Análises têm foco mais pontual

Edição 183

Proximidade do investment grade aumenta risco para quem protelar
decisões por causa de crises externas

A turbulência nos mercados financeiros em todo o mundo, que ninguém
arrisca dizer que está sob controle, não chegou a afetar o caminho do
Brasil em direção à categoria de investment grade e, por isso mesmo,
fortaleceu a visão de que os fundos de pensão precisam continuar
buscando boas oportunidades em busca de maior rentabilidade. “O Brasil
caminha fortemente para ter o investment grade e a tendência de queda
de juros é inquestionável”, afirma o diretor do UBS Pactual, Sérgio Cutolo.
Por essa razão, ele acredita que a volatilidade nos mercados não vai
conter o processo de migração dos investimentos das fundações de
previdência complementar para o mercado de ações, fundos de ações ou
fundos multimercados em busca de maior rentabilidade. “O cenário
internacional de volatilidade acaba fazendo com que o investidor,
principalmente o de médio e longo prazo, se retraia um pouco, fique mais
cauteloso, mas o jogo a partir de agora vai ser um jogo muito micro, de
análise pontual. Os grandes investidores terão que buscar as boas
oportunidades na crise, a partir de análises pontuais. Para cobrir as metas
atuariais, os fundos de pensão não têm outra saída a não ser incorporar
outros tipos de ativos, mais arriscados, porém mais valorizados do que os
títulos públicos”, avalia o executivo.
Apesar da volatilidade ter afetado as operações na Bovespa, Cutolo
acredita que o momento é oportuno para a movimentação dos recursos na
direção da renda variável. A relação entre o valor das empresas com
capital aberto e o lucro, que era de 11,7 vezes antes da crise de agosto
caiu para oito vezes nos dias de maior queda das ações. Mesmo voltando
ao patamar anterior, esse múltiplo ainda é muito baixo em comparação
com a média verificada nos países emergentes, em torno de 14
vezes. “Comparativamente aos países emergentes e ao histórico da
bolsa, percebe-se, então, que este é um ótimo ponto de compra, na
média das empresas. As ações das empresas no Brasil têm possibilidades
grandes de lucros na frente, pois estão precificadas abaixo de empresas
de outros países emergentes, estão apresentando resultados superiores
às previsões e aumento no consumo.”
Com a aproximação do investment grade, se os fundos de pensão
protelarem muito suas decisões e deixarem para montar as posições no
vencimento dos títulos do governo, dentro de um ou dois anos, poderão
enfrentar um cenário bastante desfavorável, na avaliação de Cutolo. “Hoje
já temos um problema de ativos, não há uma grande quantidade
disponível, então isso pode se agravar com o vencimento dos títulos
públicos. E ainda mais que estamos dentro de uma economia global e
hoje os investidores internos concorrem com os investidores lá de fora, os
investidores externos estão buscando ativos aqui de uma forma muito
agressiva, como ocorreu em vários IPOs. Então, deixar para montar
posições dentro de um ou dois ano, é correr um sério risco”, argumenta.