Edição 189
Gestão externa completa um ano
Com montante de R$ 160 milhões em debêntures da antiga Ficap (atual SAM Indústria) não liquidadas desde 98, os dirigentes da Fundação Braslight fazem questão de manter internamente a análise de risco de crédito de debêntures e outros títulos privados, como FIDCs. Mesmo com a terceirização da gestão, que completou um ano no início de 2008, a entidade não abriu mão dessa estratégia. “Nossa política de investimentos é bastante aberta e não interferimos nas escolhas dos gestores. Mas no caso desses ativos privados, a análise de risco também é feita por nossa equipe interna e a decisão passa pelo Comitê de Investimento”, afirma o presidente da Braslight, Márcio Jardim.
Lembrando o velho ditado que diz que gato escaldado tem medo de água fria, o executivo também busca outros argumentos para o receio em torno do risco de crédito de papéis de empresas não-financeiras. “Em muitos casos, o pequeno adicional na rentabilidade não compensa o risco do investimento. Além disso, o momento é complicado. O mercado sofreu uma mutação grande e ainda vai levar uns dois anos para termos um panorama mais seguro, inclusive de como ficará o segmento de títulos privados”, acrescenta.
Mais do que compreender a preocupação dos dirigentes da Braslight, gerada pelo histórico das debêntures, os gestores trataram de agir logo.
No final do primeiro exercício em que assumiram a gestão reduziram de 70% para 47% a participação dos títulos privados no total da carteira de renda fixa. Também contribuiu para isso o fato de que, pouco antes da terceirização, a fundação aumentou a compra de Certificados de Depósito Bancário (CDBs) com liquidez imediata para que os gestores pudessem decidir a alocação sem problemas, conforme o presidente da entidade. “As aplicações em CDBs são sempre feitas apenas em bancos de primeira linha”, informa. Na carteira de renda fixa, os investimentos em debêntures e CDBs diminuíram em mais de R$ 180 milhões em um ano, para R$ 368,3 milhões no balanço de 2007.
Os esforços dos gestores para a diversificação dos investimentos se deram, então, na direção da bolsa de valores, já que a fundação não tinha nada em ações na carteira. Com isso, chegou ao final do ano com R$ 90,7 milhões em ações e um total de R$ 135 milhões em renda variável. A participação da renda variável aumentou de 5% para 14,2% e a da renda fixa caiu de 88% para 81%, entre 2006 e 2007.
Com as movimentações realizadas, o único investimento em debêntures que a Braslight mantém em carteira é mesmo o lote da antiga Ficap, comprado em 1994 quando a fundação estava sob intervenção. Por causa desse ativo, a entidade também encontra-se desenquadrada do limite permitido pela legislação, porque detém 30,26% da série emitida, enquanto o máximo hoje é de 25%. Esse desenquadramento só poderá se resolver com o final da ação judicial, que se arrasta por vários anos e obriga a Braslight a manter provisões para perdas.
Controles – Além da análise de risco de crédito de alguns papéis, a Braslight também optou por manter internamente o controle de todas as movimentações realizadas na área de investimento. “Entregamos a direção do ônibus para o gestor, mas não os controles. Com isso, conseguimos um custo menor e um nível de controle absurdamente maior”, comenta Jardim. No primeiro ano da gestão externa, a rentabilidade foi de 15,26% no plano A/B e de 15,33% no plano C, ante as metas atuariais de 12,88% e 12,95% respectivamente.
Os investimentos, que hoje somam cerca de R$ 1,1 bilhão, estão divididos entre seis gestores externos que administram um total de 16 carteiras: oito para cada um dos dois planos mantidos pela fundação, sendo três em renda variável, três em renda fixa e dois em multimercados.