor acima do estabelecido pela empresa
no prospecto da oferta, entre R$300,00 milhões e R$ 400,00 milhões.