Edição 193
Com a tendência de queda nas taxas pagas pelos bancos nos CDBs, estes
fundos voltam ao radar dos fundos de pensão
A atratividade dos Certificados de Depósito Bancário (CDB), cujas taxas
saltaram para algo em torno de 104% do CDI em bancos de primeira
linha e até 107% em bancos de segunda linha, ofuscou um pouco o brilho
dos Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (Fidc) no primeiro
semestre deste ano. Contudo, a expectativa é de que já no segundo
semestre a situação comece a se inverter. “O impacto dos CDBs é
temporário, suas taxas já estão caindo e voltarão à normalidade logo”,
avalia Carlos Fagundes, diretor da Integral Trust.
Nos últimos meses, a maior parte dos clientes para os quais Fagundes
ligou oferecendo aplicações em Fidc não se mostraram muito
interessados, pois estavam confortáveis com as taxas pagas pelo
CDB. “Mas agora a demanda já está retomando”, conta ele. Para
Alexandre Zákia, diretor de produtos de investimento e clientes
institucionais do Itaú, outro problema para os FIDCs foi que a elevação da
taxa de juros, que encareceu os novos fundos e fez com que alguns
cedentes postergassem os lançamentos.
Apesar disso, para o médio prazo os FIDCs continuam sendo uma boa
alternativa de diversificação dos investimentos em renda fixa. “O CDB é a
grande estrela do momento, mas existe espaço para o Fidc desde que
seja bem estruturado e tenha um prêmio adequado”, avalia Zákia. “A
demanda dos fundos de pensão está ligada a oferta, ou seja, ao prêmio e
à qualidade do Fidc.
Mas o apetite das fundações por esse tipo de investimento poderia ser
melhor, na opinião de Bruno Amadei, diretor de gestão da CredCapital. “O
interesse é crescente, mas com uma postura bastante cautelosa”, analisa.
Para ele, mesmo desconsiderando a conjuntura de curto prazo, do ponto
de vista do risco um fundo de crédito bem estruturado é mais interessante
ao investidor do que um CDB. “Um Fidc tem o risco pulverizado, já num
ativo de crédito não estruturado o risco está ligado ao emissor”, explica.
Como a estrutura de um Fidc nunca é igual a outra, existe a necessidade
de uma análise de risco cuidadosa, o que demanda recursos e uma
equipe de analistas e de advogados para avaliar os aspectos jurídicos do
fundo. Por isso, segundo Amadei, algumas fundações preferem delegar
essa tarefa para os gestores de suas carteiras, ou porque não dispõem de
estrutura de análise de risco ou porque se sentem mais confortáveis em
terceirizar esse serviço. Ele identifica três categorias de fundações quando
o assunto é Fidc: 1) as que têm uma política de investimentos com
restrições; 2) as que estão num processo de aprendizagem nesse
investimento; 3) as que preferem fundos atrelados a índices de preços
iguais ou parecidos com o de sua meta atuarial.
Diversificação do portfólio – A Derminas pode ser colocada no segundo
time. Com cerca de 10% de seu patrimônio de R$ 245,8 milhões aplicados
em FIDCs, a fundação tem planos para aumentar esse percentual para
15%. Isso será conseqüência de uma reformulação dos investimentos que
o fundo de pensão está realizando. Segundo Adilson Andrade Soares,
gerente de investimentos da Derminas, em abril deste ano a fundação
zerou sua posição em fundos multimercados mais “agressivos” (aqueles
enquadrados no limite de 3% das aplicações segundo a Resolução 3.456)
e prepara-se para reduzir sua exposição em renda variável, dos atuais
41,8% para cerca de 35% da carteira. São esses recursos que serão
realocados em FIDCs e títulos públicos.
Os FIDCs que a Derminas tem hoje em carteira são dos setores de créditos
ao consumidor e financiamento de veículos, mas o objetivo é diversificar o
portfólio a partir do aumento da exposição nessa classe de ativos. “Já
começamos a ver outros segmentos, como agronegócios, crédito a
empresas e saúde. Temos recebido algumas propostas nessas áreas e
vamos avaliar neste segundo semestre”, conta.
Outro fundo de pensão que gosta bastante desse tipo de investimento é a
Economus. A fundação investe em FIDCs há dois anos e hoje tem R$ 60
milhões (2% do patrimônio de aproximadamente R$ 3 bilhões) alocados
em nove fundos nos segmentos de consignado em folha, veículos e
energia. A análise dos FIDCs é feita pela equipe interna, com o suporte da
análise de rating de uma agência de risco. O rating mínimo aceitado é AA
e o nível de subordinação das cotas, igual ou superior a 20%. “Analisamos
o prazo de vencimento, o nível de inadimplência, a história do fundo e por
onde transita o recurso”, explica Paulo Leite Julião, diretor financeiro da
Economus. Para ele os FIDCs são ativos atrativos para a diversificação da
carteira de renda fixa pela relação entre risco e retorno que oferecem.