À moda da casa

Edição 177

Apesar de pertencer a um dos maiores grupos financeiros do mundo, que
cresceu ainda mais com a compra do Bank of New York, a Mellon Brasil
atua como uma boutique de investimentos

Ao final do ano passado, os principais jornais do mundo noticiaram que a
Mellon Financial e o Bank of New York, dois grandes nomes do mercado
financeiro norte-americano, estavam se juntando para criar um gigante
com ativos da ordem de US$ 16,6 trilhões sob custódia e cerca de US$ 1,1
trilhão sob gestão. Com a fusão, cujo processo ainda está sendo
examinado pelas autoridades dos EUA, o Bank of New York Mellon torna-
se o maior custodiante do mundo e um dos dez maiores em gestão de
recursos de terceiros.
Apesar disso, no Brasil, pouca coisa parece ter mudado para a equipe de
gestão da Mellon. O principal executivo da asset, Delano Franco, passou a
virada do ano mais preocupado com as medidas que o governo Lula
estava preparando e que foram lançadas recentemente através do Pacote
de Aceleração do Crescimento (PAC), do que com as repercussões da
fusão internacional. “A Mellon tem um modo bastante peculiar de
funcionar, a gente tem muita troca de informações com as unidades dos
outros países mas cada qual mantém uma relativa independência entre
si”, diz. “Seguimos um modelo de boutique de investimentos, cada qual
funciona com um avançado grau de independência”.
Ele acha que esse é o pulo do gato na área de gestão de recursos, ter
uma estrutura internacional mas ao mesmo tempo manter equipes locais
que operem como se fossem boutiques. As prioridades de cada unidade,
nesse caso, podem ser bastante diversas. Para a asset de Hong-Kong, por
exemplo, a preocupação central pode ser a desaceleração da economia
dos Estados Unidos, enquanto para a asset espanhola pode ser a inflação
européia.
No momento, a queda da taxa de juros é a principal preocupação da
Mellon brasileira. “A queda da taxa de juros irá mudar o cenário de
investimentos no Brasil. Será, para os fundos DI, o que foi o fim da
inflação para a caderneta de poupança”, diz Franco. Isso já está
acontecendo. Segundo dados da Anbid, o volume de recursos aplicados
em fundos DI passaram de R$ 168,2 bilhões em julho de 2006 para
modestos R$ 170 bilhões em 31 de janeiro. Em compensação, as
aplicações em fundos multimercados cresceram de R$ 154,5 bilhões para
R$ 215 bilhões no mesmo período, ou 39,6%.
“Nossa aposta básica para 2007 é em fundos multimercados”, explica
Franco. Ele tem razões para acreditar que esses fundos continuarão a
crescer neste ano no Brasil, como vem acontecendo há cerca de cinco anos
nas principais economias do mundo. A principal razão para isso é a queda
da taxa de juros, que fará com que as aplicações nos fundos DI rendam
menos do que o CDI e levará os investidores a correrem um pouco mais
de risco em busca de maiores retornos. A tendência é irem para a renda
variável. Muitos já estão fazendo isso.
Mas a maioria, pouco familiarizada com os riscos da renda variável, deve
ir se aclimatando aos poucos ao cenário de mais risco, buscando para isso
o ambiente dos fundos multimercados. “Esse será o ano do
multimercado”, garante Franco. “Os institucionais e os super-ricos das
family-offices vão seguir nessa direção”.

Estrangeiros – Outra tendência deste ano será o aumento das aplicações
dos investidores estrangeiros em fundos brasileiros. Os fundos da Mellon
Brasil começam a ser cada vez mais requisitados por investidores
internacionais, através das outras unidades da empresa. Os estrangeiros
estão olhando para um país que está acumulando reservas rapidamente,
está conseguindo pagar sua dívida externa e reduzir a dívida interna.
Além disso, a economia está estabilizada, a taxa de juros está em queda
e o país deve virar investment grade em dois anos. “É por isso que eles
estão comprando Brasil”, afirma Franco.
Ampliar o relacionamento com esse aplicador internacional, através da
rede da Mellon Financial Corporation e agora também do Bank of New
York, será um dos objetivos da asset. “Além do nome global, eles
compram a expertise da equipe local”, diz Franco.
Entre outras coisas, a equipe da Mellon tem desenhado para este ano
novos fundos de ações e produtos com risco de crédito, acompanhando a
tendência dos investidores de buscar mais risco. Também está na pauta
da empresa estudar carências para os novos fundos, algo que já começa a
ser adotado pela indústria de gestão. Por exemplo, um dos fundos da
Mellon, o Income 10, leva 10 dias para creditar o resgate caso o volume
de saques daquele dia supere 10% do volume. Há uma idéia de se criar o
Income 30, com carência de 30 dias para todos os resgates.

Clientes – A Mellon fechou o ano passado com nove fundos abertos (2 de
renda fixa, 3 multimercados, 1 long-short, 2 de ações e 1 cambial). Do
total de recursos administrados, cerca de 1/3 vem dos fundos de pensão,
1/3 de family-office e clientes private e 1/3 da área de varejo, através de
distribuidores. A equipe da asset é formada por cerca de trinta pessoas,
das quais 12 estão na equipe de gestão – quatro delas participam direta-
mente dos comitês dos multi-mercados, tomando as decisões de forma
conjunta.
Para Franco, manter a integração entre a equipe é um desafio.
É isso que ele busca fazer, incentivando as pessoas a darem opiniões e
fazendo com que as decisões dos comitês de investimentos sejam
tomadas sempre por consenso. “Para que uma decisão seja tomada,
todos precisam estar convencidos de que ela é a melhor para o fundo”,
diz. “Fazer com que isso aconteça diariamente é a mágica de uma boa
gestão”.

Fundo excelente
O Target FI Multimercado da Mellon foi novamente selecionado pela PPS
como um fundo Excelente para investidores institucionais, pela
combinação de risco e performance apresentada no período de 12 meses
encerrado em 31 de dezembro último (ver ranking na página
36). “Estamos totalmente adaptados à Resolução 3.121, não fazemos day-
trade nem operamos com derivativos”, explica Delano Franco, principal
executivo da asset.
O Target rendeu 18,64% em 12 meses, representando 123,98% do CDI
do período. No período de 6 meses, até dezembro do ano passado, o
fundo rendeu 8,08%, representando 119,83% do CDI.